Uma nuvem o seguiu, centenas de uma vez, e Modular aumentou a velocidade, mantendo a direção sul, tentando levá-los para longe, voadores mortos caindo como folhas quando ele atirava pequenas rajadas para trás. Mais e mais dos orbitais eram atraídos para a perseguição. As criaturas não pareciam muito inteligentes. Desviando e contorcendo-se, ficando pouco à frente da nuvem esvoaçante, logo o androide tinha milhares dos voadores em seu encalço. Passou por sobre uma elevação e viu o hospedeiro do Enxame à sua frente. Por um momento, seus sensores foram devastados pelo sinal descomunal.
Um exército de criaturas avançava numa onda curvada, um crescente de ângulo acentuado apontando para Princeton, ao norte. O ar ficou cheio de rangidos, farfalhares, quando o Enxame aplainou a rota até a cidade — casas, árvores, prédios de escritórios, tudo —, terraplenando o que estivesse no caminho. O androide subiu, fazendo cálculos, os voadores gemendo e ondulando logo atrás dele. O hospedeiro movia-se rapidamente para fazer um serviço tão completo; o androide estimava entre 25 a 30 quilômetros por hora.
Modular teve uma boa ideia do tamanho médio da criatura do Enxame. Dividindo a emissão vasta de infravermelho por seus componentes, concluiu que observou um mínimo de 40 mil criaturas. Mais se juntavam ao grupo a todo momento. Havia ao menos outros 20 mil voadores. Os números eram insanos.
O androide, diferentemente de um humano, não poderia duvidar de seus cálculos. Alguém tinha de ser informado sobre aquilo que o mundo enfrentaria. As armas acopladas aos seus ombros giraram para trás para permitir uma melhor aerodinâmica, e ele circulou de volta para o norte, aumentando a velocidade. Os voadores circularam, mas não conseguiram alcançá-lo. Começaram a voar de volta para Princeton.
Modular chegou a Princeton numa questão de segundos. Mil ou mais do Enxame penetraram na cidade, e o androide detectou a invasão constante de prédios, as rajadas esparsas de armas de fogo, e de um local o estouro, o estrondo e a explosão de armas mais pesadas. Ele rumou às pressas na direção do som.
O arsenal da Guarda Nacional estava sitiado. Uma das criaturas-serpentes, cortada ao meio por projéteis explosivos, contorcia-se na rua em frente, lançando para cima nuvens do gás lacrimogênio derramado. Predadores mortos e corpos humanos manchavam a paisagem em torno do prédio. Um tanque M60 estava tombado sobre o concreto à frente; outro bloqueava uma porta de aço de garagem, inundando o acesso com luz infravermelha. Três homens da Guarda, com equipamento de controle de tumultos completo com máscaras de gás, estavam no tanque atrás da torre de tiro. O androide lançou oito tiros efetuados com precisão, matando a onda de agressores, e passou voando pelo tanque, bem próximo dos soldados. Eles olharam para ele abismados através de suas máscaras. Atrás deles, uma dúzia de civis com armas e rifles de caça e, mais atrás, cerca de cinquenta refugiados. Em algum lugar no prédio, motores acionados explodiram.
— Quem está no comando?
Um homem usando uma insígnia de tenente levantou a mão.
— Tenente Goldfarb — disse ele. — Sou o oficial no comando. Que diabos está acontecendo?
— Você precisa tirar essas pessoas daqui. Alienígenas pousaram na cidade.
— Não achei que fossem chineses. — Sua voz ficava abafada pela máscara de gás.
— Estão vindo de Grovers Mills nesta direção.
Um dos outros guardas começou a ofegar. Mal dava para reconhecer o som como uma risada.
— Igual à Guerra dos mundos. Ótimo.
— Cala a boca — Goldfarb endureceu com raiva. — Tenho apenas vinte dos efetivos aqui. Você acha que podemos detê-los no canal de Raritan?
— São no mínimo 40 mil deles.
Goldfarb despencou contra a torre.
— Vamos para o norte, então. Tentar chegar a Sommerville.
— Sugiro que se movam rápido. Os voadores estão voltando. Vocês os viram?
Goldfarb apontou para os corpos espalhados de alguns dos ondulantes.
— Bem ali. Gás lacrimogênio parece pará-los.
— Chefe, tem alguma coisa vindo dali. — Um dos soldados ergueu um lançador de granadas. Sem olhar, Modular disparou sobre os ombros dele e derrubou um bicho-aranha.
— Deixa pra lá — o soldado disse.
— Olhe — Goldfarb falou. — A mansão do governador é na cidade. Morven. Ele é nosso comandante-chefe, devemos tentar tirá-lo de lá.
— Posso fazer uma tentativa — disse o androide —, mas não sei onde é a mansão.
Sobre seu ombro, ele se livrou de uma lesma encouraçada e olhou para Goldfarb.
— Consigo voar com você nos braços.
— Certo. — Goldfarb pendurou sua M16 no ombro e deu ordens para os outros homens da Guarda Nacional levarem os civis para os carros blindados e depois formarem um comboio.
— Sem faróis — o androide disse. — Os voadores não devem perceber que vocês estão de prontidão.
— Temos equipamentos de infravermelho. Padrão nos veículos.
— Eu usaria ele. — Achou que estava sendo gramaticalmente correto.
Goldfarb terminou de dar as ordens. As tropas da Guarda Nacional apareceram de outras partes do prédio, carregando armas e munição. Veículos rastreados eram postos em movimento. O androide envolveu Goldfarb nos braços e partiu para o céu.
— Para o alto! — Goldfarb gritou. Modular entendeu que esta era uma expressão de aprovação militar.
Um farfalhar gigantesco no céu indicou que os voadores estavam de volta. O androide mergulhou, trançando entre casas destruídas e pedaços de troncos de árvores.
— Puta merda! — Goldfarb disse. Morven estava em ruínas. Não restava nada da mansão do governador. Não se via nada vivo por ali.
O androide devolveu o guarda ao seu comando, derrubando no caminho um grupo de vinte agressores que se preparava para atacar os quartéis-generais da Guarda Nacional. Dentro, a garagem estava cheia de descarga de escapamento de veículos. Seis viaturas de tropas e dois tanques estavam prontos. Goldfarb foi deixado próximo de uma viatura. O ar estrondava com o ruído dos voadores.
— Vou tentar atrair os voadores para longe — o androide disse. — Espere até o céu estar limpo antes de seguir adiante.
Ele partiu novamente para o céu, lançando rajadas curtas do laser, atirando na direção do céu que escurecia. Mais uma vez, os voadores rugiam atrás dele. Ele os levou novamente para Grovers Mills, vendo o vasto crescente do Enxame terrestre avançando em seu ritmo contínuo, espantoso. Ele voltou, deixando-os bem atrás de si, e acelerou na direção de Princeton. Abaixo, poucos voadores elevaram-se, perseguindo-o. Parecia que estavam jantando o cadáver de um homem que usava uma armadura de batalha complicada. A mesma armadura que Modular viu no Aces High agora manchada e escurecida por ácido gástrico.
Em Princeton, viu o comboio de Goldfarb abrindo caminho até a Highway 206 em um feixe de luz infravermelha e tiros de metralhadora. Refugiados, atraídos pelo som dos tanques e viaturas blindadas, agarravam-se aos veículos. O androide atirava o tempo todo, derrubando as criaturas do Enxame quando pulavam para atacar, suas energias sendo drenadas. Seguiu o comboio até parecer que estavam fora da área de perigo, quando o grupo teve de desacelerar pelo imenso congestionamento de refugiados que partiam para o norte.
O androide decidiu rumar para Fort Dix.
O tenente-detetive John F. X. Black, da delegacia do Bairro dos Curingas, não retirou de fato as algemas dos pulsos de Tachyon até estarem fora do gabinete do prefeito. Os outros detetives mantinham as espingardas a postos.