"Que Fim Levou 'Que Fim Levaram os Golfinhos'" daqui a uns dois anos, lá para agosto. Mas... agora? Fazer o quê? "Os Golfinhos Continuam Sumidos"? "A Ausência dos Golfinhos Continua"? "Golfinhos - Mais Dias sem Eles"? A história morre, Arthur. Ela tomba no chão e sacode os seus pezinhos para cima e logo, logo vai para a grande espiga dourada no céu, meu velho morcego.
- Murray, eu não estou interessado se existe ou não uma história. Só quero saber como faço para entrar em contato com aquele cara na Califórnia, que diz saber alguma coisa sobre o assunto. Pensei que você pudesse me ajudar.
capítulo 28
- As pessoas estão começando a falar - disse Fenchurch naquela noite, depois de eles terem subido o violoncelo para dentro.
- Não só a falar - respondeu Arthur -, mas a publicar, em letras garrafais, logo abaixo dos prémios da loteria. É por isso que eu achei melhor providenciar isso aqui. Mostrou a ela os dois talões longos e estreitos das passagens áreas.
- Arthur! - exclamou, abraçando-o. - Isso quer dizer que você conseguiu falar com ele?
- Tive um dia - disse Arthur - de extrema exaustão telefónica. Falei com absolutamente todos os departamentos de absolutamente todos os jornais na Fleet Street até finalmente conseguir o telefone do sujeito.
- Você obviamente trabalhou demais, está encharcado de suor, pobrezinho.
- Não é suor - disse Arthur, exausto. - Um fotógrafo acabou de sair. Eu tentei argumentar, mas... deixa pra ia, fato é que sim.
- Você falou com ele.
- Falei com a mulher dele. Ela me disse que ele estava esquisitão demais para atender o telefone e pediu para eu mais tarde.
Arthur sentou-se pesadamente, percebendo então que esta va esquecendo de alguma coisa e foi até a geladeira buscar.
- Quer um drinque?
- Mataria alguém para conseguir um. Sempre sei que estou perdida quando o meu professor de violoncelo me olha de cima a baixo e diz: "Pois bem, minha cara, que tal um pouquinho de Tchaikovsky hoje..."
- Eu liguei novamente - disse Arthur - e ela me disse que ele estava a 3.2 anos-luz do telefone e que era para eu tornar a ligar mais tarde.
- Ah.
- Aí eu liguei de novo. Ela disse que a situação estava um pouquinho melhor. Ele já estava a apenas 2.6 anos-luz do telefone, mas ainda estava muito longe para gritar.
- Você não acha - perguntou Fenchurch, meio incerta - que podíamos falar com uma outra pessoa?
- Ainda não terminou - disse Arthur. - Eu falei com uma pessoa em uma revista científica que conhece o sujeito e ele me disse que John Watson não apenas acredita como tem provas concretas, frequentemente ditadas para ele por anjos com barbas douradas, asas verdes e usando sandálias ortopédicas do Dr. Scholl, que a teoria popular mais absurda do momento é
verdadeira. Para as pessoas que questionam a veracidade dessas visões, ele triunfantemente apresenta as sandálias em questão, e a coisa não passa disso.
- Não sabia que era tão ruim assim - Fenchurch resmungou baixinho. Ela estava brincando distraidamente com as passagens.
- Bom, liguei para a Sra. Watson novamente - prosseguiu Arthur. - Aliás, talvez te interesse saber que ela é conhecida como Jill, a Enigmática.
- Entendo.
- Ainda bem que você entendeu. Fiquei com medo de você não acreditar em nada disso; então, quando eu tornei a ligar, usei a secretária eletrônica para gravar a conversa. Foi até a secretária eletrônica, mexeu para lá e para cá, apertando todos os botões por um tempo, porque aquele aparelho que havia sido especialmente recomendado por uma revista especializada e era quase impossível usá-lo se enlouquecer.
- Aqui está - disse ele, finalmente, enxugando o suor da testa A voz era fina e quebradiça devido a sua viagem de ida e volta a um satélite geoestacionário, mas também era assustadoramente tranqüila.
- Talvez eu devesse explicar - disse a voz de Jill Watson, a Enimática - que o telefone na verdade fica em um quarto onde ele nunca entra. É no Asilo, sabe. Wonko, o São, não gosta de entrar no Asilo, então nunca entra. Acho melhor você ficar sabendo disso, para poupar o seu tempo e suas ligações. Se você quer encontrar com ele, isso pode ser facilmente providenciado. Você só precisa chegar aqui. Ele só encontra as pessoas fora do Asilo. Ouviram a voz de Arthur, completamente aturdido:
- Sinto muito, mas não estou entendendo. Onde fica esse Asilo?
- Onde fica o Asilo? - perguntou Arcane Jill Watson. - Você já leu as instruções nas caixinhas de palitos de dente?
Na gravação, a voz de Arthur teve de admitir que não.
- Faça isso. Talvez isso esclareça um pouquinho as coisas. Você vai ver que lá está
explicado onde é que fica o Asilo. Obrigada.
A linha ficou muda. Arthur desligou a secretária eletrônica.
- Bom, creio que a gente pode encarar isso como uni convite - disse ele, dando de ombros.
- Eu acabei conseguindo o endereço com o cara que trabalha na revista científica. Fenchurch olhou para Arthur novamente com uma expressão pensativa e depois para as passagens em suas mãos.
- Você acha que vale a pena? - perguntou ela.
- Bom - disse Arthur -, a única coisa com a qual todos concordam , além do fato de acharem ele completamente maluco, é que ele de fato sabe mais do qualquer outra pessoa sobre golfinhos.
capítulo 29
“Este é um aviso importante. Este é o vôo 121 para Los Angeles. Se os seus planos de viagem hoje não incluem Los Angeles, agora seria um bom momento para desembarcar.”
capítulo 30
Alugaram um carro em Los Angeles, em um desses lugares que alugam carros que as outras pessoas jogaram no lixo.
- É um pouquinho complicado conseguir que ele faça uma curva - disse o cara de óculos escuros, entregando a chave do carro para eles. - Às vezes, é mais fácil descer e pegar um carro que esteja indo na direção que vocês querem.
Pernoitaram em um hotel em Sunset Boulevard, seguindo o conselho de alguém que havia dito que eles iam gostar de se sentirem intrigados nele.
- Todo mundo lá ou é inglês, ou esquisito, ou os dois. E eles têm uma piscina onde você
pode assistir a roqueiros ingleses lendo Linguagem, verdade e lógica para os fotógrafos. E era verdade. Lá estava um deles e ele estava fazendo exatamente isso. O manobrista olhou com desdém para o carro deles, o que não era problema, já que eles faziam o mesmo.
Mais tarde, naquela noite, dirigiram por Hollywood Hill, passando por Mulholland Drive e pararam primeiro para contemplar o deslumbrante mar de luzes flutuantes que é Los Angeles, e, mais tarde, pararam novamente para contemplar o deslumbrante mar de luzes flutuantes que é
o vale de São Fernando. Concordaram que o deslumbramento cessou imediatamente no fundo dos seus olhos, não atingindo nenhuma outra parte dos seus corpos, e foram embora estranhamente insatisfeitos com o espetáculo. Em termos de mares espetaculares de luz até que aquilo era legal, mas a luz existe na iluminar alguma coisa e, tendo passado de carro pelas coisas que aquele espetacular mar de luz estava iluminando especificamente, eles não acharam nada demais.
Dormiram tarde, descansaram pouco e acordaram ao meio-dia, justo quando estava boçalmente quente.
Dirigiram pela auto-estrada até Santa Mônica, para verem o oceano Pacífico pela primeira vez, oceano esse que Wonko, o São, passava todos os seus dias, e uma boa parte das suas noites, contemplando.
- Alguém uma vez me contou - disse Fenchurch - que ouviu duas velhinhas na praia fazendo a mesma coisa que estamos fazendo, olhando para o oceano Pacífico pela primeira vez na vida. E, segundo contaram, após uma longa pausa, uma delas disse para a outra: "Sabe, não é