(9) Não esqueça o leitor que podemos ver através dos telescópios ópticos ou "ver" através dos radiotelescópios e contar as fontes de rádio (*N. do R.*).
Além disso, a maioria das galáxias encontra-se em aglomerados e podemos, assim, concluir que existe mais matéria escura por entre as galáxias nestes aglomerados pelo seu efeito no movimento das galáxias. Quando somamos toda esta matéria escura, continuamos a não obter mais do que um décimo da quantidade necessária para parar a expansão. Não devemos, porém, excluir a possibilidade da existência de outra forma de matéria, distribuída quase uniformemente através do Universo, que ainda não detectámos e que pode ainda aumentar a densidade média do Universo até ao valor crítico necessário para parar a expansão. A evidência actual sugere portanto que o Universo provavelmente se expandirá para sempre, mas apenas podemos ter a certeza de que, mesmo que venha a contrair-se de novo, tal não acontecerá pelo menos durante os próximos dez mil milhões de anos uma vez que tem estado a expandir-se pelo menos desde há :, outro tanto tempo. O facto não deve preocupar-nos muito: entretanto, a não ser que tenhamos colonizado para lá do sistema solar, a Humanidade há muito que terá desaparecido, extinta juntamente com o nosso Sol!
Todas as soluções de Friedmann têm a característica de, em certo momento no passado (entre dez e vinte mil milhões de anos), a distância entre galáxias vizinhas dever ter sido zero. Nesse momento, a que chamamos **bib bang**, a densidade do Universo e a curvatura do espaço-tempo teriam sido infinitas. Como a matemática não pode realmente lidar com números infinitos, isto significa que a teoria da relatividade geral (em que se baseiam as soluções de Friedmann) prediz que há um ponto do Universo onde a própria teoria falha. Esse ponto é um exemplo daquilo a que os matemáticos chamam uma singularidade. De facto, todas as nossas teorias científicas são formuladas na suposição de que o espaço-tempo deve ser liso e quase plano, de modo que falham na singularidade do **bib bang**, onde a curvatura do espaço-tempo é infinita. Isto significa que, mesmo que tivesse havido acontecimentos anteriores ao **bib bang**, não poderíamos utilizá-los para determinar o que veio a aconteeer depois, porque tudo o que se previsse falharia no momento do **bib bang**. Do mesmo modo, se, como é o caso, sabemos apenas o que aconteceu desde o **bib bang**, não podemos determinar o que aconteceu antes. Tanto quanto sabemos, os acontecimentos antes do **bib bang** não podem ter quaisquer consequências, pelo que não devem fazer parte de um modelo científico do Universo. Devemos, portanto, exclui-los do modelo e dizer que o tempo começou com o **bib bang**.
Muitas pessoas não gostam da ideia de o tempo ter um começo, provavelmente porque isso cheira muito a intervenção divina. (A Igreja Católica, pelo seu lado, agarrou-se ao modelo do **bib bang** e, em 1951, afirmou oficialmente que estava de acordo com a Bíblia). Houve, por isso, algumas :, tentativas para evitar a conclusão de que tinha havido um **bib bang**. A proposta que obteve mais adeptos foi a teoria do estado estacionário. Foi sugerida em 1948 por dois refugiados da Áustria ocupada pelos nazis, Hermann Bondi e Thomas Gold, juntamente com um inglês, Fred Hoyle, que tinha trabalhado com eles no desenvolvimento do radar, durante a guerra. A ideia advogava que, enquanto as galáxias se afastavam umas das outras, novas galáxias estavam constantemente a formar-se nos intervalos, a partir de nova matéria em criação contínua. O Universo, portanto, pareceria mais ou menos sempre igual em todos os momentos do tempo e em todos os pontos do espaço. A teoria do estado estacionário exigia uma modificação da relatividade geral que permitisse a criação contínua de matéria, mas a taxa de criação era tão baixa (cerca de uma partícula por quilómetro cúbico por ano) que não entrava em conflito com a experiência. A teoria era cientificamente boa, no sentido descrito no capítulo primeiro: era simples e permitia predições definidas que podiam ser testadas por observação. Uma dessas predições era que o número de galáxias, ou objectos semelhantes, em dado volume do espaço seria o mesmo donde e quando quer que se olhasse para o Universo. No fim dos anos 50 e no princípio dos anos 60 foi feito um levantamento das fontes de ondas de rádio do espaço exterior, em Cambridge, por um grupo de astrónomos dirigidos por Martin Ryle (que também tinha trabalhado com Bondi, Gold e Hoyle no radar, durante a guerra). O grupo de Cambridge mostrou que a maior parte das fontes de rádio se situava fora da nossa galáxia (na realidade, muitas podiam ser identificadas com outras galáxias) e também que as fontes fracas eram em muito maior número do que as fortes. Interpretaram as fontes fracas como sendo as mais distantes e as fortes como as mais próximas. Além disso, parecia haver menos fontes por unidade de volume de espaço no caso das fontes :, próximas do que no caso das distantes. Isto podia significar que estávamos no centro de uma grande região no Universo em que as fontes são menos do que em outra parte qualquer. Ou, alternativamente, podia significar que as fontes eram mais numerosas no passado, no tempo em que as ondas de rádio partiram na nossa direcção, do que são agora. Qualquer das explicações contradizia as predições da teoria do estado estacionário. Além disso, a descoberta da radiação de micro-ondas por Penzias e Wilson em 1965 também indicava que o Universo devia ter sido muito mais denso no passado. A teoria do estado estacionário teve, portanto, de ser abandonada.
Outra tentativa para evitar a conclusão da existência do *bib bang* e, portanto, um começo do tempo, foi realizada por dois cientistas russos, Evgenii Lifshitz e Isaac Khalatnikov, em 1963. Sugeriram que o *bib bang* podia ser uma peculiaridade apenas dos modelos de Friedmann, que afinal não passavam de aproximações ao Universo. Talvez, de todos os modelos que eram mais ou menos parecidos com o Universo, só o de Friedmann contivesse a singularidade do *bib bang*. Nos modelos de Friedmann, as galáxias movem-se todas afastando-se directamente umas das outras, pelo que não admira que em algum momento no passado estivessem todas no mesmo lugar. Contudo, no Universo, as galáxias não estão apenas a mover-se afastando-se directamente umas das outras: apresentam também pequenas velocidades laterais. De maneira que, na realidade, não precisavam de ter estado todas exactamente no mesmo local, mas apenas muito perto umas das outras. Então, talvez o actual Universo em expansão seja o resultado não de uma singularidade, mas de uma fase inicial de contracção; quando o Universo colapsou as partículas que o constituíam não colidiram todas, mas passaram ao lado para depois se afastarem umas das outras, produzindo a actual expansão. Como é que podemos então afirmar :, que o Universo teria começado com o *bib bang*? O que Lifshitz e Khalatnikov fizeram foi estudar universos que eram mais ou menos parecidos com os de Friedmann, mas consideraram as irregularidades e velocidades aleatórias das galáxias no Universo. Mostraram que tais modelos podiam começar com o *bib bang*, embora as galáxias já não se movessem afastando-se directamente umas das outras, mas afirmaram que esta possibilidade só se verificava em determinados modelos excepcionais em que as galáxias se moviam todas de certa maneira. Argumentaram que, uma vez que pareciam existir infinitamente mais modelos como o de Friedmann sem a singularidade do *bib bang* do que com ela, devíamos concluir que, na realidade, não tinha havido *bib bang*. Mais tarde, contudo, compreenderam que havia também muito mais modelos como o de Friedmann com singularidades e em que as galáxias não precisavam de se mover de uma maneira especial. Por isso, em 1970, acabaram por retirar as suas afirmações.