Outra objecção a um universo estático infinito é normalmente atribuída ao filósofo alemão Heinrich Olbers, que escreveu sobre esta teoria em 1823. De facto, vários contemporâneos de Newton (5) tinham levantado o problema e o artigo de Olbers nem sequer foi o primeiro a apresentar argumentos plausíveis contra ele. Foi, no entanto, o primeiro a ser largamente notado. A dificuldade reside em que num universo infinito (6) estático quase toda a direcção do olhar iria culminar na superfície de uma estrela. Assim, esperar-se-ia que o céu fosse tão brilhante como o Sol, mesmo à noite.
(5) O próprio Kepler numa das suas obras mais divulgadas, *Dissertatio cum Nuncio Sidereo*, usa um argumento similar para concluir da finitude do mundo (*N. do R.*).
(6) O argumento é válido num universo estático infinito no espaço e no tempo (*N. do R.*).
A proposta de Olbers para resolver este problema era que a luz das estrelas distantes seria atenuada por absorção na matéria interestelar interposta. No entanto, se isso acontecesse, a matéria interveniente aqueceria eventualmente até brilhar com a intensidade das estrelas. A única maneira de evitar a conclusão de que todo o céu nocturno seria tão brilhante como a superfície do Sol, seria admitir que as estrelas não tinham estado sempre a brilhar, mas que tinham iniciado as suas carreiras há um tempo finito no passado. Nesse caso, a matéria absorvente podia não ter ainda aquecido, ou a luz das estrelas distantes não ter ainda chegado até nós. E isto :, leva-nos à questão de qual poderia ter sido a causa de as estrelas se terem acendido.
O começo do Universo tinha, evidentemente, sido discutido antes. Segundo algumas das mais antigas cosmologias e a tradição judaico-cristã-muçulmana, o Universo teve origem há um tempo finito e não muito distante no passado. Um dos argumentos a favor desta teoria era a sensação de ser necessária a "Causa Primeira" para explicar a existência do Universo. (Dentro deste, sempre se explicou um acontecimento como causado por outro anterior, mas a existência do próprio Universo só podia ser explicada desta maneira se tivesse tido um começo). Outro argumento foi exposto por Santo Agostinho no seu livro *A Cidade de Deus*. Chamou a atenção para o facto de a civilização estar a progredir e de nos lembrarmos daqueles que realizaram feitos heróicos e dos que inventaram novas técnicas. Portanto, o Homem, e talvez também o Universo, não podiam existir há tanto tempo como isso. Santo Agostinho aceitou uma data de cerca de cinco mil anos antes de Cristo para a criação do Universo, segundo o livro do Génesis. (É interessante verificar que esta data não está muito longe do fim da última idade glaciar, cerca de dez mil anos antes de Cristo, data a que os arqueólogos fazem remontar o início da civilização).
Aristóteles, bem como a maioria dos filósofos gregos, por outro lado, não se afeiçoaram à ideia da criação porque tinha demasiado sabor a intervenção divina. Acreditavam que a raça humana, e o mundo à sua volta, sempre tinham existido e existiriam para sempre. Os Antigos tinham levado em conta o argumento acima referido acerca da evolução, e explicavam-no recorrendo a dilúvios cíclicos e outros desastres que periodicamente tinham reconduzido a raça humana de novo ao começo da civilização.
As questões de o Universo ter ou não tido um começo no tempo e se é ou não limitado no espaço foram mais :, tarde examinadas em pormenor pelo filósofo Emmanuel Kant, na sua monumental e muito obscura obra *Crítica da Razão Pura*, publicada em 1781. Chamou a essas questões antinomias (ou seja, contradições) da razão pura, porque achava que eram argumentos igualmente atraentes para se acreditar na tese de que o Universo tinha tido um começo e na antítese de que existira sempre. O seu argumento em defesa da tese era que, se o Universo não tivesse tido um começo, teria havido um período infinito de tempo antes de qualquer acontecimento, o que ele considerava absurdo. O argumento antitético era que, se o Universo tinha tido um princípio, teria havido um período de tempo infinito antes da sua origem: então por que tinha o Universo começado num momento especial? De facto, os argumentos que apresenta tanto para a tese como para a antítese são realmente os mesmos. Baseiam-se ambos na sua suposição não expressa de que o tempo continua indefinidamente para trás, quer o Universo tenha ou não existido sempre. Como veremos, o conceito de tempo não tem qualquer significado *antes* (7) do começo do Universo. Este facto foi apontado por Santo Agostinho. Quando lhe perguntaram: "Que fazia Deus antes de criar o mundo?" Agostinho não respondeu: "Andava a preparar o Inferno para todos os que fazem essas perguntas." Em vez disso, respondeu que o tempo era uma propriedade do Universo que Deus tinha criado, e que não existia *antes* (8) do começo do Universo.
(7) O itálico é do revisor. Repare na incapacidade e ambiguidade da linguagem comum quando se exprime a temática: antes não faz sentido, em rigor, pois o tempo surge com a criação (*N. do R.*).
(8) *Idem (N. do R.)*.
Quando a maior parte das pessoas acreditava num universo essencialmente estático e imutável, a questão de saber se tinha ou não tido um começo era na verdade do domínio da metafísica ou da teologia. Podia explicar-se o que :, se observava tanto segundo a teoria de que o Universo sempre existira ou a de que tinha sido accionado há um tempo finito mas de tal modo que parecesse ter existido sempre (9). Mas, em 1929, Edwin Hubble apresentou factos da observação que iniciaram uma nova era: seja para onde for que se olhe, as galáxias distantes afastam-se velozmente. Por outras palavras, o Universo está em expansão, o que significa que nos primeiros tempos os corpos celestes (10) encontrar-se-iam mais perto uns dos outros.
(9) Tudo depende de admitirmos que o estado inicial do universo era mais ou menos complexo (*N. do R.*).
(10) As galáxias, ou melhor, os superaglomerados galácticos que constituem *as partículas* do *fluido cósmico* (*N. do R.*).
De facto, parece ter havido um tempo, há cerca de dez ou vinte mil milhões de anos, em que os objectos estavam todos exactamente no mesmo lugar (11) e em que, portanto, a densidade do Universo era infinita. Esta descoberta trouxe finalmente a questão das origens para o domínio da ciência.
(11) Não deve entender-se *lugar* no espaço, mas sim que ocupavam o *único lugar* do espaço (*N. do R.*).
As observações de Hubble sugeriam que tinha havido um tempo para uma grande explosão [um *big bang*] (12), em que o Universo era infinitamente pequeno e denso. Nessas condições, todas as leis da física e, portanto, toda a possibilidade de predizer o futuro cairiam por terra. Se houve acontecimentos antes desse tempo, não podem afectar o que acontece no tempo presente. A sua existência pode ser ignorada, por não ter consequências observáveis. Pode dizer-se que o tempo começou com o *big bang*, no sentido em que os primeiros momentos não podiam ser definidos.
(12)os comentários parentéticos (á..../ú) são da responsabilidade do revisor (*n. do R.*).
Deve sublinhar-se que este começo no tempo é muito diferente dos que tinham sido considerados previamente. Num universo imutável, um começo no tempo é :, uma coisa que tem de ser imposta por algum Ser exterior ao Universo; não há necessidade física de um começo. Pode imaginar-se que Deus criou o Universo em qualquer momento do passado. Por outro lado, se o Universo está em expansão, pode haver razões de natureza física para um começo. Podia continuar a imaginar-se que Deus criou o Universo no instante do *big bang*, ou mesmo depois, de tal modo que o *big bang* nos pareça ter ocorrido, mas não teria qualquer significado supor que tinha sido criado *antes* do *big bang*. Um universo em expansão não exclui um Criador, mas impõe limitações ao momento do desempenho da Criação!