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Os vultos que se aproximam o fazem levantar desconfiado. Mas logo reconhece a figura enorme do estivador João de Adão. Junto a ele vem um rapaz bem vestido, mas com os cabelos despenteados. Pedro Bala tira o boné, fala para João de Adão:

- Tu hoje ganhou viva, hein?

João de Adão ri. Distende seus músculos, seu rosto está aberto num sorriso para o chefe dos Capitães da Areia:

- Capitão Pedro, eu quero apresentar a tu o companheiro Alberto.

O rapaz estende a mão para Pedro Bala. O chefe dos Capitães da Areia limpa primeiro sua mão no paletó rasgado, depois aperta a do estudante. João de Adão está explicando:

- É um estudante da Faculdade, mas é um companheiro da gente.

Pedro Bala olha sem desconfiança. O estudante sorri:

- Já ouvi falar muito em você e em seu grupo. Você é um batuta...

- A gente é macho, sim responde Pedro Bala.

João de Adão se aproxima mais:

- Capitão, a gente tem que conversar com tu. Tem um assunto com tu. Um troço sério. Aqui o companheiro Alberto...

- Vamos para dentro? - fala Pedro Bala.

Acordam João Grande ao passar. O negro olha com desconfiança o estudante, pensa que é um polícia, levanta um pouco o punhal por detrás do braço. Só Pedro Bala vê e fala:

- É um amigo de João de Adão. Vem com a gente, Grande.

Vão os quatro. Sentam num canto. Alguns dos Capitães da Areia acordam e espiam o grupo. O estudante olha o trapiche, as crianças que dormem. Treme como se um vento frio tivesse passado pelo seu corpo:

- Que horror!

Mas Pedro Bala está dizendo a João de Adão:

- Que coisa porreta a greve! Nunca vi coisa tão bonita. É como uma festa...

- A greve é a festa dos pobres... - diz o estudante.

A voz de Alberto é mansa e boa. Pedro Bala o escuta enlevado, como se fosse a voz de um negro cantando uma canção no mar.

- Meu pai morreu numa greve, tu sabe? Pergunte a João de Adão, se está duvidando...

- Foi uma morte bonita fala o estudante. - Ele foi um campeão da sua classe. Não foi o Loiro?

O estudante sabe o nome de seu pai. Seu pai foi um campeão... Todos o conhecem. Teve uma morte bonita, morreu numa greve, a greve é a festa dos pobres... Escuta a voz do estudante:

- Você acha a greve bonita, Pedro?

- Companheiro, esse é um porreta diz João de Adão. - Tu não conhece os Capitães da Areia nem Capitão Pedro... É um companheiro...

Companheiro... Companheiro... Pedro Bala acha a palavra mais bonita do mundo. O estudante diz como Dora dizia a palavra irmão.

- Pois companheiro Pedro, a gente precisa de você e do seu grupo.

- Pra quê? - pergunta João Grande curioso.

Pedro Bala apresenta:- Este negro é João Grande, um negro bom. Quem for bom é igual a João Grande, melhor não é...

Alberto estende a mão ao negro. João Grande fica um momento indeciso, não está acostumado a apertos de mão. Mas logo aperta aquela mão, meio encabulado. O estudante novamente diz:

- Vocês são uns batutas...

De repente, interessado, pergunta:

- É verdade que Volta Seca foi um de vocês?

- Um dia a gente tira ele da cadeia... - é a resposta de Bala. O estudante olha meio espantado. Dá uma espiada pelo trapiche, João de Adão faz um sinal como que lembrando: Eu não lhe dizia?

Pedro Bala quer conversar sobre a greve, saber o que querem dele:

- É pra greve que precisa da gente?

- Se for? - perguntou o estudante.

- Se for pra ajudar os grevistas, tou decidido. Pode contar com a gente... - levanta-se, está um rapazola, o rosto disposto para a luta.

- Tu não vê... - começa a explicar João de Adão.

Mas cala, porque o estudante está falando:

- A greve está indo muito em ordem. Nós queremos fazer coisas com muita ordem, porque assim venceremos e os operários conseguirão o aumento. Nós não queremos armar barulho, queremos mostrar que os operários são capazes de disciplina. Uma pena, pensa Pedro Bala, que ama os barulhos. Mas acontece que os diretores da Companhia andam contratando fura-greves para trabalhar amanhã. Se os operários dissolverem os grupos de furadores de greve, darão margem a que a polícia intervenha e está todo o trabalho perdido.

Então o companheiro João de Adão lembrou de vocês...

- Pra debandar os fura-greve? Tá certo - diz Bala alegríssimo O estudante pensa na discussão daquela noite na organização. Quando João de Adão fizera a proposta de chamar os Capitães da Areia, muitos companheiros tinham se declarado contra. Sorriam da ideia. João de Adão só dizia: