Выбрать главу

James Clavell

Volume 1

Edição integral

Título do originaclass="underline" "Noble House"

Copyright © 1981 by James Clavell

Tradução: Isabel Paquet de Araripe

Naturalmente isto é um romance. É povoado de pessoas e companhias imaginárias, e não se pretende fazer nenhuma referência a qualquer pessoa ou companhia que tenha sido, ou seja, parte de Hong Kong ou da Ásia.

Gostaria também de pedir desculpas de pronto a todos os yan de Hong Kong — todas as pessoas de Hong Kong — por modificar sua bela cidade, por isolar incidentes do contexto, por inventar pessoas e lugares, ruas, companhias e incidentes que, confiamos, podem parecer ter existido, mas nunca existiram, pois esta é, verdadeiramente, uma história...

Gostaria de oferecer esta obra como tributo a Sua Majestade britânica, Elizabeth II, ao povo da colônia de sua coroa de Hong Kong — e perdição a seus inimigos.

8 de junho de 1960

Prólogo

23h45m

O nome dele era Ian Dunross, e, guiando o seu velho MG esporte sob a chuva torrencial, dobrou com cuidado a esquina, entrando na Dirk's Street, que marginava o Edifício Struan, na orla marítima de Hong Kong. A noite era escura e lúgubre. Por toda a colônia — aqui na ilha de Hong Kong, do outro lado do porto, em Kowloon, e nos Novos Territórios que faziam parte do continente chinês — as ruas estavam quase totalmente desertas, tudo e todos enclausurados e protegidos, à espera do tufão Mary. O sinal de alerta de tempestade número 9 fora içado ao alvorecer, e rajadas de vento de cento e cinqüenta a cento e oitenta e cinco quilômetros por hora já saíam de dentro da tormenta, que se estendia a mil e seiscentos quilômetros para o sul, lançando a chuva horizontalmente contra os telhados e os morros, onde dezenas de milhares de favelados se encolhiam, indefesos, nos seus barracos improvisados.

Dunross diminuiu a velocidade, sem enxergar direito, pois os limpadores de pára-brisa não davam conta da quantidade de chuva, com o vento sacudindo a capota e as laterais de lona. E então o pára-brisa desanuviou-se momentaneamente. No final da Dirk's Street, bem em frente, ficava a Connaught Road e a praia, depois os molhes e a imensidão atarracada do Terminal da Balsa Dourada. Mais além, no porto vasto e bem-protegido, meio milhar de navios estavam firmemente amarrados.

Mais adiante, na praia, viu uma barraca comercial abandonada ser violentamente arrancada do chão por uma rajada, e arremessada contra um carro estacionado, destruindo-o. Depois, carro e barraca saíram rolando e sumiram. Seus pulsos eram muito fortes, e ele controlou o volante, lutando contra os redemoinhos que faziam o carro tremer violentamente. O veículo era antigo, mas bem-conservado, o motor estava "envenenado" e os freios, em perfeito estado. Esperou, o coração batendo gostosamente, curtindo a tempestade, depois subiu na calçada e estacionou o carro bem encostadinho ao prédio, e saltou.

Era um homem louro, de olhos azuis, de quarenta e poucos anos, esbelto e elegante, e usava uma capa impermeável e um boné velho. A chuva ensopou-o enquanto atravessava rapidamente a rua lateral e depois dobrava a esquina, dirigindo-se às pressas para a entrada principal do prédio de vinte e dois andares. Acima da imensa porta de entrada via-se o timbre Struan — o Leão Vermelho da Escócia entrelaçado com o Dragão Verde da China. Aprumando-se, subiu os largos degraus e entrou.

— Boa noite, Sr. Dunross — disse o zelador chinês.

— O tai-pan mandou me chamar?

— Sim, senhor.

O homem apertou o botão do elevador para ele. Quando o elevador parou, Dunross cruzou o pequeno corredor, bateu à porta e entrou na sala de estar da cobertura.

— Boa noite, tai-pan — disse, com fria formalidade. Alastair Struan apoiava-se contra a bela lareira. Era um escocês grandalhão, rosado, bem-conservado, com uma ligeira barriga e cabelos brancos, na casa dos sessenta, e há onze anos era quem mandava na Struan.

— Uma bebida?

Fez um gesto na direção do Dom Pérignon no balde de prata.

— Obrigado.

Dunross nunca estivera antes nos aposentos particulares do tai-pan. A sala era espaçosa e bem-mobiliada, com móveis laqueados chineses e belos tapetes, quadros antigos dos seus primeiros veleiros e vapores ornando as paredes. As imensas janelas que normalmente ofereciam uma vista de toda a Hong Kong, no porto, e de Kowloon, do outro lado do porto, agora estavam escuras e manchadas de chuva.

Dunross serviu-se.

— Saúde — falou, formalmente.

Alastair Struan meneou a cabeça e, com a mesma frieza, ergueu também o copo.

— Chegou cedo.

— Cinco minutos mais cedo é chegar na hora, tai-pan. Não foi isso o que o pai tanto me ensinou? Não é importante que nos encontremos à meia-noite?

— É. Faz parte do nosso costume. O costume de Dirk. — Dunross bebericava o seu champanha, esperando em silêncio. O relógio de navio antigo tiquetaqueava ruidosamente.

Sua excitação aumentava, pois não sabia o que esperar. Encimando a lareira havia o quadro de uma jovem noiva. Era Tess Struan, que se casara com Culum, segundo tai-pan e filho do fundador da Struan, Dirk Struan, quando ela estava com dezesseis anos.

Dunross fitava a tela. Uma rajada de vento e chuva fustigou os janelões.

— Que noite horrorosa — comentou.

O homem mais velho simplesmente olhou para ele, odiando-o. O silêncio aumentava. Então, o velho relógio soou as oito badaladas que marcavam a meia-noite.

Bateram à porta.

— Entre — falou Alastair Struan, aliviado, satisfeito porque agora podiam começar.

A porta foi aberta por Lim Chu, o servo pessoal do tai-pan. Afastou-se para o lado para deixar passar Phillip Chen, o representante nativo da Struan, depois fechou a porta atrás dele.

— Ah, Phillip, bem na hora, como sempre — falou Alastair Struan, tentando parecer jovial. — Champanha?

— Obrigado, tai-pan, aceito, obrigado. Boa noite, Ian Struan Dunross. — Phillip Chen cumprimentou o homem mais moço com formalidade incomum, no seu inglês típico da classe alta. Era eurasiano, tinha sessenta e muitos anos, magro, mais para chinês do que para europeu, um homem muito bonito, de cabelos grisalhos e maçãs do rosto altas, pele clara e olhos chineses muito escuros.

— Noite horrível, não?

— É mesmo, Tio Chen — replicou Dunross, usando a forma polida chinesa para dirigir-se a Phillip, de quem gostava e a quem respeitava tanto quanto desprezava o primo, Alastair.

— Dizem que este tufão vai ser um filho da mãe. — Alastair Struan servia o champanha em taças finas. Entregou uma taça primeiro a Phillip Chen, depois a Dunross. — Saúde!

Todos beberam. Uma rajada de chuva sacudiu as janelas.

— Que bom que não estou no mar hoje — comentou Alastair Struan, pensativo. — Com que então, Phillip, cá está você de novo.

— Sim, tai-pan. Sinto-me honrado. Sim, muito honrado.

Pressentiu a violência entre os dois homens, mas ignorou-a. "A violência é de praxe", pensou, "sempre que um tai-pan da Casa Nobre entrega o poder."

Alastair Struan tomou outro gole, saboreando o champanha. Finalmente, falou:

— Ian, é costume nosso que haja uma testemunha na troca do tai-pan. Ela é sempre, e unicamente, o representante nativo atual da firma. Phillip, com esta são quantas vezes?

— Fui testemunha quatro vezes, tai-pan.

— Phillip conheceu quase todos nós. Sabe demasiados segredos nossos. Hem, amigo velho? — Phillip Chen apenas sorriu. — Confie nele, Ian. Seus conselhos são sábios. Pode confiar nele.

"Até onde um tai-pan pode confiar em alguém?", pensou Dunross, sombriamente.

— Sim, senhor.

Alastair Struan deixou de lado a taça.

— Primeiro: Ian Struan Dunross, pergunto-lhe formalmente se quer ser tai-pan da Struan.

— Sim, senhor.

— Jura por Deus que todas estas atas serão mantidas em segredo por você, e divulgadas exclusivamente ao seu sucessor?