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— Sim, senhor.

— Anote aqui, por favor.

— Um minuto, vamos poupar tempo — falou Bartlett. Virou-se para um amontoado de aparelhos eletrônicos e apertou dois interruptores. Um gravador com dois cassetes começou a funcionar. Ele enfiou um microfone na tomada e colocou-o na mesa. — Haverá duas fitas, uma para o senhor, outra para mim. Depois que seu funcionário a transcrever, se quiser a minha assinatura, estarei às ordens.

— Obrigado.

— Bem, vamos começar.

Armstrong ficou constrangido, de repente.

— Queira por favor dizer-me o que sabe sobre o carregamento ilegal encontrado no vão do trem de aterrissagem principal de seu aeroplano, Sr. Bartlett.

Bartlett repetiu que não sabia de nada.

— Não creio que ninguém da minha tripulação ou do meu pessoal esteja envolvido, de forma alguma. Nenhum deles jamais esteve envolvido com a lei, ao que eu saiba. E eu saberia.

— Há quanto tempo o comandante Jannelli está com o senhor?

— Há quatro anos, O'Rourke, há dois. Svensen, desde que adquiri o avião, em 58.

— E a srta. Tcholok?

Depois de uma pausa, Bartlett disse:

— Seis... quase sete anos.

— Ela é uma importante executiva de sua companhia?

— É. Muito importante.

— Isso é incomum, não, Sr. Bartlett?

— É. Mas não tem nada a ver com o problema atual.

— O senhor é proprietário deste aparelho?

— A minha companhia é que é. Indústrias Par-Con S.A.

— Tem inimigos... alguém que gostaria de deixá-lo numa séria enrascada?

Bartlett riu.

— Será que um cachorro tem pulgas? Não se chega a chefe de uma companhia de meio bilhão de dólares fazendo amigos.

— Nenhum inimigo em especial?

— Diga-me o senhor. Contrabando de armas é uma operação especial... isso não pode deixar de ter sido feito por um profissional.

— Quem sabia do seu plano de vôo para Hong Kong?

— A visita já está marcada há uns dois meses. Minha diretoria sabia. E minha equipe de planejamento. — Bartlett franziu o cenho. — Não era nenhum segredo. Não havia motivo para tal. — Depois, acrescentou: — É claro que a Struan sabia... exatamente. Há pelo menos duas semanas. Na verdade, confirmamos a data no dia 12 por telex, junto com as horas previstas para a partida e para a chegada. Eu queria vir antes, mas Dunross disse que segunda-feira, dia 19, seria melhor para ele, e 19 é hoje. Por que não o interroga?

— É o que farei, Sr. Bartlett. Obrigado, senhor. No momento, é o suficiente.

— Também tenho umas perguntas, superintendente, se não se importa. Qual a penalidade para o contrabando de armas?

— Dez anos, sem condicional.

— Qual o valor desse carregamento?

— Não tem preço, para o comprador certo, porque nenhuma arma, absolutamente nenhuma, está ao alcance de pessoa alguma.

— Quem é o comprador certo?

— Qualquer um que queira começar um levante, uma insurreição, ou cometer assassinato em massa, assalto a bancos, ou algum crime de grande porte.

— Comunistas?

Armstrong sorriu e sacudiu a cabeça.

— Não precisam atirar em nós para tomar a colônia, ou contrabandear M14... têm armas de sobra nas mãos.

— Nacionalistas? Gente de Chang Kai-chek?

— O governo americano lhes fornece em quantidade todo tipo de armamentos, Sr. Bartlett. Não é? Portanto, também não precisam contrabandear desse jeito.

— Uma guerra de quadrilhas, talvez?

— Santo Deus, Sr. Bartlett, nossas quadrilhas não atiram umas nas outras. Nossas quadrilhas, chamamo-las de tríades, nossas tríades acertam suas diferenças de modo chinês sensato e civilizado, com facas, machados, pedaços de ferro e telefonemas anônimos para a polícia.

— Aposto que foi alguém da Struan. É aí que encontrará a resposta a este enigma.

— Talvez. — Armstrong riu de modo estranho, depois repetiu: — Talvez. Agora, se me dá licença...

— Claro.

Bartlett desligou o gravador, tirou de lá os dois cassetes e entregou um deles ao outro homem.

— Obrigado, Sr. Bartlett.

— Quanto tempo ainda vai durar esta revista?

— Depende. Talve2 uma hora. Pode ser que tragamos alguns peritos. Tentaremos tornar tudo o mais fácil possível. Vai sair do avião antes do almoço?

— Vou.

— Se quiser se comunicar, por favor entre em contato com meu gabinete. O número é 88-7733. Por enquanto, haverá aqui uma guarda policial permanente. Vai ficar no Vic?

— Vou. Estou livre agora para ir à cidade, fazer o que quiser?

— Está sim, senhor, desde que não deixe a colônia, durante as nossas investigações.

Bartlett abriu um sorriso.

— Já tinha entendido bem claramente o recado.

Armstrong se foi. Bartlett tomou banho, vestiu-se e esperou até que todos os policiais se houvessem retirado, exceto o que vigiava a escada. Depois, voltou para o seu gabinete e fechou a porta. Agora, totalmente só, deu uma olhada no relógio. Eram sete e trinta e sete. Foi até o centro de comunicações, ligou dois interruptores de microfone e apertou o botão de transmissão.

Daí a um momento, ouviu o ruído de estática, e a voz sonolenta de Casey:

— Sim, Linc?

— Jerônimo — disse ele, claramente, ao microfone. Fez-se uma longa pausa.

— Saquei — disse ela. O alto-falante emudeceu.

4

9h40m

O Rolls saiu da balsa de automóveis que ligava Kowloon à ilha de Hong Kong, e virou para o leste, na Connaught Road, entrando no tráfego denso. A manhã estava quente, úmida e sem nuvens, sob um sol agradável. Casey afundou-se mais no banco traseiro. Deu uma olhada no relógio de pulso, com a excitação aumentando.

— Tempo de sobra, senhorita — disse o chofer, de olhar atento. — Casa Nobre fim da rua, prédio alto. Dez, quinze minutos, não se preocupe.

— Ótimo.

"Isto é que é vida", disse para si mesma. "Um dia também vou ter um Rolls só meu, e um chofer chinês garboso, calmo e educado, e não vou ter que me preocupar com o preço da gasolina. Nunca mais. Quem sabe agora — finalmente — vou botar as mãos no meu dinheiro do não enche." Sorriu consigo mesma. Linc fora o primeiro a lhe explicar sobre o dinheiro do não enche. Ele o chamava de dinheiro do foda-se. O bastante para dizer "foda-se" a qualquer um ou a qualquer coisa.

— O dinheiro do foda-se é o mais valioso do mundo... porém o mais caro — dissera. — Se você trabalhar para mim, comigo, mas para mim, ajudo você a conseguir o seu dinheiro do foda-se. Mas Casey, não sei se vai querer pagar o preço.

— Qual é o preço?

— Não sei. Só sei que varia de pessoa para pessoa... e sempre custa mais do que se está preparado a pagar.

— O seu custou?

— Ah, custou, sim.

"Bom", pensou ela, "por enquanto o preço ainda não foi alto demais. Ganho cinqüenta e dois mil dólares por ano, minha verba de representação é boa, e meu trabalho puxa pelo cérebro. Mas o governo me taxa demais, e nunca sobra o bastante para ser o dinheiro do não enche."

— O dinheiro do não enche vem de uma negociata — dissera Linc. — Não do fluxo de caixa.

"De quanto preciso?"

Nunca se fizera esta pergunta antes.

"Quinhentos mil? A sete por cento, dará trinta e cinco mil dólares por ano para sempre, mas tributável. E quanto à garantia do governo mexicano de onze por cento, menos um por cento para eles pelo seu esforço? Ainda tributáveis. Em obrigações não-tributáveis a quatro por cento dá vinte mil, mas as obrigações são perigosas, e a gente não arrisca o dinheiro do não enche."

— Esta é a primeira regra, Casey — dissera Linc. — A gente nunca o arrisca. Nunca. — E então dera uma das suas risadas gostosas, que sempre a desarmava. — A gente nunca arrisca o nosso dinheiro do foda-se exceto uma ou duas vezes, quando decide fazê-lo.

"Um milhão? Dois? Três?

"Concentre-se na reunião e pare de sonhar", disse consigo mesma. "Vou parar, mas meu preço é dois milhões em espécie no banco. Isentos de impostos. É isso o que quero. Dois milhões a 5,25 por cento, isentos de impostos, me darão cento e cinco mil dólares por ano. E isso dará a mim e à minha família tudo o que quero, dinheiro de sobra para sempre. E ainda posso conseguir mais do que 5,25 para o meu dinheiro.