— Alguém aqui? Alguma empregada nos quartos?
— Estamos sozinhos, mas os criados de quarto parece que entram e saem ao seu bel-prazer.
— Aquele já estava com a chave na mão antes que eu chegasse ao quarto. — Linc contou-lhe o que acontecera no aeroporto. A seguir, baixou a voz. — E quanto a John Chen?
— Nada. Conversou fiado, nervosamente. Não queria discutir negócios. Acho que não conseguiu se recuperar do fato de eu ser mulher. Deixou-me aqui no hotel e disse que mandariam um carro apanhar-me às nove e quinze.
— Quer dizer que o plano deu certo.
— Certíssimo.
— Ótimo. Conseguiu?
— Não. Disse-lhe que estava autorizada por você a aceitar a entrega e ofereci a letra à vista inicial. Mas fingiu surpresa e disse que falaria com você em particular logo mais, depois do almoço. Parecia muito nervoso.
— Não importa. Seu carro chegará daqui a alguns minutos. Vejo-a na hora do almoço.
— Devo mencionar as armas à Struan? A Dunross?
— Não. Vamos esperar para ver quem toca no assunto.
— Acha que podem ter sido eles?
— Tranqüilamente. Conheciam o nosso plano de vôo, e têm um motivo.
— Qual?
— Desacreditar-nos.
— Mas por quê?
— Talvez pensem que conhecem o nosso plano de batalha.
— Mas, então, não teria sido bem mais sensato da parte deles não fazer nada... e tentar nos passar a perna?
— Talvez. Mas deste modo fizeram a jogada inicial. Primeiro dia: cavalo na casa 3 do bispo do rei. Teve início o ataque contra nós.
— É. Mas da parte de quem? E estamos jogando com as brancas ou as pretas?
Seus olhos se endureceram, perderam o ar amistoso.
— Não me importo, Casey, contanto que vençamos. E foi embora.
"Está acontecendo alguma coisa", disse consigo mesma. "Alguma coisa perigosa, que ele não quer me contar."
— O sigilo é vital, Casey — dissera ele, nos primeiros dias do seu relacionamento. — Napoleão, César, Patton... qualquer um dos grandes generais... geralmente escondiam seu plano real dos seus assessores. Só para mantê-los, e portanto aos espiões inimigos, meio no ar. Se eu esconder algo de você, Casey, não significa falta de confiança. Mas você nunca deve esconder nada de mim.
— Isso não é justo.
— A vida não é justa. A morte não é justa. A guerra não é justa. Os negócios em grande escala são uma guerra. Ajo como se estivesse numa guerra, e é por isso que vou ganhar.
— Ganhar o quê?
— Quero que as Indústrias Par-Con sejam maiores do que a General Motors e a Esso juntas.
— Por quê?
— Porra, para o meu prazer.
— Agora, conte-me o motivo real.
— Ah, Casey, é por isso que a amo. Você escuta e sabe.
— Ah, Incursor, eu também o amo.
Então, os dois riram juntos, pois sabiam que não se amavam, não no sentido comum da palavra. Tinham combinado, desde o começo, deixar de lado o comum pelo extraordinário. Durante sete anos.
Casey olhou pela janela para o porto e os navios no porto.
"Esmagar, destruir e ganhar. Os Grandes Negócios, o jogo Monopólio mais excitante do mundo. E o meu líder é o Incursor Bartlett, o Perito Mestre no jogo. Mas o nosso tempo está se esgotando, Linc. Este ano, o sétimo ano, o último ano, termina com o meu aniversário, 25 de novembro, o meu vigésimo sétimo aniversário..."
Ouviu a meia batida e a chave-mestra na fechadura, e virou-se para dizer "Entre", mas o camareiro engomado já tinha entrado.
— Bom dia, senhorita, sou o Camareiro Diurno Número Um Chang. — Chang era grisalho e solícito. Abriu um sorriso.
— Arrumar quarto, por favor?
— Nenhum de vocês espera que a gente mande entrar?
— perguntou, bruscamente.
Chang fitou-a, confuso.
— Senhorita?
— Ah, deixe pra lá — respondeu, cansadamente.
— Lindo dia, heya? Qual primeiro, o quarto do Patrão ou da senhorita?
— O meu. O Sr. Bartlett ainda não usou o dele.
Chang abriu um sorriso cheio de dentes. "Ayeeyah, você e o Patrão treparam no seu quarto, senhorita, antes que ele saísse? Mas transcorreram apenas catorze minutos entre a chegada e a partida do Patrão, e ele não parecia afogueado, quando foi embora.
"Ayeeyah, primeiro deviam ser dois demônios estrangeiros homens partilhando a minha suíte, e depois um deles é ela... confirmado pelo Noturno Ng, que, naturalmente, revistou toda a bagagem e encontrou provas concretas de que ela era mesmo uma verdadeira mulher — provas confirmadas com grande satisfação pela Terceira Arrumadeira Fung!
"Pêlos púbicos dourados! Que repelente!
"E a Pêlos Púbicos Dourados não apenas não é a primeira mulher do Patrão... não é sequer uma segunda mulher, e oh ko, pior ainda, não teve a educação de fingir que era, para que as regras do hotel pudessem ser seguidas e ninguém ficasse desprestigiado."
Chang riu alto, pois aquele hotel sempre tivera as regras mais espantosas sobre senhoras nos quartos dos homens — oh, deuses, para que serviam as camas? —, e agora uma mulher bárbara estava vivendo abertamente em pecado! Ah, como os gênios tinham se exaltado, na véspera! Bárbaros! Dew neh loh moh para todos os bárbaros! Mas aquela sem dúvida era um dragão, pois enfrentara e vencera o assistente de gerente eurasiano, o gerente da noite eurasiano, e até mesmo o velho hipócrita, o Gerente-Geral Grande Vento em pessoa.
— Não, não, não — choramingara ele, segundo haviam contado a Chang.
— Sim, sim, sim — replicara ela, insistindo em ficar com a metade adjacente da suíte Riacho Fragrante.
Fora então que o Honorável Mong, porteiro-chefe e chefe de uma tríade, portanto líder do hotel, solucionara o que não tinha solução.
— A suíte do Riacho Fragrante tem três portas, heya? — dissera. — Uma para cada quarto, uma para a sala principal. Levem-na para o Riacho Fragrante B, que é o quarto inferior, pela sua própria porta. Mas a porta interna para a sala principal, e daí para o quarto do Patrão, ficará bem trancada. Mas que haja uma chave à vista. Se a meretriz hipócrita destrancar a porta pessoalmente... o que se pode fazer? E depois, se houver uma confusão nas reservas amanhã ou depois, e o nosso honorável gerente-geral tiver que pedir ao bilionário e à sua vagabunda da Terra da Montanha Dourada para saírem, bem, lamentamos muito, e não se preocupem, temos reservas de sobra, e temos que proteger a nossa dignidade.
E assim fora feito.
"A porta externa da parte B foi destrancada, e mandaram a Pêlos Púbicos Dourados entrar. Quem pode dizer se ela pegou a chave e destrancou de imediato a porta interna? Que a porta está aberta agora, bem, certamente eu jamais contarei a alguém de fora, meus lábios estão selados. Como sempre.
"Ayeeyah, mas embora as portas externas possam estar trancadas e ser modestas, as internas podem estar escancaradas e ser deliciosas. Como o Portão de Jade dela", refletiu. "Dew neh loh moh, como será invadir um Portão de Jade do tamanho do dela?"
— Faço a cama, senhorita? — perguntou meigamente, em inglês.
— Pode ir em frente.
"Oh, como é horrível o som da língua bárbara deles. Ugh!"
O Diurno Chang gostaria de escarrar e lançar longe o deus cuspe, mas era contra as regras do hotel.
— Heya, Diurno Chang — disse a Terceira Arrumadeira Fung, alegremente, quando entrou no quarto, depois de ter batido debilmente na porta da suíte, muito depois de tê-la aberto. — Sim, senhorita, desculpe, senhorita — em inglês, depois de novo para Chang, em cantonense. — Ainda não acabou? A bosta dela é tão doce que quer ficar remexendo nas suas gavetas?
— Dew neh loh moh para você, Irmã. Cuidado com a língua, senão seu velho pai pode lhe dar uma boa sova.
— A única sova que sua velha mãe quer, você não pode me ajudar a ganhar! Vamos, deixe-me ajudá-lo a fazer depressa a cama dela. Daqui a meia hora vai começar um jogo de moh-jong. O Honorável Mong mandou que viesse buscá-lo.