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— É o que dizem. Então, é melhor avisar ao seu pessoal do Serviço de Informações para ser mais inteligente no futuro.

— Felizmente, são muito discretos.

— Mesmo assim, não quero que meus movimentos sejam registrados.

— Estou certo de que não são.

— Ótimo. Que bandido mora no Sinclair Towers?

— Um dos nossos informantes capitalistas, mas secretamente suspeito de ser um camarada comuna. Muito tedioso, mas o sei tem que ganhar o pão nosso de cada dia, não é?

— Será que o conheço?

— Imagino que conheça todo mundo.

— É xangaiense ou cantonense?

— O que o faz pensar que seja uma coisa ou outra?

— Ah, então é europeu?

— É só um bandido, Ian. Lamento, mas ainda está tudo sob sigilo.

— Qual é, aquele bloco de apartamentos é nosso! Quem foi? Não vou abrir a boca.

— Eu sei. Desculpe, meu velho, mas não posso. Contudo, tenho outra idéia hipotética para você. Digamos que um VIP casado tenha uma amiguinha cujo tio é o subchefe secreto da polícia secreta ilegal do Kuomintang em Hong Kong. Digamos, hipoteticamente, que o Kuomintang quisesse o tal VIP do seu lado. Claro que ele poderia ser pressionado pela amiguinha. Não acha?

— Acho — disse Dunross, tranqüilamente —, se ele fosse burro.

Sabia tudo sobre o tio de Wei-wei Jen, e se encontrara com ele várias vezes, em diversas festas particulares em Taipé. E simpatizara com ele. "Nenhum problema por esse lado", pensara, "porque ela não é minha amante nem minha amiguinha, embora muito linda e desejável. E tentadora."

Sorriu consigo mesmo ao entrar no fluxo de tráfego da Magazine Gap Road, depois esperou na fila para fazer o balão e descer a Garden Road na direção da Central, a uns oitocentos metros, e em direção ao mar.

Agora podia ver o altíssimo bloco de escritórios modernos que era a Struan. Tinha vinte e dois andares, ficava de frente para a Connaught Road e para o mar, quase em frente ao Terminal da Balsa Dourada, cujas balsas trafegavam entre Hong Kong e Kowloon. Como sempre, a vista lhe era agradável.

Foi serpenteando pelo tráfego denso sempre que podia, passou se arrastando pelo Hilton Hotel e pelo campo de críquete à sua esquerda, depois entrou na Connaught Road, com suas calçadas abarrotadas de pedestres. Parou diante da entrada principal.

"Hoje é o grande dia", pensou. "Os americanos chegaram.

"E, com sorte, Bartlett será a corda que enforcará Quillan Gornt para todo o sempre. Santo Deus, se isso der certo!"

— Bom dia, senhor — cumprimentou vivamente o porteiro uniformizado.

— Bom dia, Tom.

Dunross esgueirou-se de dentro do carro baixo e subiu correndo os degraus de mármore, de dois em dois, na direção da imensa entrada de vidro. Outro porteiro foi guardar o carro na garagem subterrânea, e um terceiro abriu-lhe a porta de vidro. Percebeu na porta o reflexo do Rolls que se acercava. Reconhecendo-o, olhou para trás. Casey saltou, e ele deu um assobio involuntário. Carregava uma pasta. Usava um costume de seda verde-mar, muito conservador, mas que não conseguia esconder a esbelteza do corpo, ou a graça do andar, o tom de verde realçando o louro-queimado do seu cabelo.

Ela olhou à sua volta, sentindo o olhar dele. Reconheceu-o imediatamnete, e avaliou-o como ele a avaliara; embora o instante fosse breve, pareceu longo a ambos. Longo e descontraído.

Ela se mexeu primeiro e dirigiu-se a ele, que veio encontrá-la a meio caminho.

— Alô, Sr. Dunross.

— Alô. Nunca nos vimos antes, não é?

— Não. Mas é fácil reconhecê-lo pelas suas fotografias. Não esperava ter o prazer de conhecê-lo, senão mais tarde. Sou Cas...

— Sei — disse, abrindo um sorriso. — Recebi um telefonema perturbado de John Chen, ontem à noite. Bem-vinda a Hong Kong, srta. Tcholok. É senhorita, não?

— É. Espero que o fato de eu ser mulher não vá atrapalhar demais as coisas.

— Ah, vai sim, e muito. Mas tentaremos contornar o problema. A senhorita e o Sr. Bartlett aceitariam ser meus convidados para as corridas de sábado? Com almoço e tudo?

— Eu gostaria muito. Mas terei que consultar Linc... posso confirmar hoje à tarde?

— Claro. — Ele olhou para ela, que retribuiu o olhar. O porteiro ainda mantinha a porta aberta. — Bem, vamos indo, srta. Tcholok, e que a batalha comece.

Ela lançou-lhe um rápido olhar.

— Por que falar em batalha? Estamos aqui para tratar de negócios.

— Ah, sim, claro. É só um ditado de Sam Ackroyd. Explico outra hora. — Fê-la entrar no prédio e dirigiu-se para os elevadores. As muitas pessoas nas filas, esperando, imediatamente se afastaram para que eles entrassem no primeiro elevador, deixando Casey embaraçada. — Obrigado — falou Dunross, sem achar aquilo fora do comum. Fê-la entrar, apertou o botão superior, do vigésimo andar, notando distraidamente que a moça não usava perfume ou jóias, apenas uma fina corrente de ouro no pescoço.

— Por que a porta da frente está inclinada? — perguntou ela.

— Como?

— A entrada da frente me pareceu ligeiramente inclinada, não está em linha reta... fiquei imaginando o motivo.

— É muito observadora. A resposta é fung sui. Quando o prédio foi construído, há quatro anos, não sei como esquecemos de consultar o nosso homem do fung sui. Ele é como um astrólogo, um homem que se especializa em céu, terra, correntezas e demônios, esse tipo de coisa, e se certifica de que o prédio foi construído nas costas do Dragão da Terra, e não na sua cabeça.

— Como?

— É isso mesmo. Sabe, cada prédio em toda a China ergue-se sobre alguma parte do Dragão da Terra. Ficar nas costas dele é perfeito, mas ficar na cabeça é muito ruim, e é terrível ficar no seu globo ocular. Bem, quando resolvemos consultá-lo, o nosso homem do fung sui disse que estávamos sobre as costas do Dragão, graças a Deus, caso contrário teríamos que nos mudar, mas que os demônios estavam entrando pela porta, e que essa era a razão dos problemas. Ele me aconselhou a mudar a porta de posição, e assim, sob a orientação dele, mudamos o ângulo, e agora todos os demônios foram afastados.

Ela riu.

— Agora, conte-me o verdadeiro motivo.

— Fung sui. Tivemos muito azar por aqui, um azar dos diabos, para falar a verdade, até que a porta foi mudada. — O rosto dele se endureceu momentaneamente, depois a sombra passou. — No momento em que modificamos o ângulo, tudo ficou bom novamente.

— Está querendo me dizer que acredita mesmo nisso? Em demônios e dragões?

— Não acredito em nada disso. Mas a gente aprende, a duras penas, que quando se está na China é bom agir um pouco à chinesa. Nunca se esqueça de que, embora Hong Kong seja britânica, ainda fica na China.

— Aprendeu a du...

O elevador parou e a porta se abriu, dando para um corredor de lambris, uma escrivaninha e uma recepcionista chinesa elegante e eficiente. Os olhos dela avaliaram instantaneamente o preço das roupas de Casey.

"Vaca", pensou Casey, lendo os pensamentos dela, e retribuiu o sorriso com igual doçura.

— Bom dia, tai-pan — disse suavemente a recepcionista.

— Mary, esta é a srta. K. C. Tcholok. Por favor, leve-a ao escritório do Sr. Struan.

— Ah, mas... — Mary Li tentou disfarçar o choque. — Eles, bem, estão esperando um... — Pegou no telefone, mas ele a deteve.

— Basta levá-la. Agora. Não há necessidade de anunciá-la. — Virou-se para Casey e sorriu. — É a sua vez. Até breve.

— Obrigada. Até logo.

— Por favor, queira vir comigo, srta. Tchuluk — falou Mary Li, e começou a descer o corredor, com o cheong-sam justo e aberto no alto das coxas, pernas longas com meias de seda e andar atrevido. Casey observou-a por um momento. "Deve ser o corte que torna o andar delas tão descaradamente sensual", pensou, achando divertida tal demonstração óbvia. Lançou um olhar para Dunross, e alçou uma das sobrancelhas.

Ele abriu um sorriso.

— Até logo, srta. Tcholok.