— Phillip Chen, é claro, mas a velha raposa não diria aos outros. Aposto cem que nem Linbar, nem Jacques ou Andrew Gavallan sabiam.
— Fechado — disse Claudia, satisfeita. — Pode me pagar agora, tai-pan. Verifiquei muito discretamente, hoje de manhã.
— Tire o dinheiro da caixa das despesas — disse ele, com azedume.
— Desculpe. — Estendeu a mão. — Aposta é aposta, tai-pan.
Relutante, ele lhe entregou a nota vermelha de cem dólares.
— Obrigada. Agora, aposto cem que Casey Tcholok vai dar um banho no Patrão Linbar, Patrão Jacques e em Andrew Gavallan.
— O que você está sabendo? — perguntou ele, desconfiado. — Hem?
— Cem?
— Está bem.
— Excelente! — exclamou ela, vivamente, mudando de assunto. — E quanto aos jantares para o Sr. Bartlett? A partida de golfe e a viagem a Taipé? Claro que não vai poder levar uma mulher junto. Devo cancelá-los?
— Não. Vou falar com Bartlett... ele vai compreender. Mas convidei-a para vir com ele às corridas de sábado.
— Ih, vai haver um casal a mais. Vou cancelar os Pangs, não se importarão. Quer sentá-los juntos, à sua mesa? Dunross franziu o cenho.
— Ela deve sentar-se à minha mesa, como convidada de honra, e sente-o ao lado de Penelope, como convidado de honra.
— Pois não. Vou ligar para a sra. Dunross e avisá-la. Ah, e Barbara, a mulher do Patrão John, quer falar com o senhor. — Claudia deu um suspiro e alisou um vinco no seu elegante cheong-sam azul-escuro. — O Patrão John não voltou para casa ontem à noite, não que isso seja algo fora do comum. Mas já são dez e dez, e também não consigo encontrá-lo. Parece que nem compareceu à oração matinal.
— Ê, eu sei. Como ficou com Bartlett ontem à noite, disse-lhe que não precisava comparecer. — Oração matinal era o modo brincalhão com que o pessoal da Struan se referia à reunião obrigatória, realizada todos os dias às oito horas, com todos os diretores administrativos de todas as subsidiárias da Struan e o tai-pan. — Não havia necessidade de ele vir hoje, não tem nada para fazer até a hora do almoço. — Dunross apontou pela janela para o porto. — Está provavelmente no seu barco. Hoje é um dia excelente para se velejar.
— Ela estava muito exaltada, tai-pan, até mesmo pelos padrões dela.
— Ela está sempre exaltada, pobre coitado! John está no barco dele... ou no apartamento de Ming-li. Já ligou para lá?
Ela fungou.
— Seu pai costumava dizer que em boca fechada não entra mosca. Mesmo assim, acho que agora posso lhe contar. Há quase dois meses que Ming-li é a Namorada Número Dois. A nova favorita se chama Flor Fragrante, e ocupa um dos "apartamentos particulares" dele, perto da Aberdeen Main Road.
— Ah, por acaso perto do ancoradouro dele.
— Isso mesmo. Ela é bem uma flor, uma Flor Caída do Cabaré Dragão da Boa Sorte, em Wanchai. Mas também não sabe onde está o Patrão John. Não visitou nenhuma das duas, embora tivesse um encontro marcado com a srta. Flor Caída à meia-noite, segundo ela.
— Como descobriu tudo isso? — perguntou, cheio de admiração.
— Poder, tai-pan... e uma rede de relações construída ao longo de cinco gerações. De que outro modo sobrevivemos, heya? — Deu uma risadinha abafada. — Claro, se quiser um gostinho de escândalo de verdade, John Chen não sabe que ela não era a virgem que ela e seu agente alegavam que era, quando deitou com ela pela primeira vez.
— Hem?
— Não. Pagou ao agente... — Um dos telefones tocou e ela o apanhou e disse: — Um momento, por favor — apertou o botão de espera e continuou alegremente, no mesmo fôlego —...quinhentos dólares americanos à vista, mas todas as lágrimas dela, e todas as... provas, eram fingimento. Pobre coitado, mas bem feito, hem, tai-pan? Por que um homem da idade dele ia querer virgindade para nutrir o yang... ele tem só quarenta e dois anos, heya? — Apertou o botão que soltava a ligação. — Escritório do tai-pan, bom dia — disse, educadamente.
Ele a observava. Sentia-se divertido e perplexo, atônito como sempre com suas fontes de informação, incisivas ou não, e com sua alegria em conhecer segredos. E passá-los adiante. Mas só para os membros do clã, e alguns escolhidos especiais.
— Um momento, por favor. — Apertou o botão de espera. — O superintendente Armstrong gostaria de vê-lo. Está lá embaixo com o superintendente Kwok. Lamenta ter vindo sem marcar hora, mas será que o senhor poderia dar-lhes um momento de atenção?
— Ah, as armas. Nossa polícia fica mais eficiente a cada dia que passa — falou, com um sorriso sombrio. — Só os esperava depois do almoço.
Às sete da manhã recebera um relatório detalhado de Phillip Chen, que recebera um telefonema de um dos sargentos da polícia que participara da batida e era parente dos Chens.
— Ponha todas as nossas fontes particulares em ação para descobrir quem e por quê, Phillip — dissera, muito preocupado.
— Foi o que já fiz. É coincidência demais que as armas estivessem no avião de Bartlett.
— Poderá ser altamente embaraçoso se por acaso estivermos ligados a isso, de qualquer modo.
Viu que Claudia esperava pacientemente.
— Peça a Armstrong para me dar dez minutos. Depois, faça-os subir.
Ela tratou disso, depois falou:
— Se o superintendente Kwok já entrou na jogada tão cedo, deve ser mais sério do que imaginávamos, heya, tai-pan?
— A Seção Especial ou o Serviço Especial de Informações têm que se envolver imediatamente. Aposto que o FBI e a CIA já foram contatados. Brian Kwok é a escolha lógica, porque é um velho amigo de Armstrong... e um dos melhores homens que eles têm.
— É mesmo — concordou Claudia, orgulhosamente. — Eeeee, mas que marido fabuloso daria!
— Especialmente para uma Chen... tanto poder a mais, heya?
Era voz corrente que Brian Kwok estava sendo preparado para ser o primeiro-comissário assistente chinês.
— Naturalmente que um poder desses tem que ficar na família. — O telefone tocou. Ela atendeu. — Sim, direi a ele, obrigada. — Pôs o fone no gancho, abespinhada. — O camarista do governador... ligou para relembrar o coquetel de hoje, às dezoito horas... humm, como se eu fosse esquecer!
Dunross pegou um dos telefones e discou.
— Weyyyy? — disse a voz áspera da amah, a empregada chinesa. — Alô?
— Chen tai-tai — falou ao telefone, no seu cantonense perfeito. — A sra. Chen, por favor. Aqui fala o Sr. Dunross.
Esperou.
— Ah, Barbara, bom dia.
— Oh, alô, Ian. Já teve notícias do John? Desculpe incomodá-lo — falou.
— Não é incômodo algum. Não, ainda não. Mas tão logo saiba dele, mandarei que ligue para você. Pode ter ido cedo à pista para ver Golden Lady treinar. Já tentou o Turf Club?
— Já, mas não se lembram de o terem visto tomando café ali, e os treinos são entre cinco e seis horas. Que droga! Ele não tem consideração alguma! Ayeeyah, homens!
— Provavelmente está no barco. Não tem nada para fazer aqui até a hora do almoço, e está um dia excelente para velejar. Sabe como ele é... já verificou no ancoradouro?
— Não posso, Ian, não sei ir até lá, não há telefone. Tenho hora marcada no cabeleireiro, e não posso faltar... Hong Kong inteira estará na sua festa, logo mais... simplesmente não posso ir a Aberdeen.
— Mande um dos seus motoristas — disse Dunross, secamente.
— Tang está de folga hoje, e preciso de Wu-chat para me levar aos meus compromissos, Ian. Não dá para mandá-lo a Aberdeen... isso levaria uma hora, e tenho um jogo de tnah-jong das duas às quatro.
— Mandarei John ligar para você, mais ou menos na hora do almoço.
— Antes das cinco não estarei em casa. Quando eu o encontrar, ele vai comer fogo. Oh, bem, obrigada, desculpe incomodá-lo. Até logo.
— Até logo. — Dunross desligou o aparelho e deu um suspiro. — Sinto-me como se fosse uma ama-seca.