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— Sim, senhor.

— Jure formalmente.

— Juro por Deus que estas atas serão secretas e nunca divulgadas a ninguém, exceto ao meu sucessor.

— Tome. — O tai-pan entregou-lhe um pergaminho, amarelecido pelo tempo. — Leia em voz alta.

Dunross segurou o papel. A letra era irregular, mas perfeitamente legível. Olhou para a data — 30 de agosto de 1841 — e ficou ainda mais excitado.

— Esta é a letra de Dirk Struan?

— É. Quase tudo foi escrito por ele, mas o filho, Culum Struan, acrescentou uma parte. Claro que temos fotocópias, para o caso de se danificar. Leia!

— "Meu legado comprometerá todo tai-pan que me suceder, e ele o lerá em voz alta e jurará por Deus, diante de testemunhas, da maneira estabelecida por mim, Dirk Struan, fundador da Struan e Companhia, aceitá-lo e mantê-lo para sempre em segredo, antes de assumir ele próprio o meu cargo. Faço esta exigência para assegurar continuidade e prevendo as dificuldades que, nos anos seguintes, envolverão meus sucessores, por causa do sangue que derramei devido às minhas dívidas de honra, e por causa das excentricidades dos caminhos da China, à qual estamos unidos, e que são, sem dúvida, únicos na terra. Este é o meu legado:

" 'Primeiro: Haverá apenas um tai-pan de cada vez, e ele terá autoridade total, absoluta sobre a companhia, poder para empregar ou despedir todos os outros, autoridade sobre todos os nossos comandantes e nossos navios e companhias, estejam onde estiverem. O tai-pan está sempre só, e esta é a alegria e a mágoa da posição. Sua privacidade deve ser preservada por todos, e suas costas protegidas por todos. O que ordenar deverá ser obedecido, e nenhum comitê, grupo ou círculo interno que possa diminuir esse poder absoluto jamais será formado ou permitido na companhia.

" 'Segundo: Quando o tai-pan estiver no tombadilho de qualquer dos nossos navios, terá precedência sobre o comandante do mesmo, e suas ordens de batalha ou de navegação serão lei. Todos os comandantes lhe jurarão obediência, diante de Deus, antes de serem admitidos aos nossos navios.

" 'Terceiro: O tai-pan escolherá sozinho o seu sucessor, que será selecionado entre os seis homens componentes de uma assembléia interna. Desses homens, um será o representante nativo da firma, que pertencerá, perpetuamente, à Casa de Chen. Os outros cinco serão homens dignos de ser o tai-pan, bons e fiéis, com um mínimo de cinco anos de serviços prestados à companhia como mercadores da China, e sadios de espírito. Deverão ser cristãos e pertencer ao clã Struan por nascimento ou casamento — a minha linhagem e a linhagem do meu irmão Robb não terão precedência, salvo por firmeza e pelas qualidades acima, além de todas as outras. Essa assembléia interna poderá servir de assessoria ao tai-pan, se ele assim o desejar, mas que fique bem claro novamente: o voto do tai-pan terá o peso de sete contra um, para cada membro.

" 'Quarto: Se o tai-pan perder-se no mar, morrer em batalha, ou ficar desaparecido durante seis meses lunares, antes de ter escolhido o seu sucessor, então a assembléia interna elegerá um dos seus membros para sucedê-lo, cada membro tendo direito a um voto, com exceção do voto do representante nativo, que valerá por quatro. O tai-pan então prestará o mesmo juramento que os antecessores, diante da assembléia — aqueles que tiverem votado contra a sua eleição em cédula aberta serão expulsos imediatamente, e para sempre, da companhia, sem remuneração.

" 'Quinto: A eleição para a assembléia interna, ou a demissão da referida assembléia, realizar-se-á exclusivamente ao bel-prazer do tai-pan, que, na época da sua aposentadoria, que ocorrerá quando bem lhe aprouver, não levará mais do que dez partes de cada cem de todos os valores para si mesmo, exceto que todos os nossos navios serão sempre excluídos de qualquer inventário... nossos navios, seus comandantes e tripulações são o nosso sangue vital e a nossa garantia para o futuro.

" 'Sexto: Cada tai-pan deverá aprovar a eleição do representante nativo da companhia. Este deverá declarar, por escrito, antes da sua eleição, que sabe que poderá ser demitido do cargo a qualquer momento, sem necessidade de explicações, e que se afastará se este for o desejo do tai-pan.

" 'Último: O tai-pan dará posse ao seu sucessor, que terá escolhido sozinho, na presença do representante nativo, usando as palavras escritas por minha mão na Bíblia da família, aqui em Hong Kong, neste trigésimo dia de agosto, do ano de Nosso Senhor de 1841.'"

Dunross soltou a respiração.

— Está assinado por Dirk Struan e testemunhado por... não consigo ler os caracteres chineses, senhor, são arcaicos.

Alastair lançou um olhar a Phillip Chen, que disse:

— A primeira testemunha é o pai adotivo de meu avô, Chen Sheng Arn, nosso primeiro representante nativo. A segunda é minha tia-avó, T'Chung Jin May-may.

— Então a lenda é verdadeira! — exclamou Dunross.

— Parte dela. É, parte dela. — Phillip Chen acrescentou: — Converse com minha tia Sarah. Agora que vai ser o tai-pan, ela lhe contará muitos segredos. Ela vai fazer oitenta e quatro anos este ano, e se lembra do meu avô, Sir Gordon Chen, muito bem, e de Duncan e Kate T'Chung, os filhos de May-may com Dirk Struan. É, lembra-se de muitas coisas...

Alastair Struan foi até a escrivaninha laqueada e tirou de lá, com muito cuidado, a pesada Bíblia puída. Colocou os óculos, e Dunross sentiu os pêlos da nuca ficarem em pé.

— Repita comigo: "Eu, Ian Struan Dunross, da família dos Struans, cristão, juro diante de Deus, na presença de Alastair McKenzie Duncan Struan, décimo primeiro tai-pan, e Phillip T'Chung Sheng Chen, quarto representante nativo da companhia, que obedecerei a todo o legado lido por mim na presença deles, aqui em Hong Kong, que ligarei ainda mais a companhia a Hong Kong e ao comércio chinês, que manterei a sede do meu negócio aqui em Hong Kong, enquanto for tai-pan, e que, diante de Deus, assumo as promessas, responsabilidades e a palavra de honra de cavalheiro de Dirk Struan ao seu eterno amigo Chen-tse Jin Arn, também conhecido como Jin-qua, ou aos seus sucessores; mais ainda, que..."

— Que promessas?

— Você tem que jurar por Deus, cegamente, como todos os tai-pans fizeram antes de você! Não vai demorar a saber o que herdou.

— E se não jurar?

— Sabe qual a resposta a isto!

A chuva fustigava as janelas, e sua violência parecia a Dunross igualar o bater forte do seu coração, enquanto sopesava a insanidade de assumir o compromisso de uma incógnita.

Mas sabia que não poderia ser tai-pan se não o fizesse, e assim disse as palavras e assumiu o compromisso perante Deus, e continuou a repetir as palavras lidas para ele.

— "... mais ainda, que usarei todos os poderes, e quaisquer meios, para manter a companhia firme como a Primeira Casa, a Casa Nobre da Ásia, que juro por Deus cometer qualquer feito necessário para subjugar, destruir e expulsar a companhia chamada Brock e Filhos, especialmente o meu inimigo, seu fundador, Tyler Brock, seu filho Morgan, seus herdeiros ou qualquer um da sua linhagem, excetuando apenas Tess Brock e sua filha, mulher de meu filho Culum, da face da Ásia..."

Dunross parou de novo.

— Depois de terminar, pode perguntar o que quiser — falou Alastair Struan. — Termine!

— Pois bem. "Por último: Juro perante Deus que meu sucessor como tai-pan também jurará obediência perante Deus a todo este legado, que Deus me ajude!"

Agora o silêncio era rompido apenas pela chuva fustigando as janelas. Dunross podia sentir o suor molhando-lhe as costas.

Alastair Struan largou a Bíblia e tirou os óculos.

— Pronto, acabou. — Tensamente, estendeu a mão. — Gostaria de ser o primeiro a cumprimentá-lo, tai-pan. Pode contar comigo para ajudá-lo no que precisar.

— Sinto-me honrado em ser o segundo, tai-pan — disse Phillip Chen com uma leve curvatura, também formalmente.

— Obrigado.