— Sim, tai-pan. Ouvi dizer que Havergill vai se aposentar.
— Que maravilha! Quem vai tomar o seu lugar?
— Ninguém sabe, ainda.
— Tomara que seja o Johnjohn. Ponha seus espiões para trabalhar. Aposto cem como descubro antes de você!
— Fechado!
— Ótimo. — Dunross estendeu a mão e falou, docemente: — Pode ir me pagando. É o Johnjohn.
— Hem?
Ela o fitou, aparvalhada.
— Decidimos ontem à noite... todos os diretores. Pedi-lhes para não dizerem a ninguém até as onze horas de hoje.
Relutante, ela apanhou a nota de cem dólares e entregou a ele.
— Ayeeyah, eu gostava especialmente desta nota.
— Obrigado — falou Dunross, pondo-a no bolso. — Eu também gosto dela, especialmente.
Bateram à porta.
— Sim? — falou ele.
A porta foi aberta por Sandra Yi, a secretária particular de Dunross.
— Com licença, tai-pan, mas o mercado subiu dois pontos, e Holdbrook está na linha 2.
Alan Holdbrook era o chefe da companhia de corretagem da casa.
Dunross apertou o botão da linha 2.
— Claudia, logo que eu acabar, pode trazer Armstrong. Ela saiu com Sandra Yi.
— Sim, Alan?
— Bom dia, tai-pan. Primeiro: corre à boca pequena que vamos fazer uma oferta para o controle das Propriedades Asiáticas.
— Isso foi provavelmente espalhado por Jason Plumm, para aumentar o valor de suas ações antes da reunião anual deles. Sabe como é esperto o filho da mãe.
— Nossas ações subiram dez centavos, talvez por causa do boato.
— Ótimo. Compre-me vinte mil imediatamente.
— Com margem de lucro?
— Claro que sim.
— Certo. Segundo boato: fechamos um negócio multi-milionário com as Indústrias Par-Con... grandes expansões.
— Fantasias — falou Dunross, com naturalidade, perguntando-se furiosamente onde estariam os "vazamentos". Apenas Phillip Chen e, em Edimburgo, Alastair Struan e o velho Sean MacStruan deviam saber da trama para esmagar as Propriedades Asiáticas. E a transação da Par-Con era secretíssima, apenas de conhecimento da assembléia interna.
— Terceiro: há alguém comprando grandes lotes das nossas ações.
— Quem?
— Não sei. Mas há alguma coisa ocorrendo que não me cheira bem, tai-pan. O jeito que nossas ações vêm subindo devagar, neste último mês... Não vejo motivo para isso, exceto um comprador, ou compradores. A mesma coisa com a Rothwell-Gornt. Ouvi dizer que um lote de duzentas mil foi comprado no exterior.
— Descubra quem comprou.
— Santo Deus, gostaria de saber como. O mercado está instável, muito nervoso. Um bocado de dinheiro chinês flutuando por aí. Muitas pequenas transações acontecendo... umas poucas ações aqui, outras ali, mas multiplicadas por cerca de cem mil... o mercado pode começar a desabar... ou subir vertiginosamente.
— Ótimo. Então todos vamos ter um lucro e tanto. Ligue para mim antes de o mercado fechar. Obrigado, Alan. — Desligou o aparelho, sentindo as costas molhadas de suor. — Merda — falou em voz alta. — Mas que diabo está acontecendo?
Na ante-sala, Claudia Chen examinava alguns papéis com Sandra Yi, que era sua sobrinha por parte de mãe... inteligente, bonita, vinte e sete anos, e uma cabeça como um ábaco. A seguir, olhou para o relógio e disse, em cantonense:
— O superintendente Brian Kwok está lá embaixo, por que não vai buscá-lo, Irmãzinha... daqui a seis minutos?
— Ayeeyah, sim, Irmã Mais Velha!
Sandra Yi deu uma retocada rápida na maquilagem e saiu. Claudia sorriu ao vê-la se afastar, e pensou que Sandra Yi seria perfeita... a escolha perfeita para Brian Kwok. Feliz, sentou-se à sua mesa e começou a datilografar os telex. "Tudo o que tinha que ser feito foi feito", disse para si mesma. "Não, algo que o tai-pan disse... O que foi mesmo? Ah, sim!" Ligou para a sua casa.
— Weyyyyy? — atendeu a sua amah, Ah Sam.
— Escute, Ah Sam — perguntou em cantonense —, a Terceira Arrumadeira Fung, do Vic, não é sua prima em terceiro grau?
— Ah, sim, Mãe — respondeu Ah Sam, usando o modo polido com que a criada se dirigia à patroa. — Mas é em quarto grau, e dos Fung-tats, não dos Fung-sams, que é o meu ramo.
— Não importa, Ah Sam. Ligue para ela e descubra tudo o que puder sobre os dois demônios estrangeiros da Montanha Dourada. Estão na suíte Riacho Fragrante. — Pacientemente, soletrou os seus nomes, depois acrescentou, com delicadeza: — Ouvi dizer que têm hábitos de cama peculiares.
— Ayeeyah, se alguém for capaz de descobrir, esse alguém é a Terceira Arrumadeira Fung. Ah! Peculiares, como?
— Peculiares, estranhos, Ah Sam. Trate logo disso, sua danadinha.
Abriu um amplo sorriso e desligou.
As portas do elevador se abriram e Sandra Yi fez entrar os dois policiais, depois foi embora, relutante. Brian Kwok ficou olhando enquanto ela se afastava. Tinha trinta e nove anos, era alto para um chinês, passava um pouco de um metro e oitenta, bonitão, com cabelos negro-azulados. Os dois homens estavam à paisana. Claudia Chen conversou educadamente com eles, mas no momento em que viu a luz da linha 2 se apagar, fê-los entrar na outra sala e fechou a porta.
— Desculpe aparecer sem marcar hora — disse Armstrong.
— Não esquente a cabeça, Robert. Está com cara de cansado.
— Uma noite pesada. É todo esse banditismo à solta em Hong Kong — falou Armstrong, descontraidamente. — Abundam os homens maus, e os santos são crucificados.
Dunross sorriu, depois lançou um olhar para Kwok.
— E que tal a vida, Brian? Brian Kwok também sorriu.
— Muito boa, obrigado, Ian. O mercado de capitais está alto... tenho alguns dólares no banco, meu Porsche ainda não caiu aos pedaços, e as damas continuam a existir.
— Graças a Deus! Vai subir a colina no domingo?
— Se puder botar a Lulu em forma. Está lhe faltando um acoplamento hidráulico de direita.
— Já tentou na nossa loja?
— Já. Não dei sorte, tai-pan. Você vai?
— Depende. Tenho que ir a Taipé no domingo à tarde... irei se tiver tempo. De qualquer forma, inscrevi-me. Que tal o sei?
Brian Kwok abriu um sorriso.
— É melhor do que trabalhar para viver.
O Serviço Especial de Informações era um departamento completamente independente dentro da semi-secreta Seção Especial, o departamento de elite responsável pela prevenção e detecção de atividades subversivas na colônia. Tinha os seus modos de agir secretos, fundos secretos e poderes quase absolutos. Respondia exclusivamente ao governador.
Dunross recostou-se na cadeira.
— O que há? Armstrong disse:
— Estou certo de que já sabe. É sobre as armas no avião de Bartlett.
— Ah, é, ouvi dizer, hoje de manhã. Como posso ajudar? Tem alguma idéia de para onde se destinavam? E por quem foram enviadas? Pegou dois homens?
Armstrong deu um suspiro.
— Peguei. Eram mesmo mecânicos de verdade... os dois previamente treinados pela Força Aérea Nacionalista. Nenhuma ficha criminal anterior, embora sejam suspeitos de pertencer a tríades secretas. Ambos estão aqui desde o êxodo de 1949. A propósito, podemos manter isso confidencial, só entre nós três?
— E quanto aos seus superiores?
— Gostaria também de incluí-los... mas não conte a mais ninguém.
— Por quê?
— Temos motivos para crer que as armas destinavam-se a alguém na Struan.
— Quem? — perguntou Dunross, bruscamente.
— Confidencial.
— Sei. Quem?
— O que sabe a respeito de Lincoln Bartlett e Casey Tcholok?
— Temos um dossiê detalhado sobre ele... mas não sobre ela. Gostaria de vê-lo? Posso lhe dar uma cópia, desde que também seja considerada confidencial.
— Naturalmente. Seria uma grande ajuda. Dunross apertou o intercomunicador.
— Sim, senhor? — disse a voz de Claudia.