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— Faça uma cópia do dossiê de Bartlett e entregue-a ao superintendente Armstrong na saída.

Dunross desligou o intercomunicador.

— Não vamos tomar muito mais do seu tempo — falou Armstrong. — Sempre faz dossiê dos clientes em potencial?

— Não. Mas gostamos de saber com quem estamos lidando. Se o negócio com Bartlett for fechado, pode significar milhões para nós, para ele, mil novos empregos para Hong Kong... fábricas, depósitos, uma grande expansão... juntamente com riscos igualmente grandes. Todos os empresários fazem um levantamento financeiro confidencial... talvez sejamos mais meticulosos. Aposto cinqüenta dólares contra um alfinete quebrado que ele tem um dossiê sobre mim.

— Nenhuma ligação criminosa foi mencionada? Dunross ficou espantado.

— Máfia? Esse tipo de coisa? Santo Deus, nada. Além disso, se a Máfia estivesse tentando entrar aqui, não iria mandar apenas dez rifles Ml4, duas mil balas e uma caixa de granadas.

— Sua informação é boa pra cachorro — interrompeu Brian Kwok. — Boa demais. Desempacotamos o material só faz uma hora. Quem é seu informante?

— Sabe que não há segredos em Hong Kong.

— Não se pode confiar nem nos nossos tiras, hoje em dia.

— A Máfia certamente enviaria um carregamento vinte vezes maior do que esse, e seriam armas portáteis, estilo americano. Mas a Máfia na certa falharia aqui, não importa o que fizesse. Jamais poderia substituir as nossas tríades. Não, não pode ser a Máfia. Tem que ser alguém do lugar. Quem lhe deu a dica sobre o carregamento, Brian?

— A polícia do aeroporto de Tóquio — falou Kwok. — Um dos mecânicos deles estava fazendo uma inspeção de rotina... sabe como são meticulosos. Relatou a descoberta ao seu superior, a polícia deles nos telefonou, e nós mandamos deixar passar.

— Nesse caso entre em contato com o FBI e a CIA... mande que verifiquem o que houve em Honolulu... ou Los Angeles.

— Também viu o plano de vôo?

— Claro. É óbvio. Por que alguém da Struan?

— Os dois bandidos disseram... — Armstrong pegou o seu bloquinho e consultou-o. — A nossa pergunta foi: "Para onde deviam levar os embrulhos?" Ambos responderam, usando palavras diferentes: "Para o barracão 15, devíamos colocar os pacotes no compartimento número 7, nos fundos".

Ergueu os olhos para Dunross.

— Isso não prova nada. Temos os maiores depósitos em Kai Tak... só porque iam levá-los para um dos nossos barracões, não prova nada... exceto que são espertos. Temos tanta mercadoria em circulação, que seria fácil para um caminhão de fora entrar. — Dunross pensou por um momento. — O número 15 fica junto da saída... localização perfeita. — Estendeu a mão para o telefone. — Vou pôr minha segurança no circuito, agora mes...

— Por favor, agora não.

— Por quê?

— Nossa pergunta seguinte foi: "Quem os contratou?" Claro que nos deram nomes e descrições fictícios, e negaram tudo, mas não tardarão a ser mais prestimosos. — Deu um sorriso sombrio. — Um deles falou, contudo, quando um dos meus sargentos torcia um pouco a sua orelha, de modo figurado, é claro — leu no bloquinho: — "Deixe-me em paz, tenho amigos muito importantes!" "Não tem nenhum amigo no mundo", falou o sargento. "Pode ser, mas o Honorável Tsu-yan tem, e o Chen da Casa Nobre tem."

O silêncio foi longo e pesado. Esperaram. "Aquelas armas amaldiçoadas!", pensou Dunross, furioso. Mas manteve a fisionomia calma e ficou mais atento.

— Temos mais de uma centena de Chens trabalhando para nós, aparentados ou não... Chen é um nome tão comum quanto Smith.

— E Tsu-yan? — perguntou Brian Kwok. Dunross deu de ombros.

— É diretor da Struan... mas também é diretor do Blacs, do Victoria Bank e de quarenta outras companhias, um dos homens mais ricos de Hong Kong, e um nome que qualquer um na Ásia poderia citar facilmente. Como o Chen da Casa Nobre.

— Sabe que suspeitam que ele seja muito graduado na hierarquia das tríades... especialmente na Pang Verde? — perguntou Brian Kwok.

— Todo xangaiense importante é igualmente suspeito. Meus Deus, Brian, você sabe que dizem que Chang Kai-chek entregou Xangai à Pang Verde há anos, como seu distrito exclusivo, em troca do apoio deles na sua campanha setentrional contra os senhores da guerra. A Pang Verde ainda não é, mais ou menos, uma sociedade secreta nacionalista oficial? Brian Kwok disse:

— Onde foi que Tsu-yan ganhou o seu dinheiro, Ian? Sua primeira fortuna?

— Não sei. Conte-me, Brian.

— Ganhou-a durante a Guerra da Coréia, contrabandeando penicilina, drogas e gasolina, especialmente penicilina, para o outro lado da fronteira, para os comunistas. Antes da Coréia, tudo o que tinha era uma tanga e um jinriquixá desconjuntado.

— São boatos, Brian.

— A Struan também fez fortuna.

— É. Mas seria muito pouco sensato sugerir que a fizemos contrabandeando... pública ou particularmente — falou Dunross, suavemente. — Muito pouco sensato, realmente.

— E não fizeram?

— A Struan começou com um pouco de contrabando há cento e vinte e tantos anos, segundo consta, mas era uma profissão honrada, e nunca contra a lei britânica. Somos capitalistas tementes à lei e mercadores da China, e o temos sido há anos.

Brian Kwok não sorriu.

— Outros boatos dizem que um bocado da penicilina dele não prestava. Não prestava mesmo.

— Se não prestava, se isso for verdade, por favor, vá prendê-lo, Brian — disse Dunross, friamente. — Pessoalmente, acho que é mais um boato espalhado por competidores invejosos. Se isso fosse verdade, ele estaria boiando na baía, com os outros que tentaram, ou seria punido, como Wong Pó Estragado.

Referia-se a um contrabandista de Hong Kong que vendera grande quantidade de penicilina estragada para o outro lado da fronteira, durante a Guerra da Coréia, e investira sua fortuna em ações e terras em Hong Kong. Dentro de sete anos, estava riquíssimo. E então, certas tríades de Hong Kong tiveram ordens para acertar as contas. Cada semana um membro da família dele desaparecia, ou morria. Por afogamento, acidente de carro, estrangulamento, veneno ou arma branca. Nenhum assaltante jamais foi preso. A matança continuou por dezessete meses e três semanas, e depois parou. Apenas ele e um neto, um bebê meio retardado, sobreviveram. Ainda viviam, enfurnados no mesmo vasto apartamento de cobertura, outrora luxuoso, com um criado e um cozinheiro, apavorados, vigiados dia e noite, sem jamais sair de casa... sabendo que nem guardas nem dinheiro algum no mundo seriam capazes de impedir a inexorabilidade da sua sentença, publicada num quadrinho minúsculo de um jornal chinês locaclass="underline" "Wong Pó Estragado será punido, ele e todas as suas gerações". Brian Kwok disse:

— Entrevistamos o sujeito certa vez, Robert e eu.

— Não diga!

— É assustador. Todas as portas têm trancas duplas e correntes, todas as janelas são fechadas com tábuas e pregos... só uns buraquinhos aqui e ali, por onde espiar. Ele não saiu de casa desde que a matança começou. O lugar fedia, meu Deus, mas como fedia! Só o que ele faz é jogar damas com o neto e ver televisão.

— E esperar — disse Armstrong. — Um dia irão atrás dos dois. O neto deve estar agora com uns sete ou oito anos.

Dunross disse:

— Acho que você provou o que eu disse. Tsu-yan não é como ele, e nunca foi. E qual a utilidade de uns poucos Ml4 para Tsu-yan? Imagino que, se quisesse, poderia reunir metade do exército nacionalista, junto com um batalhão de tanques.

— Em Formosa, mas não em Hong Kong.

— Tsu-yan já esteve alguma vez envolvido com Bartlett? — perguntou Armstrong. — Nas suas negociações?

— Já. Esteve uma vez em Nova York, e em Los Angeles, nos representando. Ambas as vezes com John Chen. Eles deram início ao acordo entre a Struan e as Indústrias Par-Con, que deverá ser ultimado... ou abandonado... aqui, este mês, e convidaram Bartlett formalmente para vir a Hong Kong, em meu nome.