— Não, obrigada, Sr. Struan — falou Casey, tratando de se adaptar aos costumes deles, e não chamá-los muito cedo pelos nomes de batismo. — Vamos discutir esta proposta? É a que lhe enviamos no mês passado... tentei dar atenção aos seus problemas, assim como aos nossos.
Fez-se novo silêncio. Linbar Struan, trinta e quatro anos, bonitão, com cabelos avermelhados e olhos azuis com um brilho atrevido, insistiu:
— Tem certeza de que não quer um pouco de café? Quem sabe um chá?
— Não, obrigada. Então, aceitam a nossa proposta como está?
Phillip Chen tossiu e disse:
— Em princípio, concordamos em negociar com a Par-Con em diversas áreas. Os tópicos do contrato indicam isso. Quanto às fábricas de poliuretano...
Casey escutou as generalizações dele, depois tentou mais uma vez descer às especificações... que eram o motivo daquela reunião. Mas a parada era dura, e podia senti-los refugando. Nunca tinha sido tão difícil. "Talvez seja porque são ingleses, e eu ainda não tinha lidado com os ingleses."
— Há alguma coisa específica que necessite ser esclarecida? — perguntou. — Se existe algo que não compreendem...
— Compreendemos muito bem — disse Gavallan. — A senhorita nos apresenta números tendenciosos. Estamos financiando a construção das fábricas. Vocês nos fornecem as máquinas, mas o custo delas é amortizado ao longo de três anos, o que anulará qualquer fluxo de caixa, e significará lucro nenhum durante pelo menos cinco anos.
— Disseram-me que é costume aqui em Hong Kong amortizar o custo total de uma construção num período de três anos — replicou ela, igualmente brusca, contente por ter sido desafiada. — Estamos nos propondo a seguir os seus costumes. Se quiserem cinco... ou dez anos... tê-los-ão, desde que o mesmo se aplique à construção.
— Vocês não estão pagando pelas máquinas... são arrendadas, e o custo mensal para a joint venture¹ é alto.
— Qual a prime rate² do seu banco hoje, Sr. Gavallan? Consultaram o banco, depois deram-lhe a resposta. Ela usou sua régua de cálculo de bolso durante alguns segundos. — À taxa de hoje, poupariam dezessete mil HK por semana por máquina, se aceitassem a nossa proposta, que, no período que estamos discutindo... — mais um cálculo rápido — aumentaria sua parte dos lucros em trinta e dois por cento acima do máximo que conseguiriam... e olhe que estamos falando em milhões de dólares.
¹ "Sociedade em conta de participação." (N. da T.)
² "Taxa de juro preferencial." (N. da T.)
Eles a fitaram em silêncio.
Andrew Gavallan fez-lhe novas perguntas sobre os números em questão, mas ela não vacilou nem uma vez. A antipatia que sentiam por ela aumentou.
Silêncio.
Estava certa de que eles estavam confusos com os números que apresentara. "O que mais posso fazer para convencê-los?", pensou, ficando cada vez mais ansiosa. "A Struan vai ganhar uma bolada se eles se mexerem, nós faremos uma fortuna, e eu finalmente vou ganhar o meu dinheiro do não enche. Basta a parte da espuma para enriquecer a Struan, e a Par-Con vai ganhar quase oitenta mil dólares líquidos por mês durante os próximos dez anos, e Linc falou que eu podia ficar com uma parte."
— Quanto você quer? — ele lhe perguntara, pouco antes de terem saído dos Estados Unidos.
— Cinqüenta e um por cento — respondera, dando uma risada —, já que você está perguntando.
— Três por cento.
— Qual é, Linc, preciso do meu dinheiro do não enche.
— Feche o negócio todo e terá uma opção de compra de cem mil ações da Par-Con a quatro dólares abaixo do preço de mercado.
— Pode contar comigo. Mas quero a companhia de espuma também — dissera, prendendo a respiração. — Fui eu que a comecei, e eu a quero: cinqüenta e um por cento. Para mim.
— Em troca do quê?
— Da Struan.
— Fechado.
Casey esperou, aparentemente calma. Quando julgou que era o momento correto, perguntou, inocentemente:
— Estamos de acordo, então, em que a proposta é aceita como está? Estamos meio a meio com vocês. O que poderia ser melhor do que isso?
— Ainda afirmo que vocês não estão entrando com cinqüenta por cento do financiamento da joint venture — retrucou Andrew Gavallan, bruscamente. — Estão fornecendo máquinas e materiais em sistema de arrendamento, com prejuízos passíveis de compensação com lucros de exercícios passados, portanto seu risco não eqüivale ao nosso.
— Mas isso é apenas por causa do nosso fisco, e para diminuir a quantia desembolsada, cavalheiros. Estamos fazendo o nosso financiamento do fluxo de caixa. O total das cifras é o mesmo. O fato de que temos um subsídio para a desvalorização e diversos abatimentos não tem nada a ver. — Ainda mais inocentemente, pondo isca na armadilha, acrescentou: — Nós financiamos nos Estados Unidos, onde temos traquejo. Vocês financiam em Hong Kong, onde são os peritos.
Quillan Gornt afastou-se da janela do seu escritório.
— Repito, podemos superar qualquer acordo que façam com a Struan, Sr. Bartlett. Qualquer um.
— Dólar por dólar?
— Dólar por dólar. — O inglês voltou a sentar-se atrás de sua mesa vazia de papéis, e encarou Bartlett novamente. Estavam no último andar do Edifício Rothwell-Gornt, que também dava para a Connaught Road e a orla marítima. Gornt era um homem corpulento, barbudo, de fisionomia dura, com pouco menos de um metro e oitenta de altura, cabelos negros e sobrancelhas espessas um pouco grisalhos, e olhos castanhos. — Não é nenhum segredo que nossas companhias são rivais seriíssimas, mas asseguro-lhe que podemos cobrir e superar qualquer oferta deles, e providenciaria o nosso lado do financiamento até o fim da semana. Poderíamos ter uma sociedade lucrativa, o senhor e eu. Sugiro que formemos uma companhia conjunta, segundo as leis de Hong Kong... os impostos aqui são bem razoáveis... quinze por cento de tudo o que é ganho em Hong Kong, com o resto do mundo livre de qualquer imposto. — Gornt sorriu. — Melhor do que nos Estados Unidos.
— Muito melhor — disse Bartlett. Estava sentado numa cadeira de couro de espaldar alto. — Muitíssimo melhor.
— É por isso que está interessado em Hong Kong?
— Esse é um dos motivos.
— Quais são os outros?
— Aqui não há nenhuma companhia americana do tamanho da minha com força total, e devia haver. Essa é a era do Pacífico. Mas vocês poderiam beneficiar-se da nossa vinda. Temos muito do traquejo que vocês não têm e uma grande influência em áreas do mercado americano. Por outro lado, a Rothwell-Gornt e a Struan têm o traquejo que nos falta e uma grande influência nos mercados asiáticos.
— Como podemos cimentar um relacionamento?
— Primeiro, tenho que descobrir o que a Struan está pretendendo. Comecei a negociar com eles, e não gosto de trocar de avião no meio do oceano.
— Posso lhe dizer de pronto o que estão pretendendo: lucro para eles, e o resto que vá para o diabo.
O sorriso de Gornt era duro.
— A transação que discutimos me pareceu muito justa.
— Eles são mestres em parecer muito justos, entrar com a metade da participação, depois vender ao seu bel-prazer para raspar o lucro e ainda conservar o controle.
— Isso não seria possível conosco.
— Há quase um século e meio que vêm agindo assim. A esta altura já aprenderam alguns macetes.
— Vocês também.
— Claro. Mas a Struan é muito diferente de nós. Somos donos de coisas e companhias... eles possuem porcentagens. Têm pouco mais de cinco por cento da maioria de suas subsidiárias e, no entanto, exercem o controle absoluto por meio de ações com poder de voto especial, ou tornando obrigatório, nos artigos de associação, que o tai-pan deles também seja o tai-pan da subsidiária, com poder de decisão final.
— Isso me parece inteligente.
— E é. E eles são. Mas nós somos melhores e mais corretos... e nossos contatos e influência na China e por toda a costa do Pacífico, com exceção dos Estados Unidos e do Canadá, são mais fortes do que os deles, e ficam mais fortes a cada dia que passa.