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— Não é falta de confiança. Na verdade, estou tornando as coisas mais fáceis para ela. Se alguém na Struan descobrir, e perguntar-lhe por que estou tendo um encontro agora com o senhor, a surpresa dela será genuína.

Depois de uma pausa, Gornt falou:

— É raro encontrar alguém realmente digno de confiança. Muito raro.

— Por que alguém iria querer M14 e granadas em Hong Kong, e por que usariam o meu avião?

— Não sei, mas me proponho a descobrir. — Gornt apagou o cigarro. O cinzeiro era de porcelana... dinastia Sung.

— Conhece Tsu-yan?

— Encontrei-o umas duas vezes. Por quê?

— É um excelente sujeito, embora seja diretor da Struan.

— É xangaiense?

— É. Um dos melhores. — Gornt ergueu os olhos, com expressão muito dura. — É possível que haja vantagem periférica em negociar conosco, Sr. Bartlett. Ouvi dizer que a Struan está se expandindo muito, no momento. Dunross está apostando alto na sua frota, especialmente nos dois imensos cargueiros que encomendou no Japão. O primeiro deles está com um pagamento substancial a vencer, dentro de uma semana, mais ou menos. Além disso, correm boatos de que ele vai fazer uma oferta pelas Propriedades Asiáticas. Já ouviu falar delas?

— Um grande empreendimento imobiliário, por toda a Hong Kong.

— É. São os maiores... maiores até que a ik da Struan.

— A Investimentos Kowloon faz parte da Struan? Pensei que fosse uma companhia independente.

— E é, na aparência. Mas Dunross é tai-pan da ik... eles sempre têm o mesmo tai-pan.

— Sempre?

— Sempre. Faz parte das cláusulas de contrato deles. Mas Ian está exagerando. A Casa Nobre pode logo se tornar ignóbil. Ele está com muito pouco dinheiro vivo no momento.

Bartlett pensou um momento, depois perguntou:

— Por que não se junta a outra companhia, talvez as Propriedades Asiáticas, e assumem juntos o controle da Struan? Isso é o que eu faria, nos Estados Unidos, se quisesse uma companhia que não pudesse tomar sozinho.

— É isso o que está querendo fazer aqui, Sr. Bartlett? — perguntou Gornt de pronto, fingindo estar chocado. — "Tomar" a Struan?

— É possível?

Gornt fitou o teto cuidadosamente, antes de responder.

— É... mas precisaria de um sócio. Talvez conseguisse obtê-lo com as Propriedades Asiáticas, mas duvido. Jason Plumm, o tai-pan, não tem peito para isso. Precisaria de nós. Só nós temos a perspicácia, a garra, o conhecimento e o desejo. Contudo, teria que arriscar uma imensa quantia. Em dinheiro vivo.

— Quanto?

Gornt riu com gosto.

— Vou pensar nisso. Primeiro, teria que me dizer se está mesmo levando a idéia a sério.

— Se estiver, quer entrar na jogada? Gornt devolveu-lhe o olhar, igualmente firme.

— Primeiramente teria que estar certo, certíssimo, de que está falando sério. Não é segredo que detesto a Struan de modo geral, e Ian Dunross pessoalmente, e que gostaria de vê-los aniquilados. Portanto, já conhece a minha posição a longo prazo. Não sei a sua. Ainda.

— Se pudéssemos assumir o controle da Struan... valeria a pena?

— Ah, sim, Sr. Bartlett. Ah, sim... valeria a pena — disse Gornt jovialmente, depois sua voz voltou a ficar gelada. — Mas ainda preciso saber quão seriamente encara isso.

— Dir-lhe-ei depois de me encontrar com Dunross.

— Vai sugerir-lhe a mesma coisa... que juntos poderão engolir a Rothwell-Gornt?

— Meu propósito ao vir aqui é tornar a Par-Con internacional, Sr. Gornt. Quem sabe um investimento de até trinta milhões, cobrindo toda uma variedade de mercadorias, fábricas e depósitos. Até bem pouco tempo, nunca ouvira falar na Struan... ou na Rothwell-Gornt. Ou na rivalidade entre as duas.

— Muito bem, Sr. Bartlett, deixemos as coisas como estão. Faça o senhor o que fizer, será interessante. É. Será interessante ver se sabe segurar uma faca.

Bartlett fitou-o, sem compreender.

— É um velho termo chinês de culinária, Sr. Bartlett. O senhor cozinha?

— Não.

— A culinária é um dos meus passatempos. Os chineses dizem que é importante saber como segurar a faca, que não se pode usar uma faca até que se saiba segurá-la corretamente. Caso contrário, a pessoa pode se cortar, e a coisa já começa mal. Não é mesmo?

Bartlett abriu um sorriso.

— Segurar a faca, não é isso? Não vou me esquecer. Não, não sei cozinhar. Nunca cheguei a aprender. Casey também não entende nada de cozinha.

— Os chineses dizem que há três artes em que as outras civilizações não se podem comparar à deles: literatura, pintura a pincel e culinária. Sinto-me inclinado a concordar. Gosta de boa comida?

— A melhor refeição que já comi foi num restaurante nos arredores de Roma, na Via Flaminia, o Casale.

— Então, temos ao menos isso em comum, Sr. Bartlett. O Casale também é um dos meus favoritos.

— Casey me levou para comer lá certa vez: spaghetti alla matriciana al dente e buscetti com uma cerveja estupidamente gelada, seguidos de picatta e mais cerveja. Nunca esquecerei.

Gornt sorriu.

— Quem sabe gostaria de jantar comigo, enquanto estiver aqui? Posso oferecer-lhe também o alla matriciana; terá o mesmo sabor, a receita é a mesma.

— Gostaria muito.

— E uma garrafa de Valpolicella, ou de um grande vinho toscano.

— Pessoalmente, gosto de cerveja com massa. Cerveja americana bem gelada, direto da lata.

Depois de uma pausa, Gornt perguntou:

— Quanto tempo vai se demorar em Hong Kong?

— O tempo que for preciso — respondeu Bartlett, sem hesitar.

— Ótimo. Então podemos marcar o jantar para a semana que vem? Terça ou quarta?

— Terça está ótimo, obrigado. Posso levar Casey?

— Claro. — Gornt acrescentou, em tom mais seco: — A essa altura, talvez o senhor já tenha mais certeza do que quer fazer.

Bartlett achou graça.

— E a essa altura, já saberá se sei segurar a faca.

— Talvez. Mas quero que se lembre de uma coisa, Sr. Bartlett: se unirmos nossas forças contra a Struan, uma vez iniciada a batalha, não haverá como bater em retirada sem danos muito sérios. Seriíssimos, mesmo. Eu precisaria ter muita certeza. Afinal, o senhor sempre poderá se retirar ferido para os Estados Unidos, para voltar à luta outro dia. Nós ficamos aqui... portanto os riscos são desiguais.

— Mas o espólio também é desigual. Vocês ganhariam uma coisa sem preço, que para mim não vale dez centavos. Seriam a Casa Nobre.

— É — falou Gornt, cerrando as pálpebras. Inclinou-se para a frente para escolher outro cigarro, e o pé esquerdo moveu-se sob a mesa para apertar um interruptor oculto. — Vamos deixar tudo em suspenso até ter...

A voz da secretária de Gornt fez-se ouvir pelo intercomunicador.

— Com licença, Sr. Gornt, quer que adie a reunião da diretoria?

— Não — respondeu Gornt. — Eles que esperem.

— Sim, senhor. A srta. Ramos está aqui. Pode conceder-lhe alguns minutos?

Gornt fingiu-se surpreso.

— Um momento. — Olhou para Bartlett. — Terminamos?

— Sim. — Bartlett levantou-se imediatamente. — A terça-feira está de pé. Até lá, deixamos tudo em suspenso. — Virou-se para sair, mas Gornt o deteve.

— Só um momento, Sr. Bartlett — disse, depois falou no intercomunicador: — Diga a ela que entre. — Desligou o interruptor e se levantou. — Fiquei muito feliz com o nosso encontro.

A porta se abriu e uma moça entrou. Tinha vinte e cinco anos, era impressionante, cabelos pretos curtos, olhos negros, nitidamente eurasiana, vestida informalmente, com jeans americanos desbotados e justos e camisa.

— Alô, Quillan — falou, com um sorriso que aqueceu o ambiente, seu inglês com leve sotaque americano. — Desculpe interromper, mas acabei de chegar de Bangkok e quis vir cumprimentá-lo.

— Que bom que veio, Orlanda. — Gornt sorriu para Bartlett, que não tirava os olhos da moça. — Este é Linc Bartlett, dos Estados Unidos. Orlanda Ramos.