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— Qual é?

Gornt deu de ombros. Após um momento, ela falou:

— O que faço com ela?

— Se Casey Tcholok está no seu caminho, afaste-a. Você tem garras.

— Você é... Às vezes não gosto de você nem um pouquinho.

— Somos ambos realistas, você e eu. Não somos?

A voz dele era inexpressiva, mas ela percebeu a violência latente. Prontamente, pôs-se de pé, debruçou-se sobre a mesa e deu-lhe um beijinho.

— Você é um demônio — falou, apaziguando-o. — Isto é pelos velhos tempos.

A mão dele buscou o seio dela, e ele suspirou, recordando, saboreando o calor que vinha através do tecido fino.

— Ayeeyah, Orlanda. Bons tempos aqueles, não?

Ela fora sua amante aos dezessete anos. Ele foi o seu primeiro homem e a manteve durante quase cinco anos; teria continuado a mantê-la, mas ela foi para Macau com um rapaz, quando ele estava fora, e aquilo chegara aos seus ouvidos. E então ele parará. Imediatamente. Embora tivessem uma filha, àquela altura, com um ano de idade.

— Orlanda — dissera-lhe, enquanto ela suplicava o seu perdão —, não há o que perdoar. Já lhe disse uma dúzia de vezes que a juventude precisa da juventude, e que chegaria o dia... Seque as lágrimas, case com o rapaz... dar-lhe-ei um dote, e a minha bênção. — E em meio a toda a choradeira dela, mantivera-se firme. — Continuaremos amigos — assegurara-lhe —, e cuidarei de você, quando precisar...

No dia seguinte, voltara todo o calor da sua fúria secreta contra o rapaz, um inglês, um executivo de menos importância das Propriedades Asiáticas, e no fim do mês já tinha acabado com ele.

— É uma questão de dignidade — disse a ela, calmamente.

— Ah, eu sei, compreendo, mas... o que faço agora? — choramingara ela. — Ele vai embora para a Inglaterra amanhã, quer que eu vá junto e case com ele, mas não posso casar agora, ele não tem dinheiro, nem futuro, nem emprego, nem dinheiro...

— Enxugue as lágrimas, depois vá fazer compras.

— Como?

— É, tome um presente. — Ele lhe dera um bilhete de ida e volta de primeira classe, para Londres, no mesmo avião em que o rapaz viajaria na classe turista. E mil libras em notas novinhas de dez libras. — Compre um monte de roupas bonitas, e vá ao teatro. Tem reserva no Connaught para onze dias... basta assinar a conta... e sua passagem de volta está confirmada, portanto, divirta-se e volte nova em folha, sem problemas!

— Ah, obrigada, Quillan querido, obrigada... sinto tanto. Você me perdoa?

— Não há o que perdoar. Mas se você voltar a falar com ele, ou a vê-lo em particular... jamais voltaria a ser amigo seu, ou da sua família.

Ela lhe agradecera profusamente, em meio às lágrimas, xingando-se pela sua estupidez, suplicando que a ira dos céus descesse sobre aquele que a atraiçoara. No dia seguinte, o rapaz tentara falar com ela no aeroporto, e no avião, e em Londres, mas ela o afastara, praguejando. Agora conhecia bem o seu lugar. No dia em que ela deixou Londres, ele cometeu suicídio.

Quando Gornt ouviu a novidade, acendeu um belo charuto e levou-a para jantar no topo do Victoria and Albert, com castiçais, toalha de mesa e talheres finos, e, depois que ele tomara o seu conhaque Napoléon e ela o seu creme de menthe, mandara-a para casa, sozinha, para o apartamento cujo aluguel ainda pagava. Pedira mais um conhaque e ficara ali, olhando para as luzes do porto e para o Pico, sentindo a glória da vingança, a majestade da vida, a sua dignidade recobrada.

— Ayeeyah, tivemos bons momentos — dizia Gornt agora, ainda desejando-a, embora não tivesse se deitado com ela desde que soubera de Macau.

— Quillan... — começou ela, sentindo-se também excitada com o toque dele.

— Não.

Os olhos dela voltaram-se para a porta interna.

— Por favor. Faz três anos, nunca houve ninguém...

— Obrigado, mas não. — Afastou-a dele, as mãos firmes nos seus braços, embora gentis. — Já tivemos o melhor — disse, como se fosse um connaisseur. — Não gosto de menos que o melhor.

Ela se sentou na beirada da mesa, olhando para ele, emburrada.

— Você sempre ganha, não é?

— No dia em que se tornar amante de Bartlett, eu lhe dou um presente — falou, calmamente. — Se ele a levar para Macau, e ficar com você abertamente por três dias, dou-lhe um Jaguar novo. Se a pedir em casamento, você ganha o apartamento com tudo o que tem dentro, e mais uma casa na Califórnia como presente de casamento.

Ela soltou uma exclamação abafada, depois sorriu, gloriosamente.

— Um XK-E preto, Quillan, seria perfeito! — E então, sua felicidade se evaporou. — O que há de tão importante nele? Por que é tão importante para você?

Ele simplesmente a fitou.

— Desculpe — disse ela —, desculpe, não devia ter perguntado.

Pensativa, pegou um cigarro, acendeu-o, inclinou-se para a frente e passou-o para ele.

— Obrigado — falou Gornt, vendo a curva do seio dela, curtindo-a, embora um pouco entristecido por tanta beleza ser tão transitória. — A propósito, não gostaria que Bartlett soubesse do nosso acordo.

— Nem eu. — Deu um suspiro e forçou um sorriso. Depois levantou-se e deu de ombros. — Ayeeyah, nunca teria durado mesmo entre nós, com ou sem Macau. Você teria mudado... teria se entediado, os homens sempre se entediam.

Ajeitou a maquilagem e a camisa, jogou-lhe um beijo e saiu. Ele fitou a porta fechada, depois sorriu e apagou o cigarro que ela lhe dera, sem tê-lo posto na boca, não querendo a mácula dos lábios dela. Acendeu um novo cigarro e cantarolou baixinho.

"Excelente", pensou, satisfeito. "Agora veremos, Sr. Maldito Arrogante Confiante Ianque Bartlett, agora veremos como segura a faca. Macarrão com cerveja, imagine!"

E então Gornt sentiu um cheirinho do perfume dela que permanecera no ar, e isso lhe trouxe momentaneamente lembranças de quando se deitavam juntos. Quando ela era mais jovem, forçou-se a se lembrar. Graças a Deus não há falta de juventude ou beleza por aqui, e uma substituta se arranja com um telefonema ou uma nota de cem dólares.

Pegou o telefone e discou um número particular especial, satisfeito porque Orlanda era mais chinesa do que européia. Os chineses são um povo tão prático!

O telefone parou de tocar e ele ouviu a voz resoluta de Paul Havergill.

— Pronto!

— Paul, Quillan. Como vão indo as coisas?

— Alô, Quillan... naturalmente já sabe que Johnjohn vai assumir a direção do banco em novembro.

— Já. Lamento muito.

— Que droga. Eu esperava ser confirmado, mas a junta diretora resolveu escolher Johnjohn. Ontem à noite a resolução tornou-se oficial. É Dunross de novo, a panelinha dele, a as malditas ações que possuem. E como foi o seu encontro?

— O nosso americano está meio indócil na pista, bem como eu previa. — Gornt deu uma boa tragada no cigarro e tentou manter a voz controlada. — O que acha de uma agitaçãozinha especial antes de se aposentar?

— O que está pretendendo?

— Vai sair no fim de novembro?

— Vou. Depois de vinte e três anos. De certa forma, não vou achar ruim.

"Nem eu", pensou Gornt, satisfeito. "Você está fora de moda, é conservador demais. A única coisa a seu favor é que odeia Dunross."

— É daqui a quase quatro meses. Isso nos daria tempo de sobra. A você, a mim e ao nosso americano.

— O que está pretendendo?

— Lembra-se de um dos meus planos de jogo hipotéticos, aquele a que dei o nome de "Competição"?

Havergill pensou por um momento.

— Sobre como assumir o controle de um banco rival ou eliminá-lo, não era? Por quê?

— Digamos que alguém tenha tirado o pó do plano, feito algumas modificações e apertado o botão de funcionamento... há dois dias. Digamos que alguém sabia que Dunross e os outros votariam pela sua eliminação e queria vingança. O Competição funcionaria perfeitamente.