— Não vejo por quê. Qual a vantagem de se atacar o Blacs? — O Banco de Londres, Cantão e Xangai era o maior rival do Victoria. — Não tem sentido.
— Ah, mas digamos que alguém tenha mudado o alvo, Paul.
— Para quem?
— Passo por aí às três horas, para explicar.
— Para quem?
— Richard.
Richard Kwang controlava o Ho-Pak Bank, um dos maiores dos muitos bancos chineses de Hong Kong.
— Santo Deus! Mas isso é... — Houve uma longa pausa. — Quillan, você começou mesmo o Competição... botou-o em ação?
— Foi, e ninguém sabe disso, exceto você e eu.
— Mas, como isso vai funcionar contra Dunross?
— Explico mais tarde. Ian pode cumprir seus compromissos com os navios?
Houve uma pausa, que Gornt percebeu.
— Sim — ouviu Havergill dizer.
— Sim, mas o quê?
— Mas estou certo de que dará um jeito.
— Que outros problemas Dunross tem?
— Desculpe, mas seria falta de ética.
— Claro. — Gornt acrescentou, suavemente: — Vou dizer a coisa de outro modo: digamos que o barco deles esteja balançando um pouco. Hem?
Uma pausa mais longa.
— No momento apropriado, uma onda pequenina poderia botá-los a pique, ou qualquer outra companhia. Até mesmo você.
— Mas não o Victoria Bank.
— Ah, não.
— Ótimo. Até logo mais, às três. — Gornt desligou e enxugou a testa de novo, excitadíssimo. Apagou o cigarro, fez um cálculo rápido, acendeu outro cigarro, depois discou. — Charles, Quillan. Está ocupado?
— Não. O que posso fazer por você?
— Quero um balanço geral.
Um balanço geral era um sinal particular para o advogado telefonar para oito representantes que comprariam ou venderiam no mercado de ações em lugar de Gornt, mas secretamente, para evitar que as negociações fossem descobertas como partindo dele. Todas as ações e o dinheiro passariam exclusivamente pelas mãos do advogado, para que nem os representantes nem os corretores soubessem para quem a transação estava sendo feita.
— Um balanço geral, Quillan, pois não. De que tipo?
— Quero vender a descoberto.
Vender a descoberto significava que venderia ações que não possuía, imaginando que o valor delas baixaria. Assim, antes que tivesse que recomprá-las — tinha para isso uma margem máxima de duas semanas, em Hong Kong —, se as ações realmente tivessem baixado, ele embolsaria a diferença. Claro, se arriscasse e perdesse, isto é, se as ações subissem de preço, teria que pagar a diferença.
— Que ações, e quantas?
— Cem mil ações do Ho-Pak...
— Meu Deus...
—...a mesma coisa, tão logo o mercado abra amanhã, e mais duzentas durante o dia. Depois lhe darei novas instruções.
Fez-se um silêncio atônito.
— Disse mesmo Ho-Pak?
— Disse.
— Vai levar tempo para arranjar todas essas ações. Santo Deus, Quillan, quatrocentas mil?
— Melhor arranjar mais cem mil. Meio milhão, certinho.
— Mas... mas a Ho-Pak é uma blue chip autêntica. Há anos que não baixa de valor.
— É.
— O que andou ouvindo?
— Boatos — falou Gornt, seriamente, rindo consigo mesmo. — Que tal almoçar cedo, lá no clube?
— Estarei lá.
Gornt desligou, depois discou outro número particular.
— Pronto.
— Sou eu — disse Gornt, cautelosamente. — Está sozinho?
— Estou. E?
— No nosso encontro, o ianque sugeriu uma incursão.
— Ayeeyah! E?
— E Paul está na jogada — falou, o exagero saindo com naturalidade. — Sigilo absoluto, naturalmente. Acabo de falar com ele.
— Então, pode contar comigo. Desde que eu fique com o controle dos navios da Struan, sua operação de propriedades em Hong Kong, e quarenta por cento das suas terras na Tailândia e em Cingapura.
— Você está brincando!
— Nada é demais para aniquilá-los, não é, meu rapaz? Gornt escutou a risada refinada e zombeteira e odiou Jason
Plumm por ela.
— Você o despreza tanto quanto eu — falou Gornt.
— Ah, mas você vai precisar de mim e dos meus amigos especiais. Mesmo com Paul em cima do muro, ou embaixo, você e o ianque não vão ter êxito, não sem mim e os meus.
— Por que outro motivo estaria conversando com você?
— Escute, não esqueça que não estou pedindo nenhum pedaço do bolo americano.
Gornt manteve a voz calma.
— E o que tem isso a ver com a história?
— Eu o conheço. Ah, sim, conheço, meu velho.
— Conhece mesmo?
— Conheço. Não vai se satisfazer apenas em destruir o nosso "amigo", vai querer o bolo inteiro.
— Não diga!
— Digo. Há muito tempo que está querendo pôr um pé no mercado americano.
— E você?
— Não. Sabemos de que saco é a nossa farinha. Satisfaze-mo-nos em seguir atrás, direitinho. Satisfazemo-nos com a Ásia. A gente não quer ser nobre coisa nenhuma.
— É?
— É. Então, negócio fechado?
— Não — falou Gornt.
— Deixarei de lado os navios. Em vez disso, ficarei com a Investimentos Kowloon de Ian, a operação Kai Tak, e quarenta por cento das terras na Tailândia e em Cingapura, e aceitarei vinte e cinco por cento da Par-Con e três postos na diretoria.
— Ora, vá se lixar!
— A oferta é válida até segunda-feira.
— Qual segunda-feira?
— A próxima.
— Dew neh loh moh para todas as suas segundas-feiras.
— E as suas! Farei uma última oferta. A Investimentos Kowloon e a sua operação Kai Tak, integral, trinta e cinco por cento das terras na Tailândia e em Cingapura, e dez por cento do bolo americano, com três postos na diretoria.
— Só isso?
— Só. Repito, a oferta é válida até segunda que vem. E não pense que pode nos engolir no meio do caminho.
— Ficou maluco?
— Já lhe disse... conheço você. Negócio fechado?
— Não.
Novamente a risada macia e malévola.
— Até segunda... segunda que vem. Tempo de sobra para você se decidir.
— Verei você logo mais na festa do Ian? — perguntou Gornt, suavemente.
— Está louco? Não iria nem se... Santo Deus, Quillan, você vai mesmo aceitar? Em pessoa?
— Não estava pretendendo ir... mas agora acho que vou. Não gostaria de perder o que talvez seja a última festança do último tai-pan da Struan...
7
12h01m
Na sala da diretoria, as coisas continuavam difíceis para Casey. Eles não pegavam nenhuma das iscas que lhes jogava. Sua ansiedade aumentara, e agora, enquanto esperava, sentiu uma onda de medo rebelde percorrê-la.
Phillip Chen rabiscava, Linbar mexia nos seus papéis, Jacques de Ville observava-a, pensativo. Então, Andrew Gavallan parou de anotar as últimas porcentagens que ela havia citado. Deu um suspiro e olhou para ela.
— Está claro que esta deve ser uma operação co-financiada — falou, vivamente. A eletricidade no aposento subiu assustadoramente, e Casey teve dificuldade em abafar um "viva", quando ele acrescentou: — Quanto a Par-Con estaria preparada para investir, em regime de financiamento conjunto, no negócio todo?
— Dezoito milhões de dólares americanos este ano dariam para cobrir tudo — respondeu imediatamente, notando satisfeita que todos abafaram uma exclamação.
O patrimônio líquido da Struan publicado no ano anterior fora de quase vinte e oito milhões, e ela e Bartlett haviam calculado sua oferta com base nessa cifra.
— Faça a primeira oferta de vinte milhões — Linc lhe dissera. — Deverá fisgá-los com vinte e cinco, o que seria formidável. É essencial que façamos o co-financiamento, mas a proposta terá que partir deles.
— Mas olhe para o balanço geral deles, Linc. Não dá para se saber ao certo qual é o verdadeiro patrimônio líquido. Pode ser dez milhões a mais ou a menos, talvez mais. Não sabemos realmente o quanto são fortes... ou fracos. Olhe só para este item: "Catorze milhões e setecentos mil retidos em subsidiárias". Que subsidiárias, onde e para quê? Eis aqui outro: "Sete milhões e quatrocentos mil transferidos para..."