— Está inventando tudo isso, Orlanda!
— Ah, não, Linc, não inventaria isso! Mas o que é verdade e o que é falso? Quem é que sabe, hem, meu querido?
— Eu sei que sou louco por você.
— Ah, Linc, você deve saber que sinto o mesmo. Tinham continuado o passeio, ultrapassando Aberdeen, sentindo-se bem juntos, a mão dele no ombro dela, o cabelo dela roçando-lhe a mão. De quando em vez ela indicava casas e locais, e as horas tinham passado imperceptível e deliciosamente para ambos. Agora, quando desciam a garganta em meio às nuvens, rompendo-as, podiam ver a maior parte da cidade Iá embaixo. As luzes ainda não tinham sido acesas, embora aqui e ali os imensos e coloridos cartazes a gás neon à beira-mar começassem a se iluminar.
O tráfego estava denso, e nas íngremes estradas das montanhas a água ainda escorria nas sarjetas, com pilhas de lama, pedras e vegetação aqui e ali. Ela guiava com perícia, sem se arriscar, e ele se sentia seguro com ela, embora tivesse ficado arrepiado ao fazer as curvas do lado errado da estrada.
— Mas nós estamos do lado certo — disse ela. — Vocês é que guiam do lado errado!
— Nós, uma ova! São somente os ingleses que guiam do lado esquerdo. Você é tão americana quanto eu, Orlanda.
— Quem me dera eu fosse, Linc, ah, quem me dera!
— Você é. Fala como americana e se veste como americana.
— Ah, mas sei o que sou, meu querido.
Deixou-se ficar apenas apreciando-a. "Jamais gostei tanto de ficar apreciando alguém", pensou. "Nem a Casey. Ninguém em toda a minha vida." Então seu pensamento voltou-se para Biltzmann e teve vontade de estrangular o sujeito.
"Esqueça-se dele, meu velho, junto com toda a merda do mundo. É o que ele é... ele e o Banastasio." Bartlett sentiu uma nova pontada percorrê-lo. Recebera um telefonema pouco antes do almoço, e um pedido de desculpas que era na verdade uma ameaça adicional.
— Vamos fazer as pazes, cara, eu e você? Porra, Linc, é uma merda eu e você aos berros! Que tal irmos comer uns bifes logo mais? Há uma casa de carnes excelente na Nathan Road, a San Francisco.
— Não, obrigado, já tenho um encontro — disse, com frieza. — Além disso, você já foi bem claro, ontem. Vamos deixar assim, está bem? Nós nos veremos na assembléia anual da junta diretora, se você comparecer.
— Ei, Linc, qual é? Sou eu, seu amigão. Lembre-se de que comparecemos com a grana quando você precisou. Não lhe entregamos a grana?
— A grana em troca de ações, que foram o seu melhor investimento... o melhor investimento regular que já teve. Você dobrou seu dinheiro em cinco anos.
— Claro que sim. Agora queremos dar uns palpites. É justo, não é?
— Não. Não depois de ontem. E quanto às armas? — perguntou, seguindo uma intuição repentina.
Fez-se uma pausa.
— Que armas?
— As que foram colocadas no meu avião. Os Ml4 e as granadas contrabandeados.
— Isso para mim é novidade, cara.
— Meu nome é Linc, cara. Sacou? Outra pausa. Então, a voz veio áspera.
— Saquei. E sobre o nosso acordo? Vai mudar de idéia?
— Não. De jeito algum.
— Nem agora, nem mais tarde?
— Não.
Houve um silêncio do outro lado da linha, depois um clique, e ouviu-se um ruído de discar. Prontamente ele ligara para Rosemont.
— Não se preocupe, Linc. O Banastasio é um dos nossos alvos prioritários, e temos um bocado de ajuda por estas partes.
— Alguma novidade sobre as armas?
— Você está limpo. Os figurões daqui de Hong Kong retiraram a retenção que pesava sobre você. Será informado disso oficialmente amanhã.
— Descobriram alguma coisa?
— Não, mas nós, sim. Verificamos o seu hangar em Los Angeles. Um dos vigias noturnos se lembrou de ter visto dois palhaços mexendo no trem de aterrissagem. Não deu importância ao fato até que perguntamos.
— Puxa vida! Pegaram alguém?
— Não. E talvez nem peguemos. Não há problema. Quanto ao Banastasio, logo, logo vai largar do seu pé. Não se preocupe.
Agora, pensando no assunto, Bartlett sentiu-se gelado de novo.
— O que é, querido? — perguntou Orlanda. — O que houve?
-— Nada.
— Conte para mim.
— Só estava pensando que o medo é uma droga, e pode destruir a pessoa, se ela não tomar cuidado.
— Ah, é, eu sei, sei muito bem. — Tirou os olhos da estrada por um segundo, sorriu, hesitante, e colocou a mão no joelho dele. — Mas você é forte, meu querido. Não tem medo de nada.
— Tomara fosse verdade — riu.
— Ah, mas é. Eu sei. — Ela diminuiu a marcha para se desviar de um monte de lama, a estrada agora mais íngreme, a água rodopiando, entrando e saindo das sarjetas. O carro vinha grudado ao paredão alto que protegia a estrada, enquanto ela entrava na Kotewall Road e virava a esquina para chegar ao Rose Court. Quando chegou diante do prédio, ele prendeu a respiração, enquanto ela hesitava um momento. Depois, ultrapassou firmemente o portão e entrou na rampa íngreme que levava à garagem.
— Está na hora do coquetel — falou.
— Ótimo — disse ele, a voz rouca. Não olhou para ela. Quando pararam, ele saltou, foi para o lado dela e abriu a porta.
Ela trancou o carro, e eles se dirigiram para o elevador. Bartlett sentiu a veia latejar no pescoço.
Dois garçons chineses carregando bandejas de canapés entraram junto com eles e perguntaram onde ficava o apartamento das Propriedades Asiáticas.
— Fica no quinto andar — respondeu ela. Depois que os homens saltaram, Bartlett quis saber:
— Os senhorios aqui são as Propriedades Asiáticas?
— São. — Acrescentou: — São também os construtores originais. — Hesitou: — Jason Plumm e Quillan são bons amigos. Quillan ainda é dono da cobertura, embora a tenha alugado depois que rompemos.
Bartlett abraçou-a.
— Que bom que romperam!
— Eu também acho. — O sorriso dela era meigo, e a sua inocência singela o comovia. — Agora acho.
Chegaram ao oitavo andar, e ele notou que os dedos dela tremiam de leve enquanto punha a chave na fechadura.
— Entre, Linc! Chá, café, cerveja ou um coquetel? — Ela tirou os sapatos e ergueu os olhos para ele. O coração dele batia com força, e os seus sentidos esforçaram-se para verificar se o apartamento estava vazio. — Estamos sozinhos — ela falou, com simplicidade.
— Como é que você sabe o que estou pensando? Ela deu de ombros, ligeiramente.
— São só umas coisinhas. Ele enlaçou a cintura dela.
— Orlanda...
— Eu sei, meu querido.
A voz dela estava rouca, e ele sentiu um tremor percorrê-lo. Quando a beijou, os lábios dela corresponderam, a parte inferior do seu corpo macia e sem oferecer resistência. As mãos dele percorreram-lhe o corpo. Ele sentiu que os mamilos dela endureciam, e que o bater do seu coração igualava o dele. Depois as mãos dela deixaram o pescoço dele e lhe tocaram o peito, mas desta vez ele a segurou apertado, o seu beijo mais urgente. A pressão das mãos dela cessou, e mais uma vez ela lhe envolveu o pescoço, apertando mais contra ele a parte genital. Eles interromperam o beijo, mas continuaram agarrados.
— Eu o amo, Linc.
— Eu a amo, Orlanda — replicou ele, e a súbita constatação da verdade o consumiu.
Beijaram-se de novo, as mãos dela carinhosas e fortes, as dele percorrendo-lhe o corpo, ardentes. Ardentes, ele e ela. Quando seus joelhos amoleceram, ela deixou pender o corpo nos braços dele, e ele a carregou com facilidade pela porta aberta que levava ao quarto. As cortinas transparentes que pendiam do teto para formar o dossel moviam-se suavemente à brisa fresca e suave que entrava pelas janelas abertas.