— Ah, não. Na verdade, não tenho nada a ver com isso. Sou apenas um espectador interessado. — Novo silêncio. — Seus representantes devem procurar o diretor-chefe.
Dunross soltou um suspiro, todos os sentidos aguçados. Nenhuma menção à presença do governador. "Será que venci?"
— Será que alguém poderia confirmar para a Rádio Hong Kong, a tempo para o noticiário das nove horas da noite, que o Banco da China vai dar à colônia um crédito imediato de meio bilhão de dólares em espécie?
Novo silêncio.
— Ah, tenho certeza de que isso não será necessário, sr. Dunross — falou Tiptop, e agora, pela primeira vez, notava-se uma risadinha na voz dele. — Sem dúvida a palavra do tai-pan da Casa Nobre é suficiente para uma simples estação de rádio capitalista. Boa noite.
Dunross desligou o aparelho. Seus dedos tremiam, sentia dor nas costas, e o coração batia com muita força.
— Meio bilhão de dólares! — murmurou, a mente perturbada. — Nenhum documento, nenhum carimbo, nem aperto de mão, alguns telefonemas, um pouquinho de negociação e meio bilhão de dólares estarão disponíveis para transferência por caminhão às nove horas!
"Ganhamos! O dinheiro de Murtagh, e agora o da China! É. Mas como tirar o máximo proveito deste conhecimento? Como?", perguntava-se, desanimado. Não havia motivo para ir à casa de Plumm, agora. "O que fazer? O que fazer?"
Sentia os joelhos moles, a cabeça fervia de planos e contra-planos. E então seu entusiasmo reprimido explodiu num berro enorme, que ricocheteou nas paredes do gabinete. Ele pulava, e soltou outro grito de guerra que se dissolveu numa risada. Foi para o banheiro molhar o rosto. Arrancou do corpo a camisa ensopada, sem sequer desabotoá-la, e jogou-a na lata de lixo. A porta do gabinete se escancarou, e Adryon irrompeu na sala, o rosto pálido e ansioso.
— Papai!
— Santo Deus, o que houve? — perguntou ele, estarrecido.
— O que houve com você? Ouvi-o gritar feito um touro enlouquecido. Está bem?
— Ah, sim, estou, só que... dei uma topada! — A felicidade de Dunross explodiu de novo, e ele a levantou no colo, facilmente. — Obrigado, minha querida, está tudo bem! Ah, muito bem!
— Ah, graças a Deus — disse ela, acrescentando imediatamente: — Quer dizer que posso ter o meu próprio apartamento a partir do mês que vem?
— Po... — Interrompeu-se bem a tempo. — Nada disso, dona vivaldina. Só porque estou feliz não...
— Mas, papai, não acha...
— Não. Obrigado, Adryon, mas não, vá andando! Ela o olhou de cara feia, depois desatou a rir.
— Quase peguei você, desta vez!
— É, foi, sim! Não se gsqueça de que o Duncan chega amanhã no vôo do meio-dia da Qantas.
— Não vou esquecer, não se preocupe, vou recebê-lo. Vai ser bom ter o Dunc de volta. Não jogo uma boa partida de bilhar desde que ele partiu. Para onde está indo, agora?
— Ia para a casa do Plumm, no Rose Court, para comemorar a compra de controle da General Stores, mas acho que ...
— Martin achou que foi um golpe fantástico! Se não houver o colapso da Bolsa. Disse ao bobalhão que você ia dar um jeito em tudo.
Subitamente, Dunross se deu conta de que a festa de Plumm seria o lugar ideal. Gornt estaria Iá, Phillip Chen, e todos os outros. "Gornt! Agora posso me livrar desse sacana para todo o sempre", disse com seus botões, o coração disparado.
— O Murtagh ainda está Iá embaixo?
— Está, sim. Já estávamos de saída. Ele é uma graça. Dunross virou-se para disfarçar um sorriso e pegou uma camisa de seda limpa.
— Podem esperar um minutinho? Tenho boas notícias para ele.
— Está bem. — Aproximou-se dele, fitando-o com os grandes olhos azuis. — Meu próprio apartamento de presente de Natal, por favor, por favor?
— Depois da universidade, se se der bem, solto você!
— No Natal. Eu o amarei pelo resto da vida!
Ele soltou um suspiro, lembrando-se de que ela ficara nervosa e assustada ao ver Gornt no salão de bilhar. "Talvez possa dar-lhe a cabeça dele de presente amanhã", pensou.
— Neste Natal, não, no outro!
Ela jogou os braços ao redor do pescoço dele.
— Ah, obrigado, paizinho querido. Mas este Natal, por favor, por favor, por favor.
— Não, porque você...
— Por favor, por favor, por favor!
— Está bem! Mas não diga à sua mãe que concordei, pelo amor de Deus. Ela vai me tirar o couro!
78
19h15m
As cortinas que rodeavam a cama de Orlanda se moviam suavemente, impulsionadas pela brisa noturna, o ar limpo e com gosto de sal. Ela estava nos braços dele enquanto dormiam, um calor penetrante entre eles, e então, quando ela mexeu a mão, Bartlett acordou. Por um momento, ele se perguntou onde estava e quem era, e depois tudo voltou e o seu coração bateu mais depressa. Haviam feito amor maravilhosamente. Ele se recordava de que ela correspondera, gozando várias vezes, elevan-do-o a alturas que ele jamais conhecera antes. E, a seguir, o depois. Ela saíra da cama, fora para a cozinha, esquentara um pouco de água e trouxera uma toalha molhada e quente; tirara com ela o suor do corpo dele.
— Sinto tanto não haver um banho de banheira ou chuveiro, meu querido. É mesmo uma pena. Mas se você for paciente, dou um jeitinho.
Uma toalha nova e limpa, e ele sentiu-se ótimo, nunca tendo conhecido antes a maravilha de um verdadeiro "depois" — os carinhos suaves, ternos, amorosos, sem constrangimento, o minúsculo crucifixo ao redor do pescoço como único ornamento. Ele o notara brilhando na penumbra. Suas implicações começavam a penetrar na mente dele, mas, subitamente, ela estava afastando os pensamentos estranhos com suas carícias, mãos e toque, lábios mágicos, até que, novamente, ambos se tornaram uma unidade com os deuses e, através da sua generosidade, deslizaram para a euforia... e daí para o sono outra vez.
Preguiçosamente, ele ficou olhando as cortinas que caíam do teto oscilarem às correntes de ar, o abraço envolvente delas tornando a cama mais íntima, as estampas contra a luz da janela agradáveis, tudo agradável. Ficou imóvel, sem querer se mexer para não acordá-la, sem querer romper o encanto, a respiração dela suave contra o seu peito, seu rosto adormecido impecável.
"O que fazer, o que fazer, o que fazer?
"No momento, nada", respondeu a si mesmo. "O avião está liberado, você é livre, ela é incrível, e nenhuma mulher já lhe deu tanto prazer. Nunca. Mas será que vai durar, que pode durar?... e além disso, há a Casey."
Bartlett soltou um suspiro. Orlanda se mexeu de novo, ainda dormindo. Ele esperou, mas ela não acordou.
Os olhos dele estavam hipnotizados pelas estampas da cortina, seu espírito em paz. Não fazia nem frio nem calor; estava tudo perfeito, o peso dela era imperceptível. "O que há de tão especial nela?", perguntava-se. "O que causa o encanto? Porque, tão certo como a morte e os impostos, você está sob os efeitos de um encanto, fascinado. Fomos para a cama, é só isso, eu não fiz nenhuma promessa, e no entanto... Você está encantado, meu velho.
"Estou. E é maravilhoso."
Fechou os olhos e pegou no sono.
Quando Orlanda acordou, tomou cuidado para não se mexer. Não queria acordá-lo, tanto para o prazer dele quanto para o dela. E queria tempo para pensar. Às vezes fazia o mesmo nos braços de Gornt, mas sabia que não era a mesma coisa, jamais seria a mesma coisa. Sempre tivera medo de Quillan, sempre estivera em guarda, desejando desesperadamente agradar-lhe, imaginando se teria esquecido alguma coisa. "Não", pensou, em êxtase, "esta relação foi melhor do que a que me lembro de ter tido com Quillan, ah, muito melhor. Linc é tão limpo, sem cheiro de fumo, só limpo e maravilhoso, e juro por Nosso Senhora que serei uma mulher perfeita para ele, serei a melhor do mundo. Usarei a cabeça, as mãos, os lábios e o corpo para agradar-lhe e satisfazê-lo, e não haverá nada de que ele precise que eu não faça. Nada. Tudo o que o Quillan me ensinou eu farei para o Linc, até mesmo as coisas de que não gostava. Agora vou gostar, com o Linc. Meu corpo e minha alma serão os instrumentos do seu prazer, e do meu, depois que ele tiver aprendido."