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Sorriu consigo mesma, enroscada nos braços dele. "A técnica do Linc não é nada, comparada à do Quillan, mas o que falta em perícia ao meu querido ele compensa sobejamente com força e vigor. E ternura. Ele tem mãos e lábios mágicos para mim. Nunca, nunca, nunca antes foi assim."

— Ir para a cama é apenas o começo do sexo, Orlanda — Gornt dissera. — Você pode se tornar uma feiticeira. Pode encher um homem de um desejo tão insaciável que, através de você, ele compreenda toda a vida. Mas para atingir o êxtase é preciso buscá-lo, lutar por ele.

"Ah, eu o buscarei para o Linc. Por Nossa Senhora, juro que dedicarei minha mente, meu corpo e minha alma à vida dele. Quando estiver zangado, eu o farei ficar calmo. Não de-tive a raiva de Quillan mil vezes, sendo meiga? Não é uma maravilha ter tanto poder? Oh, é tão fácil depois que aprendi, facílimo, perfeito e satisfatório.

"Lerei os melhores jornais e treinarei a mente, e depois das Nuvens e Chuva não falarei, apenas acariciarei, não para excitar, mas apenas para dar prazer, e nunca direi 'Diga que me ama!', mas apenas 'Linc, eu o amo'. E muito antes de o frescor da minha pele desaparecer, terei filhos para entusiasmá-lo, e filhas para encantá-lo, e depois, muito antes de deixar de excitá-lo, arranjarei com cuidado outra para o prazer dele, uma pateta com lindos seios e uma bundinha firme, e eu ficarei adequadamente divertida e benigna... e compassiva quando ele fracassar, pois, a essa altura, ele será muito mais velho e menos viril, e as minhas mãos controlarão o dinheiro, e eu serei ainda mais essencial. E quando ele se cansar da primeira eu acharei outra, e viveremos juntos até o fim das nossas vidas, yang eyin, o yin sempre dominando o yang!

"É. Eu serei tai-tai.

"E um dia ele pedirá para ir a Portugal conhecer a minha filha, e eu recusarei a primeira vez, a segunda, a terceira, e depois nós iremos... se eu tiver o nosso filho nos braços. Então ele a verá e a amará também, e esse fantasma repousará para sempre."

Orlanda soltou um suspiro, sentindo-se ótima, leve, a cabeça dele repousando confortavelmente em seu peito. "Ir para a cama sem tomar precauções é tão mais glorioso!", pensou. "É um êxtase. Ah, que maravilha sentir o desejo, sabendo que se é jovem, fértil e se está pronta, entregando-se total e deliberadamente, rezando para criar uma nova vida... a vida dele e a sua unidas para sempre. Ah, é.

"É, mas você foi sensata? Foi? E se ele a abandonar? A única outra vez na vida que você se soltou deliberadamente foi aquele único mês com o Quillan. Mas foi com permissão. Desta vez, você não a tem.

"Digamos que o Linc a abandone. Talvez fique furioso e mande que você interrompa a gravidez.

"Não o fará", falou consigo mesma, com total confiança. "O Linc não é o Quillan. Não há motivo para me preocupar. Nenhum. Nossa Senhora, por favor, ajude-me! Que todos os deuses me ajudem! Permitam que a semente dele cresça, oh, por favor, por favor, por favor, eu vos suplico de todo o coração."

Bartlett se mexeu e acordou parcialmente.

— Orlanda?

— Sim, meu querido, estou aqui. Como você é maravilhoso! — Ela o embalou, feliz, satisfeita por ter dado um dia e uma noite de folga à amah. — Volte a dormir, temos todo o tempo do mundo, durma.

— É, mas...

— Durma. Daqui a pouquinho vou pegar um pouco de comida chinesa e...

— Quem sabe você não gostaria de...

— Durma, meu querido. Está tudo providenciado.

79

19h30m

Três andares abaixo, do outro lado do prédio, que dava para a montanha, Wu Quatro Dedos via televisão. Estava no apartamento de Vênus Poon, diante do aparelho dela, sem sapatos, a gravata afrouxada, esparramado na espreguiçadeira. A velha amah estava sentada numa cadeira dura ao lado dele, e os dois davam risadas das palhaçadas do Gordo e o Magro.

— Eeeee, o Gordo vai prender a porra do pé no andaime — ria —, e o...

— E o Magro vai acertá-lo com a tábua! Eeeee!

Os dois riram do número que já haviam visto cem vezes em cem reprises dos velhos filmes em preto e branco. Então, o filme acabou, Vênus Poon reapareceu para anunciar o programa seguinte, e ele soltou um suspiro. Ela olhava para ele diretamente da tela, e ele (como todos os demais espectadores masculinos) estava certo que seu sorriso era exclusivamente para ele. E, embora não entendesse o seu inglês, compreendia-a muito bem. Seus olhos estavam grudados aos seios dela, que o haviam fascinado durante horas, em que os examinara bem de perto, sem sentir ou ver sinal algum da cirurgia sobre a qual toda a Hong Kong fofocava.

— Atesto que seus peitos são imaculados, sem dúvida os maiores e melhores que já toquei — dissera ele, com ar importante, ainda montado nela, na antevéspera.

— Só está falando isso para agradar à sua pobre Filha empobrecida, ai, ai, ai!

— Empobrecida? Há! O Banqueiro Kwang não lhe deu aquela pele miserável ontem, e não ouvi dizer que acrescentou mil dólares extras ao seu cheque mensal? E eu, não lhe dei o nome do ganhador do primeiro páreo, do terceiro, e do segundo lugar no quinto? Isso lhe rendeu trinta mil menos quinze por cento para o meu informante... por menos esforço do que o que faço para peidar!

— Pois sim! Nem vale a pena mencionar esses vinte e cinco mil e oitocentos HK. Tenho que comprar roupas, um vestido novo por dia! Meu público o exige, tenho que pensar no meu público.

Haviam discutido veementemente, até que, sentindo que se aproximava o momento da verdade, ele lhe pedira que mexesse as nádegas mais vigorosamente. Ela obedecera com tanto entusiasmo que o deixara no bagaço. Quando, finalmente, ele recuperara, por milagre, o seu espírito do Vácuo, falou, engasgado:

— Ayeeyah, Meretrizinha, se conseguir fazer isso mais uma vez, eu lhe darei um anel de diamantes na... não, não, agora não, por todos os deuses! Por acaso sou um deus? Agora não, Falinha Macia, não, nem agora nem amanhã, mas no dia seguinte...

E agora era o dia seguinte. Eufórico, e cheio de expectativa, ele a via na televisão, cheia de sorrisos e covinhas, enquanto desejava a todos boa noite e o novo programa começava. Aquela era a noite em que saía cedo do estúdio, e com os olhos da mente quase podia vê-la sair apressada e entrar no Rolls que a esperava, certo de que estaria tão ansiosa quanto ele. Mandara Paul Choy com o Rolls acompanhá-la ao estúdio, para falar inglês com ela, para se assegurar de que chegasse em segurança e voltasse depressa. E depois do novo encontro sexual deles, o Rolls os levaria até o restaurante bárbaro no hotel bárbaro com a sua horrível comida bárbara e odores terríveis, mas um dos lugares freqüentados por todos os tai-pans, e por todas as pessoas civilizadas importantes, com as esposas (e quando as esposas estavam ocupadas, com as suas prostitutas), para que ele pudesse exibir a sua amante e mostrar como era rico para Hong Kong inteira, e para que ela pudesse exibir o seu diamante.

— Ayeeyah — casquinou alto.

— Sim, Honrado Senhor? — perguntou a amah, desconfiada. — Qual o problema?

— Nada, nada. Por favor, um pouco de conhaque.

— Minha patroa não gosta do cheiro de conhaque!

— Ora, velha, dê-me o conhaque. Sou Iá um id'ota? Sou Iá um bárbaro das Províncias Externas? Claro que trouxe folhas de chá cheirosas para mastigar antes da nossa contenda. Conhaque!

Ela saiu reclamando, mas ele não ligou. Estava apenas tentando proteger os interesses de sua patroa, o que era perfeitamente correto.

Seus dedos tocaram a caixinha no bolso. Comprara o anel naquela manhã, de um primo em primeiro grau que lhe devia um favor. A pedra valia quarenta e oito mil, pelo menos, embora o custo real mal chegasse à metade dessa quantia; a qualidade era branco-azulada e excelente, e os quilates, substanciais.