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"Outra contenda como aquela última sem dúvida valerá o preço", pensou, em êxtase, embora um tanto inquieto. "Ah, sim. Eeee, na última vez pensei que meu espírito tinha desaparecido para sempre no Vácuo, levado pelos deuses no auge de toda a vida! Eeee, como eu teria sorte de partir, naquele exato momento! É, porém é mais maravilhoso voltar para atacar o Portão de Jade de novo, de novo e ainda mais uma vez!"

Riu em voz alta, desafiando os deuses, muito satisfeito. Tinha tido um dia excelente. Reunira-se secretamente com Yuen Contrabandista e Lee Pó Branco, e eles o haviam eleito chefe da sua Nova Irmandade, o que não era mais do que o seu direito, pensou. Não fora ele quem fornecera o elo com o mercado através do demônio estrangeiro Ban... seja Iá que nome tenha... porque ele emprestara dinheiro ao Filho Chen Número Um, que, em troca dos favores, lhe propusera o plano das armas e do ópio, mas fora estúpido o bastante para ser seqüestrado, e agora assassinado? Ah, sim. E não ia ele encontrar-se com o mesmo demônio estrangeiro em Macau na semana que vem, para combinar finanças, pagamentos, para pôr em movimento toda a vasta operação? Claro que ele teria que ser o Grande Tigre, claro que teria que ficar com o lucro maior! Com a perícia deles — e mais as técnicas modernas de Choy Lucrativo —, ele poderia revolucionar o contrabando de ópio para Hong Kong, revolucionar a conversão do narcótico bruto nos Pós Brancos imensamente lucrativos, e, finalmente, os meios de exportação para os mercados do mundo. Agora que Paul Choy já estava no departamento de expedição e carga aérea da Segunda Grande Companhia, e dois netos de Yuen, também treinados nos Estados Unidos, na sua operação de corretagem alfandegária... e mais outros quatro parentes de Lee Pó Branco, formados em universidades inglesas, colocados nas operações de depósitos da Casa Nobre em Kai Tak, e na divisão de carga e descarga da Ail Ásia Airways, as importações e exportações seriam cada vez mais seguras, fáceis e lucrativas.

Haviam discutido quem recrutariam na polícia, e especialmente na marinha.

— Nenhum dos bárbaros, nunca um daqueles filhos da mãe — dissera Lee Pó Branco, com veemência. — Eles não nos darão apoio, jamais. Não quando se trata de drogas. Temos que usar apenas os Dragões.

— De acordo. Todos os Dragões foram procurados, e todos cooperarão. Todos, exceto Tang-po, de Kowloon.

— Precisamos de Kowloon, ele é importante. E a marinha opera de Iá. Está querendo um acordo em melhores bases, pessoalmente, ou está contra nós?

— Não sei. No momento. — Quatro Dedos dera de ombros. — Cabe ao Grande Dragão resolver o problema de Tang-po. O Grande Dragão concordou, não há o que discutir.

"É", pensou Quatro Dedos, "passei-lhes a perna para que eles me fizessem o Grande Tigre, e passei a perna no Choy Lucrativo quanto ao meu dinheiro. Não dei ao Sacaninha o controle da minha fortuna para jogar com ela, como ele imaginou que eu faria. Ah, não. Não sou assim tão idiota! Dei-lhe apenas dois milhões, e prometi a ele dezessete por cento de todo o lucro... vejamos o que consegue fazer com isso. É. Vejamos o que consegue fazer com isso!"

O coração do velho bateu mais depressa, e ele se coçou. "Aposto que o danado astucioso vai triplicar a quantia dentro de uma semana", disse alegremente com seus botões, não sem um pouco de admiração... o diamante pago com a argúcia do filho, do primeiro lucro nas vendas da Bolsa, e um ano de Vênus Poon já garantido da mesma fonte, sem que ele tivesse dispendido uma só moeda do seu próprio capital! "Eeee! E os planos astutos que saem da cabeça do Lucrativo! Como o que bolou para o meu encontro amanhã com o tai-pan."

Ansiosamente, estendeu os dedos e tocou a meia moeda que estava no fio grosso à volta do seu pescoço, sob a camisa, uma moeda igual à que o seu ilustre ancestral, Wu Fang Choi, apresentara para reclamar um veleiro que se igualasse aos melhores na frota de Dirk Struan. Mas Wu Fang Choi, pensou sombriamente, fora um idiota... não exigira passagem em segurança para o navio como parte do favor, e assim o Demônio de Olhos Verdes, o tai-pan, lhe passara a perna.

"É", por todos os deuses, "foi por sua culpa exclusiva que Wu Fang Choi perdeu. Mas não perdeu tudo. Caçou aquele Corcunda chamado Stride Orlov, que governava os navios da Casa Nobre para Culum, o Fraco. Os homens dele pegaram Orlov em terra, em Cingapura, e levaram-no acorrentado para Formosa, onde ficava o seu quartel-general. Ali, ele o amarrou a um poste, bem na marca da maré alta, e o deixou morrer afogado, bem devagarinho.

"Não serei tolo como Wu Fang Choi. Não. Vou me certificar de que o meu pedido ao tai-pan seja absolutamente seguro.

"Amanhã, o tai-pan concordará em abrir os seus navios para as minhas cargas... secretamente, é claro; concordará em abrir algumas das contas da Casa Nobre para eu me esconder... secretamente, é claro, embora com grande lucro para ele; concordará, também em segredo, em financiar comigo a vasta usina farmacêutica nova que, oh ko, Choy Lucrativo diz será a cortina de fumaça de narcóticos perfeita, legítima, que jamais vai ser investigada, para mim e para os meus, para sempre; e por último, o tai-pan intercederá com o mestiço, Lando Mata, e escolherá o meu nome e o sindicato que eu sugerir para substituir o sindicato de ouro e jogatina já existente em Macau, de Tung Pão-Duro e do Chin, e ele, o tai-pan, prometerá fazer parte dele."

Wu Quatro Dedos ficou extático. "O tai-pan terá que concordar com tudo. Tudo. E tudo está dentro das possibilidades dele."

— Tome o conhaque.

Wu Quatro Dedos tirou-o da mão da amah e sorveu-o, sonhadoramente, com grande prazer. "Que todos os deuses sejam testemunhas: durante setenta e seis anos eu, Wu Quatro Dedos, chefe dos Wu Marítimos, vivi a vida intensamente, e se os deuses levarem o meu espírito durante as Nuvens e Chuva, eu os louvarei no céu (se houver um céu) eternamente. E se não..."

O velho deu de ombros, abriu um amplo sorriso e enros-cou os dedos dos pés. Bocejou e fechou os olhos, quentinho, gostoso e muito feliz. "Os deuses são os deuses, e os deuses dormem e cometem erros. Mas, tão certo quanto as grandes tempestades virão neste ano e no próximo, a Meretrizinha fará jus ao seu diamante esta noite. Agora, de que maneira deve ser?", perguntou-se, pegando no sono.

O táxi parou no portão. Suslev saltou, embriagado, e pagou ao chofer. Depois, oscilando de leve, passou por cima dos redemoinhos nas sarjetas e entrou.

Havia um bando de gente batendo papo e esperando o elevador, e ele reconheceu Casey e Jacques de Ville entre eles. Com passos trôpegos, foi arrotando pelas escadas até o andar inferior, atravessou a garagem e bateu à porta de Clinker.

— Alô, meu chapa! — cumprimentou Clinker.

— Továrich! — respondeu ele, dando-lhe um abraço apertado.

— Temos vodca e cerveja. Mabel, cumprimente o comandante!

A velha cadela buldogue simplesmente abriu um olho, mastigou as gengivas e soltou gases ruidosamente. Clinker soltou um suspiro e fechou a porta.

— Pobre da velha Mabel. Porra, como eu gostaria que ela não fizesse isso, a casa fica fétida! Tome. — Entregou a Suslev um copo cheio d'água com uma piscadela. — A sua preferida, meu chapa. Cento e vinte de teor alcoólico.

Suslev retribuiu a piscadela e engoliu a água ruidosamente.

— Obrigado, camaradão. Mais uma dessas e zarparei feliz deste paraíso capitalista.

— Mais uma dessas — riu Clinker, continuando a fingir — e vai sair do porto de Hong Kong de joelhos! — Voltou a encher o copo. — Quanto tempo vai ficar hoje?

— Não podia deixar de tomar uns últimos drinques com você, não é? Contanto que saia daqui Iá pelas dez, tudo bem. Vamos, beba! — trovejou, com alegria forçada. — Que tal um pouco de música, hem?

Alegremente, Clinker ligou o gravador, bem alto. Uma triste balada russa encheu o aposento.

Suslev encostou a boca no ouvido de Clinker.