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O nervosismo de Plumm aumentou. Um estremecimento o percorreu.

— Mas, e quanto... E se entregarmos o Grigóri ao Sinders? — perguntou. — E se der...

— Fale baixo. Não está pensando direito, pelo amor de Deus! Grigóri nos conhece a todos. Sinders o meteria num regime de dormir-acordar-dormir, o enfiaria no Quarto Vermelho, e ele contaria tudo! Isso nos destruiria, destruiria a Sevrin, e atrasaria os soviéticos dez anos na Ásia.

Plumm sentiu um arrepio, e enxugou o rosto.

— Então, o que vamos fazer?

— Deixar o Grigóri embarcar e zarpar de Hong Kong, e torcer para que convença os seus patrões. Mesmo que ele deixe "vazar" seu nome para o Sinders, acho que estamos infiltrados tão fundo que poderemos nos safar. Você é britânico, não um estrangeiro. Graças a Deus temos leis para nos proteger... mesmo sob a Lei dos Segredos Oficiais. Não se preocupe, nada vai acontecer sem que eu saiba, e se algo acontecer, saberei imediatamente. Sempre haverá tempo para o Plano Três.

O Plano Três era uma fuga que Plumm arquitetara para tal eventualidade... com passaportes falsos, passagens aéreas válidas, malas preparadas, roupas, disfarces e coberturas, incluindo uma chave mestra para as áreas de espera dos aviões, sem ter que passar pela Imigração... o plano tinha noventa e cinco por cento de possibilidades de êxito, se fosse acionado com uma hora de antecedência.

— Meu Deus! — Plumm olhou para a mala que estivera à espera. — Meu Deus! — repetiu, depois foi até o espelho olhar para o seu rosto. A vermelhidão estava sumindo. Molhou um pouco o rosto.

Crosse o observava, imaginando se estaria convencido. Era o melhor que tinha podido fazer, dadas as circunstâncias. Detestava a improvisação, mas nesse caso não tivera opção. "Que vida levamos! Só eu próprio sou imprescindível, os demais, não: Suslev, Plumm, Sinders, Kwok, Armstrong, até o governador."

— O que foi? — perguntou Plumm, olhando para ele pelo espelho.

— Só estava pensando que estamos num ramo de negócio duro.

— A causa o torna válido. É a única coisa que conta. Crosse ocultou o seu desprezo. "Acho mesmo que você já deu o que tinha que dar, Jason, meu velho", pensou, depois dirigiu-se ao telefone. Não havia extensões naquela linha, e ele sabia que o aparelho não estava censurado. Discou.

— Pronto?

Reconheceu a voz de Suslev e deu a tossezinha seca do Arthur.

— O sr. Lop-sing, por favor. — Continuando o código numa imitação perfeita da voz de Plumm, falou com urgência: — Deu zebra. O alvo não apareceu. Cuidado nas docas. A vigilância foi triplicada. Não podemos entregar a mala. Boa sorte.

Desligou. O silêncio pesou.

— É o dobre de finados para ele, não é? — comentou Plumm, tristemente.

Crosse hesitou. Deu um débil sorriso.

— Antes a morte dele do que a sua, não é?

81

20h25m

Na ruidosa sala de estar do fim do corredor, Casey terminou sua bebida e pousou o copo. Estava se sentindo inquieta e muito estranha. Parte dela estava feliz por Dunross ter-se safado, e a outra parte estava triste porque agora Gornt estava enrascado. Era bem evidente para ela que, com todas as transações que estavam ocorrendo à sua volta, o preço inicial das ações da Struan no pregão seria bem alto. "Pobre Quillan", pensou. "Se ele não cobrir a sua posição, vai estar atolado na merda... e, falemos francamente, fui eu que o pus ali. Não foi?

"Claro, mas eu tinha que livrar a cara do Dunross, porque, sem ele, o Gornt nos teria espremido até o bagaço... e talvez a todos os outros também. É, é bom não esquecer, não fui eu que dei início à incursão na Struan. Essa incursão foi do Linc, não minha. O Linc não disse sempre que não se deve misturar negócios e prazer? Não concordamos com isso?"

Linc. Sempre de volta ao Linc.

Casey não o vira o dia todo, nem tivera notícias dele. Deveriam ter se encontrado para tomar café juntos, mas havia um "favor não incomodar" na porta dele, e um "favor não incomodar" no telefone dele. Portanto, ela o deixara em paz e afastara a idéia de Orlanda do pensamento... "Será que Orlanda também estava Iá?" E, naquela noite, depois que voltara do passeio de barco, havia um recado: "Oi, divirta-se". Então, tomara banho, vestira-se, reprimira sua impaciência e viera para o coquetel. Não fora divertido no começo, todo mundo deprimido e apreensivo, e depois das novidades e da saída violenta de Gornt, também continuara a não ser divertido. Logo depois da saída de Gornt, Dunross abrira caminho até onde ela estava e lhe agradecera de novo, mas quase imediatamente fora cercado por homens entusiasmados discutindo negócios e oportunidades. Ela os observava, sentindo-se muito sozinha. "Talvez o Linc já tenha voltado ao hotel agora", pensou. "Gostaria que... deixe para Iá, está na hora de ir para casa," Ninguém notou quando ela saiu discretamente.

Roger Crosse estava junto ao elevador. Segurou a porta para ela, depois apertou o botão de descida.

— Obrigada. Bela festa, não? — disse ela.

— É, foi, sim — replicou ele, distraidamente.

No térreo, Crosse deixou que ela passasse primeiro, e depois saiu, em largas passadas, pela porta da frente e colina abaixo. "Por que tanta pressa?", perguntou-se ela, dirigindo-se para o grupo que esperava pelos táxis, feliz por não estar chovendo de novo. Parou bruscamente. Orlanda Ramos, com os braços cheios de embrulhos, vinha entrando no saguão. Avistaram-se ao mesmo tempo. Orlanda foi a primeira a se recuperar.

— Boa noite, Casey — disse, com seu melhor sorriso. — Como você está bonita!

— Você também — replicou Casey. E era verdade. Sua inimiga usava uma saia azul-clara e uma blusa que combinava perfeitamente com ela.

Orlanda derramou uma torrente de cantonense impaciente sobre o zelador amarfanhado que estava ali por perto. Prontamente, ele se aproximou e pegou os pacotes das mãos dela, resmungando.

— Desculpe, Casey — disse ela, cortesmente, uma ponta de nervosismo na voz —, mas houve um pequeno desabamento logo ali abaixo, e tive que deixar meu carro Iá. Veio fazer alguma visita?

— Já estou de saída. Você mora aqui?

— Moro, sim.

Novo silêncio entre elas, ambas se preparando. Então Casey deu um boa-noite educado e dispôs-se a ir embora.

— Talvez devêssemos conversar — disse Orlanda, e Casey parou.

— Claro, Orlanda, quando você quiser.

— Tem tempo agora?

— Acho que sim.

— Quer me acompanhar até o meu carro? Tenho que ir apanhar o resto dos embrulhos. Você não vai conseguir um táxi aqui, Iá embaixo será mais fácil.

— Está bem.

As duas mulheres saíram. A noite estava fresca, mas Casey ardia, e Orlanda também, cada uma delas sabendo o que vinha pela frente, uma temendo a outra. Foram andando com cuidado pela rua, molhada da água que escorria morro abaixo. Havia um prenuncio de mais chuva para breve, o que se podia perceber pela cerração baixa e escura. Mais adiante, a uns cinqüenta metros, Casey podia ver onde o aterro cedera, parcialmente, jogando um monte de terra, pedras, vegetação e detritos no meio da rua. Não havia calçada. Do outro lado do deslizamento, uma fila de carros se detivera, e manobrava impacien-temente para dar meia-volta. Alguns pedestres passavam com dificuldade por cima do aterro.

— Mora há muito tempo no Rose Court? — perguntou Casey.

— Há alguns anos. É muito agradável. Acho... Ah! Você estava na festa do Jason Plumm, na festa das Propriedades Asiáticas?

— Estava. — Casey viu o alívio no rosto de Orlanda, e aquilo a deixou com raiva, mas controlou-a e disse suavemente: — Orlanda, na verdade não temos nada a conversar, temos? Vamos nos dizer boa-noite.