Orlanda ergueu os olhos para ela.
— Linc está comigo. Está comigo no meu apartamento. Neste momento.
— Foi o que imaginei.
— Isso não a incomoda?
— Incomoda-me muitíssimo. Mas isso é problema do Linc. Não somos casados, como sabe, nem mesmo noivos, como sabe... você tem o seu jeito, eu tenho o meu, portanto...
— O que quer dizer com isso? — indagou Orlanda.
— Que conheço o Linc há sete anos, você não o conhece nem há sete dias.
— Isso não importa — falou Orlanda, desafiadoramente. — Eu o amo, e ele me ama.
— Isso ainda pre... — Casey foi quase empurrada para o lado por alguns chineses que passavam apressados, tagarelando ruidosamente. Outros vinham subindo a colina. Então alguns dos convidados da festa as rodearam, descendo o morro. Uma das mulheres era Lady Joanna, que olhou para elas com curiosidade, mas seguiu o seu caminho. Quando estavam sozinhas de novo, Casey terminou: — Isso ainda precisa ser provado. Boa noite, Orlanda — falou, com vontade de berrar para ela: "Você ganha o seu dinheiro deitada de costas, eu ganho o meu com meu trabalho, e todo esse amor de que você fala soletra-se dinheiro. Os homens são um bando de cretinos".
— É curioso, mas não culpo o Linc — continuou, murmurando em voz alta, vendo a linha firme do queixo, os olhos faiscantes e determinados, o corpo perfeito, voluptuoso mas esbelto. — Boa noite.
Seguiu o seu caminho. "Agora meu plano tem que mudar", pensava, todo o seu ser concentrado. "Esta noite eu ia fazer amor com o Linc, mas agora tudo vai ter que mudar. Se ele está na cama dela, está enfeitiçado por ela. Meu Deus, ainda bem que descobri. Santo Deus, se eu tivesse me oferecido, ele teria que dizer não, e então... Agora posso... o que devo fazer?
"As Orlandas do mundo que vão à merda! É tão fácil para elas, têm o plano do jogo feito desde o primeiro dia. Mas, e quanto ao resto de nós?
"O que faço? Agüento firme até 25 de novembro e torço para que até Iá ele já esteja de saco cheio da Orlanda?
"Não dessa fulana. Ela é dinamite, e sabe que Linc é o seu passaporte para a eternidade."
O coração dela bateu mais depressa. "Eu sou páreo para ela", disse consigo mesma, confiante. "Talvez não na cama ou na cozinha, mas posso aprender."
Subiu numa pedra e desceu dela, xingando a lama que estragava os seus sapatos, e pulou para o outro lado da barreira de terra. O Rolls de Dunross, com o seu chofer, estava no começo da fila.
— Com licença, senhorita, o tai-pan ainda está Iá?
— Está, sim.
— Ah, obrigado.
O chofer trancou o carro e subiu rapidamente a colina, passando pela barricada na estrada. Casey virou-se e ficou olhando para ele. Seus olhos se fixaram em Orlanda, que se aproximava, e ficou com vontade de empurrá-la na lama. A idéia a divertiu, e ficou parada ali, vendo a inimiga se aproximar, deixando que ficasse imaginando o que Casey faria. Viu os olhos dela ficarem mais duros, e não havia medo no rosto de Orlanda, apenas um meio sorriso muito confiante. Orlanda passou por ela, sem medo, e um tremor de apreensão percorreu Casey, um tremor que ela conseguiu dominar. "Talvez você tenha tanto medo de mim e do meu poder quanto eu do seu", pensou, os olhos agora fitos no Rose Court, uma torre brilhante de luz, imaginando qual a luz que cercaria Linc, ou qual janela escurecida...
Quando Orlanda avistara Casey no saguão, imediatamente chegara à conclusão de que ela fora ao seu apartamento e confrontara Bartlett... "É o que eu teria feito", disse com seus botões. E mesmo sabendo agora onde Casey estivera, o medo a percorreu de novo, à vista da sua rival. "Será que ela tem poder sobre ele através da Par-Con?", perguntou-se, trêmula.
"Será que pode controlar o Linc através das ações? Se a primeira mulher de Linc quase o destruiu financeiramente, e Casey o salvou tantas vezes quanto ele contou, aposto que ela o tem bem amarrado. Eu o faria, se fosse ela, claro que faria."
Involuntariamente, Orlanda olhou para trás. Casey ainda estava observando o Rose Court. Atrás dela, Dunross e outros (Riko, Toxe, Phillip e Dianne Chen entre eles) saíram do saguão e começaram a descer o morro. Ela os ignorou, e a tudo o mais, exceto a questão de como lidar com Linc quando voltasse. Devia contar-lhe sobre o encontro com Casey ou não? Atordoada, pegou os outros embrulhos de dentro do carro. "De uma coisa eu sei", repetiu para si mesma, inúmeras vezes. "O Linc é meu, e com ou sem Casey, vou me casar com ele, custe o que custar."
Casey tinha visto Dunross sair do saguão e ficou olhando para ele, apreciando a sua aparência, alto, elegante, dez anos mais jovem do que quando o conhecera, e ficou muito satisfeita por ter podido ajudá-lo. Então, quando já ia se virando, ouviu que ele a chamava:
— Casey, Casey, espere um momento! — Ela olhou para trás. — Que tal ir jantar conosco? — convidou.
Ela fez que não com a cabeça, sem a menor disposição, e respondeu:
— Obrigada, mas tenho um encontro! Até amanhã... Naquele momento, a terra desabou.
82
20h56m
A avalancha começara mais acima na encosta, do outro lado da Po Shan Road, e varrera a rua, atingindo uma garagem de dois andares. Sua massa e velocidade eram tão grandes que o prédio da garagem rodopiou e tombou sobre o terraço ajardinado, escorregou por uma curta distância, depois caiu de vez. A avalancha ganhou impulso, passou sobre um outeiro às escuras, atravessou a Conduit Road e atingiu a casa de dois andares de Richard Kwang, destruindo-a. E então, carregando consigo esses prédios, a avalancha, agora com duzentos e setenta metros de comprimento por sessenta de largura — cinqüenta toneladas de terra e pedras —, continuou sua trilha descendente através da Kotewall Road e atingiu o Rose Court.
O deslizamento de terra durara sete segundos.
Quando o Rose Court foi atingido, pareceu estremecer, e depois o prédio se afastou dos seus alicerces e se moveu para diante na direção do porto, tombou e se quebrou mais ou menos no meio, como um homem que se ajoelha e depois cai.
Enquanto caía, os andares superiores atingiram e arrancaram um canto dos andares superiores do Sinclair Towers, abaixo. Depois o edifício se desfez e se desintegrou em entulho. Parte do deslizamento e do prédio demolido continuaram o seu caminho e caíram numa obra mais abaixo na montanha, depois pararam. As luzes se apagaram quando o prédio desmoronou numa nuvem de pó. E agora, por toda a Mid Leveis, havia um silêncio imenso e atordoado.
E então os gritos começaram...
No túnel por baixo da Sinclair Road, Suslev sufocava, meio enterrado no entulho. Parte do teto do túnel fora arrancada, e agora a água entrava pelos canos e ralos, enchendo o túnel rapidamente. Ele se levantou às tontas e abriu caminho para o ar livre, sua mente confusa e impotente, sem saber o que estava acontecendo, apenas que, de alguma forma, fora capturado, drogado e agora estava num pesadelo de acordar-dormir, no Quarto Vermelho. Olhou ao seu redor, alucinado pelo pânico. Todos os prédios estavam às escuras, a força, desligada, uma pilha monstruosa de escombros que gemiam e se mexiam a cercá-lo. Então, suas glândulas o dominaram, e ele fugiu desabaladamente pela Sinclair Road...
Bem Iá acima, na Kotewall Road, os que ficaram do outro lado da barragem estavam a salvo, embora paralisados de choque. Os poucos que ainda estavam de pé, Casey entre eles, não podiam crer no que haviam testemunhado. A vasta avalancha havia arrancado toda a estrada, até onde seus olhos alcançavam. A maior parte da encosta, que até há pouco estava cheia de prédios, era agora uma inclinação ondulante e feia de lama, terra, rochas; as ruas soterradas, os prédios desaparecidos, e Dunross e o seu grupo carregados inclinação abaixo.
Casey tentou gritar, mas não tinha voz. Então o grito saiu da sua boca:
— Ah, meu Deus! Linc!
Seus pés se moveram, e antes que se desse conta do que estava acontecendo, estava indo aos trancos e barrancos, caindo, tateando, na direção dos escombros. Agora a escuridão era terrível, os gritos terríveis, vozes começando, gritos de socorro por toda parte, a pilha incrível e retorcida de entulho ainda se movendo aqui e ali, pedaços ainda caindo e sendo esmagados. Subitamente, a noite foi iluminada pelas linhas de força explodindo, enviando cascatas de bolas de fogo pelos ares, entre os escombros.