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Ele parou bruscamente, voltou-se.

— Onde? Onde ele estava?

— Está... no meu apartamento. É no oitavo andar... é no oitavo andar!

Dunross saiu correndo de novo, e a lanterna elétrica era o único facho de luz no atoleiro.

Aqui e ali havia gente tateando às cegas, enterrada até os tornozelos na terra ensopada, as mãos em concha sobre fósforos, dirigindo-se para as ruínas. Quando chegou mais perto da catástrofe, seu coração se confrangeu. Podia sentir o cheiro de gás. A cada segundo o cheiro ficava mais forte.

— Apaguem os fósforos, pela madrugada! — urrou ele. — Vão nos mandar a todos pelos ares! Foi então que viu Casey...

O carro da polícia que seguia o de bombeiros subiu correndo a colina, as sirenes uivando, o tráfego denso, e ninguém saindo do caminho. Dentro do carro, Armstrong cuidava dos chamados pelo rádio:

— Todas as unidades policiais e carros de bombeiros para a Kotewall Road! Emergência, emergência, emergência! Novo desabamento de terra nas vizinhanças da Po Shan e da Sinclair Road! Os informantes avisam que o Rose Court e dois outros prédios de doze andares desabaram.

— Mas que coisa ridícula! — resmungou Armstrong, depois. — Cuidado, puta merda! — berrou para o motorista, que passara para a contramão, escapando por pouco de bater num caminhão. — Vire à direita aqui, depois atravesse a Castle e entre na Robinson e na Sinclair por aquele lado — ordenou. Estava indo para casa, depois de outra sessão de reconstituição com Brian Kwok, a cabeça doendo, exausto, quando escutara o chamado de emergência. Lembrando-se de que Crosse morava na Sinclair Road e que dissera que passaria na festa de Jason Plumm depois de ir com Rosemont verificar uma pista, resolvera ir dar uma espiada. "Porra", pensou sombriamente, "se ele foi atingido, quem vai assumir o sei? E devemos ainda soltar o Brian, ou prendê-lo, ou o quê?"

Uma nova voz veio pelo rádio, firme, sem pressa, a estática forte:

— Aqui fala o vice-chefe dos bombeiros, Soames. Emergência Um! — Armstrong e o motorista soltaram uma exclamação abafada. — Estou na junção da Sinclair, Robinson e Kotewall Road, onde instalei um posto de comando. Emergência Um, repito, Um! Informem imediatamente ao comissário e ao governador. É um desastre de enormes proporções. Avisem todos os hospitais da ilha para ficarem de prontidão. Ordenem a todas as ambulâncias e enfermeiros que venham para a área. Vamos pedir imediata ajuda do exército. Não há eletricidade nenhuma, precisamos de geradores, cabos e luzes...

— Santo Deus! — murmurou Armstrong. Depois, vivamente: — Despache as informações, puta que o pariu, e ande depressa!

O carro da polícia aumentou a velocidade...

— Oh, Ian! — disse Casey, nem conseguindo mais chorar, a criança apavorada nos braços. — Linc está Iá embaixo, em algum lugar.

— É, eu sei, eu sei — disse ele, acima da confusão insana de berros e gritos de socorro que vinham do meio do rangido agourento que os escombros faziam enquanto ainda se acomodavam. As pessoas andavam a esmo, cegamente, sem saber onde procurar, onde começar, como ajudar. — Você está bem?

— Estou... mas o Linc! Não... — Interrompeu-se. Logo adiante, encosta abaixo, perto dos restos do elevador, uma vasta pilha de vigas retorcidas e fragmentos destroçados de concreto cedeu ensurdecedoramente, dando início a uma reação em cadeia que desceu a encosta. Quando ele focalizou sua lanterna elétrica no fenômeno, viram uma massa solta de entulho atingir violentamente o elevador, soltá-lo e fazê-lo descer aos trambolhões, deixando corpos no seu rastro. — Ah, Deus! — choramingou Casey. A criança apavorada agarrava-se a ela.

— Volte para o carro, estará a salvo...

Nesse exato momento, um homem alucinado de ansiedade veio correndo até junto deles, espiou a criança nos braços dela, depois agarrou-a, apertando-a ao peito, murmurando graças a Deus e a ela.

— Onde... onde a encontrou? Casey apontou o local, entorpecida.

O homem olhou para o local indicado, atordoado, depois sumiu dentro da noite, chorando de alívio, abertamente.

— Fique aqui, Casey! — disse Dunross, com urgência, as sirenes se aproximando de todas as direções. — Vou dar uma espiada rápida.

— Por favor, tome cuidado! Meu Deus, sente cheiro de gás?

— Sinto, e muito.

Usando a lanterna elétrica, começou a abrir caminho com cuidado sobre, sob e através dos escombros, escorregando e deslizando. Era perigosíssimo, toda a massa instável rangendo. O primeiro corpo era de uma chinesa que ele não conhecia. Cerca de dez metros mais abaixo estava um europeu, a cabeça esmagada, quase destruída. Rapidamente ele iluminou o caminho à frente com a lanterna, mas não viu Bartlett entre os outros mortos. Mais abaixo havia dois corpos, ambos chineses. Engolindo a sua náusea, foi abrindo caminho sob uma saliência perigosa, até chegar junto do europeu. Então, segurando a lanterna com cuidado, revistou os bolsos do morto. A carteira de motorista dizia: Richard Pugmire.

— Meu Deus! — gemeu Dunross. O cheiro de gás era muito forte. O estômago dele se revirou quando, mais Iá embaixo, outras linhas de força soltaram fagulhas. "Iremos todos para o beleléu se aquelas malditas fagulhas chegarem aqui", pensou. Cuidadosamente, saiu de baixo do entulho e ficou ereto, respirando agora com mais facilidade. Um último olhar para o corpo de Pugmire, e voltou a descer a encosta. A poucos passos dali, ouviu um débil gemido. Levou algum tempo para localizar a fonte, mas finalmente o fez e desceu, o coração batendo com força. Com muito cuidado, enfiou-se nas profundezas sob uma saliência monstruosa de vigas e alvenaria. Os dedos dele seguraram firme. Usando toda a sua força, inclinou o concreto quebrado e afastou-o para o lado. Viu a cabeça de um homem Iá embaixo.

— Socorro — disse Clinker, debilmente. — Deus o abençoe, companheiro...

— Agüente firme um segundo. — Dunross podia ver que o homem estava preso por uma imensa viga, que também impedia que o entulho acima o esmagasse. Com a ajuda da lanterna, procurou até achar um pedaço quebrado de cano. Usando-o como alavanca, tentou erguer a viga. Uma pirâmide de entulho mudou de posição, ameaçadora. — Pode se mexer? — perguntou, ofegante.

— São... são as minhas pernas, estão machucadas, mas posso tentar. — Clinker estendeu a mão e agarrou um pedaço de ferro engastado. — Estou pronto quando você estiver.

— Como se chama?

— Clinker, Ernie Clinker. E você?

— Dunross, Ian Dunross.

— Oh! — Clinker moveu a cabeça dolorosamente e olhou para cima, o rosto e a cabeça sangrando, o cabelo empastado, os lábios em carne viva. — Obrigado, tai-pan. Estou pronto quando o senhor estiver.

Dunross colocou todo o seu peso e força na alavanca improvisada. A viga se deslocou cerca de dois centímetros e meio. Clinker se espremeu, mas não conseguiu se mover.

— Um pouquinho mais, companheiro — ofegou, em meio à forte dor. Dunross fez mais força. Sentiu os tendões dos braços e pernas reclamando do esforço. A viga se levantou uma fração. Um pouco de cascalho entrou na cavidade. Mais alto ainda.

— Agora! — disse, com urgência. — Não consigo agüentar mais...

O velho agarrou o pedaço de ferro com mais força e veio se arrastando, centímetro por centímetro. Mais cascalho se movia enquanto ele se deslocava. Agora, metade do seu corpo estava para fora. Depois que o tronco dele ficou livre, Dunross deixou a viga voltar ao lugar, muito suavemente, e quando ela estava de novo acomodada, agarrou o velho e puxou-o até libertá-lo. Foi então que viu o rastro de sangue, o pé esquerdo faltando.

— Não se mexa, velho — falou, compassivamente, enquanto Clinker jazia ofegante, semi-inconsciente, tentando conter os gemidos de dor. Dunross abriu uma atadura e amarrou um tosco torniquete logo abaixo do joelho.

Depois ficou em pé no pequeno espaço e olhou para a saliência perigosa acima dele, tentando decidir o que fazer a seguir. "Bem, primeiro tenho que tirar esse desgraçado daqui", pensou, sentindo-se mal com o confinamento. Foi então que ouviu o ronco e o rangido do entulho em movimento. A terra balançou e ele se abaixou, os braços protegendo a cabeça. Uma nova avalancha começara.