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21h13m

Fazia apenas dezesseis minutos desde que o Rose Court fora atingido, mas por toda a vasta área de destruição havia gente se mexendo. Alguns haviam conseguido abrir caminho e sair dos destroços. Outros eram salvadores, e bem Iá embaixo, perto do posto de comando instalado no entroncamento, havia carros de polícia, quatro carros de bombeiros e unidades de salvamento, suas luzes móveis iluminando a encosta, bombeiros e policiais trabalhando desesperadamente nos escombros. Um pequeno incêndio começou e foi logo apagado, todos conscientes do perigo do gás. Uma ambulância com os mortos e feridos já fora despachada, e mais vinham chegando.

Estava caótico na escuridão, toda a iluminação da rua desligada, a chuva recomeçando. O oficial do Corpo de Bombeiros chegara fazia um momento, mandara chamar os técnicos da companhia de gás e organizara outros peritos para inspecionarem os alicerces de outros prédios de apartamentos e construções próximos, para o caso de precisarem ser evacuados... as três fileiras de edifícios da Kotewall, da Conduit e da Po Shan Road sob suspeita.

— Puxa vida — murmurou, abismado —, vamos levar semanas para escavar e limpar tudo isso. — Mas ficou parado ao ar livre, externamente um modelo de calma. Outro carro-patrulha freou, guinchando. — Oh, alô, Robert! — falou, quando Armstrong se juntou a ele. — É... — comentou, vendo o choque do outro. — Sabe Iá Deus quantos estão enterrados Iá...

— Cuidado! — gritou alguém, e todos correram para se abrigar quando um bloco de concreto reforçado veio caindo desabaladamente dos andares superiores mutilados do Sinclair Towers. Um dos carros de polícia virou sua luz para cima. Agora podiam ver os restos dos aposentos abertos para o céu. Uma figura minúscula se equilibrava na beirada.

— Mande alguém Iá para cima ver que diabo está acontecendo ...

Um bombeiro saiu correndo...

Na escuridão, junto à barricada da Kotewall Road, haviam-se reunido moradores dos prédios próximos, todos apavorados com a possibilidade de novo desabamento, os inquilinos desesperados, sem saber se deviam evacuar os prédios ou não. Orlanda ainda estava encostada ao carro, atordoada, a chuva no seu rosto se misturando às lágrimas. Outro grupo de reforço de policiais passou sobre a barricada e espalhou-se em leque no atoleiro, iluminando o terreno com lanternas elétricas poten-tíssimas. Um deles ouviu um grito de socorro vindo de baixo e dirigiu o facho de luz para os arbustos, depois mudou rapidamente de direção ao ver Riko acenando e gritando, com duas figuras inertes ao lado.

No entroncamento da Kotewall Road, o carro de Gornt freou bruscamente. Ignorando as ordens do policial atribulado que ali estava, ele enfiou as chaves na mão dele e subiu correndo a colina. Quando chegou perto da barreira e viu a extensão do desastre, ficou atordoado. Havia poucos momentos estivera ali, bebendo e flertando com Casey, tudo acertado, tudo certo com Orlanda. Depois toda a sua vitória virará de ponta-cabeça, ele esbravejando com Dunross. Mas algum milagre o mandara embora a tempo, e agora talvez todos os outros estivessem mortos e enterrados para sempre. Meu Deus! Dunross, Orlanda, Casey, Jason, Barre...

— Saia do caminho! — berrou o policial. Mais enfermeiros com maças passaram apressados, seguidos por bombeiros com machados, indo para o outro lado da barreira de lama, pedras e árvores, em direção às ruínas. — Desculpe, senhor, mas não pode ficar aqui.

Gornt se afastou para o lado, respirando pesadamente devido à corrida que dera.

— Alguém conseguiu se safar?

— Ah, sim, claro, estou certo de que...

— Viu Dunross, Ian Dunross?

— Quem?

— O tai-pan, Dunross?

— Não, desculpe, não vi.

O policial se virou para interceptar e acalmar alguns pais atormentados.

Os olhos de Gornt voltaram-se para o desastre, ainda aturdido pelas suas proporções.

— Meu Deus! — murmurou uma voz americana. Gornt se virou. Paul Choy e Vênus Poon faziam parte de um novo grupo que vinha subindo com dificuldade. Todos fitavam, abes-talhados, a escuridão. — Deus!

— O que está fazendo aqui, Paul?

— Oh, alô, sr. Gornt! Meu... meu tio está ali — disse Paul Choy, quase sem conseguir falar. — Santo Deus, olhe só para isso!

— Quatro Dedos?

— É. Ele...

Vênus Poon interrompeu-o, imponentemente:

— O sr. Wu está me esperando para discutir um contrato cinematográfico. Vai ser produtor de filmes.

Gornt ignorou a mentira patente enquanto sua mente funcionava a mil por hora. Se pudesse salvar Quatro Dedos, talvez o velho o ajudasse a se safar do desastre da Bolsa que o aguardava.

— Em que andar ele estava?

— No quinto — disse Vênus Poon.

— Paul, dê a volta pela Sinclair Road e tente subir por este lado da encosta. Vou descer para ir encontrá-lo! Mexa-se!

O rapaz saiu correndo antes que Vênus Poon pudesse detê-lo. O policial ainda estava distraído. Sem hesitar, Gornt correu para a barricada. Conhecia bem o apartamento do quinto andar de Plumm... Quatro Dedos devia estar próximo. Na escuridão, não notou Orlanda do outro lado da rua.

Logo que ultrapassou a barreira, moveu-se o mais rápido que podia, os pés afundando na terra. Às vezes tropeçava.

— Heya, Honrado Senhor! — gritou em cantonense, para um carregador de maca próximo. — Tem uma lanterna elétrica sobrando?

— Tenho, sim, tome! — disse o homem. — Mas cuidado, o caminho é traiçoeiro. Há muitos fantasmas aqui.

Gornt agradeceu-lhe e saiu apressado, agora ganhando tempo. Chegando perto de onde ficaria o saguão, parou. Encosta acima, até onde seus olhos enxergavam, estava a fenda feia do desabamento, com cerca de cem metros de largura. Nas beiradas dessa fenda ficavam outros edifícios e prédios de apartamentos, um deles em construção, e a idéia de ficar preso num deles o deixou nauseado. A Conduit Road inteira sumira, árvores arrancadas, parapeitos desaparecidos. Quando olhou para baixo, estremeceu.

— É impossível — murmurou, lembrando-se do tamanho de prédio, e da alegria que o Rose Court lhe dera ao longo dos anos. Então viu as luzes dardejando no topo do Sinclair Towers, o prédio que sempre odiara. Odiara Dunross ainda mais por tê-lo financiado e ser dono dele, por estragar a sua maravilhosa vista. Quando notou que o canto superior estava faltando, sentiu uma onda de prazer percorrê-lo, que logo se transformou em fei, ao se lembrar do seu próprio apartamento de cobertura, que ficava no décimo segundo andar do Rose Court, e de todas as horas boas que passara com Orlanda, Iá no oitavo andar, agora cheios de entulhos e morte. — Meu Deus! — falou em voz alta, abençoando a sua sorte. Depois, prosseguiu...

Casey estava sentada num monte de entulho, esperando, sofrendo. A equipe de salvamento espalhava-se por toda a encosta, trabalhando na semi-escuridão, andando com cuidado sobre superfícies perigosas, gritando e ao mesmo tempo tentando ouvir os gritos dos que estavam presos. Aqui e ali, alguns cavavam desesperadamente, afastando os escombros enquanto outro infeliz era encontrado.

Nervosa, ela se levantou e espiou pela encosta, buscando Dunross. Ele havia desaparecido rapidamente de seu campo de visão, nos escombros, mas de quando em vez ela enxergava o brilho de sua lanterna elétrica. Agora, havia minutos não via nada. A ansiedade dela aumentava, os minutos demorando a passar, e cada vez que os escombros se acomodavam de novo, ela morria de medo. "Linc, Linc está ali, em algum lugar", ecoava no seu cérebro. "Tenho que fazer alguma coisa, não posso ficar sentada. Não, é melhor ficar sentada, esperar e rezar, esperar, esperar pela volta do Ian. Ele vai encontrá-lo..."

Numa súbita onda de pavor, ela se pôs de pé. Um grande pedaço na metade da encosta se havia soltado, dispersando os salvadores, que correram para não morrer. Dali a um momento a reação em cadeia cessou, e tudo ficou quieto de novo, mas o coração dela continuava a bater violentamente. Não havia o facho móvel da luz de Dunross para tranqüilizá-la.