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— Ah, Deus, permita que ele esteja bem!

— Casey? Casey, é você? — perguntou Gornt, saindo de dentro da escuridão e subindo para junto dela.

— Ah, Quillan! — começou ela, pateticamente, e ele a abraçou, sua força dando-lhe ânimo. — Por favor, ajude o Linc...

— Vim tão logo soube — falou ele rapidamente, interrompendo-a. — Ouvi pelo rádio. Santo Deus, estava apavorado de que você estivesse... nunca esperei que... Fique calma, Casey!

— Eu... estou bem. O Linc está... Iá, em algum lugar, Quillan.

— O quê? Mas como? Ele e...

— Estava no apartamento da Or... da Orlanda, e Ian...

— Pode ser que você esteja enganada, Casey. Ou...

— Não, Orlanda me contou.

— Hem? Ela também se salvou? — perguntou Gornt, numa voz abafada. — Orlanda se salvou?

— Salvou-se. Ela estava comigo, perto de mim, Iá atrás. Vi tudo acontecer, Quillan, vi toda a terrível avalancha, e o prédio inteiro desabar, e depois corri para cá, o Ian veio ajudar, e o Linc está Iá...

— Dunross? Ele também se salvou? — indagou ele, um gosto amargo na boca.

— Salvou-se, sim. Está Iá embaixo, agora. Um pedaço do prédio mudou de posição, e o elevador, o elevador está cheio de corpos. Ele está Iá embaixo, nalgum lugar, procurando... procurando...

A voz dela foi sumindo.

Viu que Gornt passava a concentrar a atenção na encosta.

— Quem mais se salvou?

— Jacques, os Chens, aquele jornalista, não sei... — não conseguia enxergar o rosto dele. Portanto, não podia ver o que se passava nele. — Lamenta que... que o Ian esteja vivo?

— Não. Pelo contrário. Para onde ele foi?

— Para ali. — Pegou a lanterna dele e mostrou a direção. — Ali, junto daquele afloramento. Ele... faz tempo que não o vejo, mas foi por ali. Está vendo os restos do elevador? Ali perto.

Agora podia enxergar melhor o rosto dele, os olhos escuros, o rosto barbudo e bem-feito, mas ele nada deixava transparecer.

— Fique aqui — mandou ele. — Aqui estará a salvo. Pegou a lanterna elétrica e se dirigiu para os escombros, e logo foi engolido por eles.

A chuva agora estava mais forte, cálida como a noite, e Gornt cuspiu o fei da boca, feliz porque seu inimigo estava vivo, odiando isto, mas desejando-o vivo mais ainda.

O terreno estava muito escorregadio, e ele descia com cuidado. Uma laje oscilou e caiu. Ele tropeçou, arranhou a canela e soltou um palavrão, depois seguiu em frente, a lanterna elétrica buscando a segurança onde ela não existia. "Quer dizer que o maldito Ian Dunross se safou antes do desabamento", pensava. "Aquele sacana tem sete vidas! Porra, mas não se esqueça de que os deuses também estavam do seu lado. Não se esqueça de que..."

Deteve-se. Ouvia débeis gritos de socorro que vinham de algum lugar próximo. Prestou muita atenção, mas não pôde identificar a direção. Chamou:

— Onde está você, onde está? — prestando atenção de novo. Nada. Hesitando, reexaminou o caminho à sua frente. "Essa joça amaldiçoada pode deslizar mais uns trinta metros de uma hora para outra", pensou. — Onde está você?

Nada ainda. Então continuou cautelosamente, o cheiro de gás muito forte.

Quando chegou perto do que restava do elevador, olhou para os corpos, sem reconhecer nenhum. Continuou e dobrou uma esquina, abaixando-se sob uma saliência. Subitamente, foi cegado pelo facho de uma lanterna elétrica.

— Que diabo está fazendo aqui, Quillan? — perguntou Dunross.

— Procurando você — disse Gornt, sombriamente, jogando a luz sobre ele. — Casey me contou que você estava brincando de esconde-esconde.

Dunross estava descansando em cima de um pouco de entulho, recobrando o fôlego, os braços feridos e sangrando, as roupas em farrapos. Quando aquela parte dos escombros mudara de posição, o caminho de entrada fora fechado. Enquanto corria para a segurança, a lanterna fora derrubada da sua mão, e quando a avalancha parou, estava preso junto com Clinker. Fora preciso toda a sua força de vontade para não entrar em pânico na escuridão. Pacientemente, vasculhara a área, os dedos tateando, procurando a lanterna elétrica. Centímetro por centímetro. E quando já estava quase prestes a desistir, seus dedos se fecharam sobre ela. Tendo luz novamente, o medo o deixara. A luz indicara uma nova saída. Fitou Gornt, sorrindo apenas superficialmente.

— Está triste porque não morri?

Gornt deu de ombros e abriu o mesmo sorriso repulsivo.

— Estou. Joss. Mas não vai demorar a acontecer. — A saliência acima deles gemeu e mudou ligeiramente de posição, e ele a iluminou. Os dois homens prenderam a respiração. Ela se acomodou. — E vai demorar menos ainda se não dermos o fora daqui rapidinho.

Dunross levantou-se, e gemeu quando sentiu uma pontada de dor nas costas.

— Não está ferido, espero — disse Gornt.

Dunross riu e se sentiu melhor, o medo do sepultamento se dissipando.

— Não. Dê-me uma mão, sim?

— O quê?

Dunross apontou sua lanterna para os escombros. Então Gornt pôde ver o velho.

— Fiquei preso Iá embaixo tentando salvá-lo. — Imediatamente, Gornt foi ajudar, agachando-se, tirando do lugar o entulho que podia para abrir algum espaço. — O nome dele é Clinker, suas pernas estão uma tristeza, e perdeu um pé.

— Meu Deus! Deixe que eu faço isso. — Gornt pegou mais firme na laje, afastou-a, e saltou para dentro da cavidade. Dali a um momento, voltou-se e ergueu os olhos para cima, para Dunross. — Infelizmente, o desgraçado está morto.

— Ah, Deus! Tem certeza?

Gornt levantou o velho como se fosse um boneco, e o pôs ao ar livre.

— Pobre coitado!

— Joss. Ele falou onde estava no prédio? Em que andar? Havia alguém com ele?

— Resmungou algo sobre o zelador, e estar sob o prédio, e algo sobre..., acho que falou Mabel.

Gornt iluminou tudo à volta com sua lanterna.

— Ouviu alguém ou alguma coisa?

— Não.

— Vamos tirá-lo daqui — disse Gornt, em tom decisivo.

Carregaram-no. Quando estavam ao ar livre, e relativamente seguros, pararam para recobrar o fôlego. Havia alguns carregadores de maças por perto. Dunross os chamou.

— Nós o levaremos, Honrado Senhor — disse um deles. Colocaram o corpo numa maca e se afastaram rapidamente.

— Quillan, antes de voltarmos para Casey, ela disse...

— O Bartlett? É, contou-me que estava na casa da Orlanda. — Gornt o observava. — O apartamento dela ficava no oitavo andar.

Dunross olhou pela encosta abaixo. Havia mais luzes do que antes.

— Onde teria ficado o andar?

— Ele não pode deixar de estar morto. O oitavo andar?

— É. Mas em que altura? Gornt examinou a encosta.

— Daqui não consigo ver. Poderia reconhecer alguma coisa, mas duvido. Estaria Iá, Iá embaixo, quase na Sinclair Road.

— Ele poderia estar vivo, numa bolsa de ar. Vamos dar uma espiada.

O rosto de Gornt se retorceu num sorriso curioso.

— Precisa dele e do seu negócio, não é?

— Não, agora não.

— Não, porra nenhuma! — Gornt subiu num afloramento. — Casey! — gritou, fazendo concha com as mãos. — Vamos descer! Volte para a barricada e espere Iá!

Ouviram a resposta débil dela.

— Está bem, tomem cuidado! Então, Gornt falou com azedume:

— Está certo, Gunga Din, se vamos brincar de herói, é melhor fazermos a coisa direito. Eu vou na frente — falou, saindo.

Com igual azedume, mas precisando dele, Dunross acompanhou-o, sentindo a raiva crescer. Os dois homens saíram dali com esforço. Tendo conseguido se safar, começaram a descer encosta abaixo, penosamente. De vez em quando viam um corpo, ou parte de um corpo, mas ninguém que reconhecessem. Passaram por alguns sobreviventes desesperados, ou parentes de desaparecidos, escavando pateticamente ou tentando escavar com as mãos, com um pedaço quebrado de madeira... com qualquer coisa que pudessem encontrar.