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Gornt não se esquecera.

De onde estava podia enxergar a cova. Viu as mãos e a cabeça de Dunross emergirem do lodo. As mãos procuraram um apoio. Mais lodo entrava cova adentro, enchendo-a. As mãos de Dunross escorregaram, e ele foi sugado para baixo, mas lutou para sair de novo e agarrou-se precariamente.

Gornt observava. E esperava. E não se mexia. A lama continuava a jorrar. O nível aumentou mais.

Dunross sentiu-se cair, a sucção muito grande. Estava sufocando no lodo, mas manteve os dedos firmes, forçou os dedos dos pés para dentro de uma fenda e começou a subir. De algum jeito, conseguiu livrar-se da sucção e agora estava a salvo, agarrado à borda, metade do corpo fora da lama, o peito ofegando, o coração disparando, com ânsias de vômito. Ainda meio em estado de choque, os joelhos trêmulos, limpou a lama dos olhos e da boca e olhou ao redor, atordoado. Então viu Gornt três metros acima dele, observando-o, encostado serenamente a um afloramento...

Por um instante todo o seu ser se concentrou, vendo o sorriso sarcástico e retorcido, o ódio franco e o enorme desapontamento, e sabia que, se ele tivesse estado Iá em cima, e o Gornt preso numa armadilha como ele estivera, também teria observado e esperado.

"Teria?

"Teria igualmente observado e esperado, e jamais estendido a mão para ajudar. Não para Gornt. E então, finalmente, a maldição de Dirk Struan teria terminado, teria acabado de vez, e aqueles que me sucedessem jamais seriam atormentados de novo."

E então o instante passou. Sua cabeça se desanuviou. Lembrou-se de Bartlett e olhou para baixo, horrorizado. A passagem que antes havia era agora apenas um lago lamacento.

— Ah, Deus! Socorro! — gritou. Então houve um súbito pandemônio, e os outros correram para a cova, Hooks, os soldados e os bombeiros, arremessando-se impotentes contra o lodo com pás e mãos.

Dunross saiu Iá de dentro. Trêmulo, ficou parado na beirada. Angustiado. Gornt já se fora. Dali a pouco todas as tentativas cessaram. A poça permaneceu.

Terça-feira

89

17h39m

Dunross estava de pé junto à janela panorâmica da sua cobertura no Edifício Struan, olhando para o portão. O pôr-do-sol era maravilhoso, a visibilidade sem limites, o céu limpo, exceto por alguns cúmulos matizados a oeste, na direção da China continental, avermelhado ali, a escuridão tocando o horizonte oriental. Mais abaixo, o porto estava movimentado como sempre, comum como sempre, Kowloon resplandecendo ao crepúsculo.

Claudia bateu à porta e abriu-a. Casey entrou. Seu rosto era a imagem da desolação, o cabelo fulvo como o pôr-do-sol. A dor tornava-a etérea.

— Alô, Casey.

— Alô, Ian.

Não havia necessidade de dizer mais nada. Tudo sobre Bartlett já tinha sido dito. Só no fim da noite anterior é que tinham conseguido resgatar seu corpo. Casey esperara na encosta por ele. Depois, voltara para o hotel. Pela manhã telefonara, e agora estava ali.

— Uma bebida? Chá? Café? Tenho vinho. Fiz martínis.

— Um martíni. Obrigada, Ian — disse ela, a voz monótona, a dor que havia nela machucando-o. — É, gostaria muito.

Ela se sentou no sofá. Ele serviu a bebida e pôs nela uma azeitona.

— Tudo pode esperar, Casey — disse, compassivamente. — Não há pressa.

— É, eu sei. Mas nós combinamos. Obrigada. — Aceitou o copo gelado e ergueu-o. — Joss.

— Joss.

Sorveu a bebida supergelada, todos os seus movimentos estudados, quase como que independentes dela, depois abriu a pasta e colocou um envelope de papel pardo na mesa dele.

— Aqui estão todos os papéis de John Chen sobre a Struan, e tudo o que ele nos ofereceu ou nos contou. Estas são todas as cópias que tenho aqui. As que estão nos Estados Unidos passarei pela máquina de retalhar. — Casey hesitou. — Estou certa de que já fez algumas modificações, a essa altura, mas, bem, está tudo aí.

— Obrigado. O Linc deu alguma coisa para o Gornt?

— Não, não creio. — Novamente a hesitação. — Por medida de segurança, eu consideraria parte da informação como tendo "vazado".

— É.

— A seguir, nosso acordo da Par-Con-Struan. — A pilha de documentos que ela lhe entregou era bem grossa. — Todas as seis cópias estão assinadas e carimbadas com o selo da companhia. Tenho o poder executivo para assinar. — Ela hesitou. — Tínhamos um acordo, Linc e eu. Eu lhe deixei em testamento o poder de voto de todas as minhas ações durante dez anos, ele fez o mesmo para mim. Assim, sou a chefe da Par-Con.

— Durante dez anos? — perguntou Dunross, arregalando ligeiramente os olhos.

— É — disse ela sem emoção, sem sentir nada, sem querer nada exceto chorar e morrer.

"Mais tarde posso ser fraca", pensou. "Agora tenho que ser forte e sábia."

— Durante dez anos. Linc... Linc tinha o controle da votação. Eu lhe enviarei uma confirmação formal quando for oficial.

Dunross concordou com um aceno de cabeça. Da mesa laqueada, tirou um maço equivalente de papéis.

— São os mesmos. Já os carimbei formalmente. Este — colocou um envelope sobre a pilha —, este é o nosso acordo particular, dando à Par-Con os títulos de propriedade dos meus navios como garantia.

— Obrigada. Mas, com o seu fundo, não será necessário.

— Mesmo assim, foi parte do nosso acordo. — Dunross a observava, admirando-lhe a coragem. Não houvera lágrimas no novo começo na encosta, apenas um aceno atordoado de cabeça e: "Eu espero. Espero até... eu espero". Orlanda se prostrara na hora. Ele a mandara para um hotel, e depois enviara um médico para cuidar dela. — Foi parte do nosso acordo.

— Está certo. Obrigada. Mas não é necessário.

— A seguir: eis aqui a nossa carta de concordância referente ao negócio com a General Stores. Eu lhe darei os documentos formais dentro de dez dias. Vou precisar...

— Mas o Linc não adiantou os dois milhões.

— Adiantou, sim, por telegrama, no sábado à noite. Meu banco suíço confirmou a transação ontem, e o dinheiro foi devidamente entregue à diretoria da General Stores. Eles aceitaram, portanto o negócio está fechado.

— Mesmo com a morte de Pug?

— É. A viúva dele concordou com a recomendação da diretoria. É um negócio muito bom, a propósito. Muito melhor do que a proposta da Superfoods.

— Não quero esse dinheiro, nada dele.

— Quando eu estava Iá na cova, batendo papo com o Linc, ele me falou de como estava feliz de que o negócio da General Stores fosse se concretizar. As palavras exatas dele foram: "Ótimo! Cinco milhões? Sempre quis que ela tivesse o seu dinheiro do dane-se. Ela sempre quis ser independente, e agora é. Formidável!"

— Mas a que preço! — ela falou, o sofrimento aflorando. — O Linc sempre me advertiu de que o dinheiro do dane-se custa mais do que a gente está preparado para pagar. Custou. Não o quero.

— Dinheiro é dinheiro. Você não está raciocinando direito. O dinheiro era dele para dispor como bem quisesse, e deu-o a você. Livremente.

— Você o deu para mim.

— Está enganada, foi ele. Eu apenas a ajudei, como você me ajudou. — Sorveu a sua bebida. — Vou precisar saber para onde mandar os lucros dele. Você deve se lembrar de que não havia direitos de votação incluídos. Quem é o administrador dele?

— É um banco, o First Central. Sou a testamenteira dele, juntamente com um homem do banco. — Ela hesitou. — Acho que a mãe dele é a sua herdeira. Ela é a única citada no testamento dele... Linc, o Linc foi franco comigo a esse respeito. A ex-mulher dele e os três filhos estão bem amparados, e foram especificamente excluídos do testamento. O controle de votação ficou comigo, e o resto vai... o resto vai para a mãe dele.

— Então será muito rica.

— Isso não a ajudará. — Casey estava tentando ao máximo manter a voz normal e não chorar. — Conversei com ela ontem à noite, e ela ficou chocada, a pobre senhora. Está... na casa dos sessenta anos, uma mulher simpática. Linc é seu único filho. — Uma lágrima escorreu, a despeito da sua força de vontade. — Ela, ela me pediu para levá-lo de volta. No seu testamento ele diz que quer ser cremado.