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— Escute, Casey — falou Dunross, rapidamente —, talvez eu pudesse tomar as providências...

— Não. Ah, não, obrigada, Ian. Tudo já está providenciado. Já cuidei de tudo. Queria cuidar. O avião está liberado e a papelada, pronta.

— Quando você parte?

— Às dez, hoje à noite.

— Ah! — Dunross ficou surpreso. — Vou Iá me despedir de você.

— Não, não, obrigada. O carro eu agradeço, mas não há necessidade...

— Insisto.

— Não. Por favor — pediu ela, com ar súplice. Depois de um momento, ele perguntou:

— Quais os seus planos?

— Nada de especial, Vou... vou me certificar de que todas as suas vontades sejam cumpridas, documentos, testamento, acertar os seus negócios. Depois vou reorganizar a Par-Con... tentarei reorganizá-la como ele gostaria. Depois... depois não sei. Tudo isso levará uns trinta dias. Talvez eu volte dentro de trinta dias para começar, talvez mande o Forrester ou outra pessoa qualquer. Não sei. Eu o avisarei em trinta dias. Até Iá, tudo está coberto. Tem os números dos meus telefones. Ligue para mim a qualquer hora, se houver problema.

Ela começou a se levantar, mas ele a deteve.

— Antes de você ir, há uma coisa que preciso lhe dizer. Não o fiz ontem à noite porque a hora não era apropriada. Talvez agora seja, não estou certo, mas pouco antes de eu sair o Linc me perguntou se eu aceitaria ser padrinho de casamento.

— Viu Casey ficar branca e continuou rapidamente: — Disse a ele que seria uma honra.

— Ele falou em mim? Disse que queria casar-se comigo? — perguntou, incrédula.

— Estávamos conversando sobre você. Não tem sentido?

— Ele não mencionou a Orlanda?

— Não naquele momento. Não. Anteriormente, estivera muito preocupado com ela porque estava no apartamento dela e não sabia o que lhe acontecera. — Dunross observava-a. — Quando lhe disse que ela estava a salvo, ficou muito aliviado, naturalmente. Quando lhe contei que você por pouco não fora apanhada pela avalancha, quase teve um enfarte. Então, quando eu ia me retirando, ouvi-o dizer baixinho: "Acho que seria demais esperar que as duas fossem amigas". Não tive certeza se aquelas palavras eram para meus ouvidos... enquanto cavávamos ele falou muito sozinho. — Terminou a sua bebida. — Estou certo de que se referia a você, Casey.

Ela sacudiu a cabeça.

— Valeu a tentativa, Ian. Aposto que se referia a Orlanda.

— Acho que está errada. Novo silêncio.

— Pode ser. Amigas? — Olhou para ele. — Você vai ser amigo do Quillan?

— Não. Jamais. Mas isso não é a mesma coisa. Orlanda é uma boa pessoa. De verdade.

— Acredito. — Casey fitou a sua bebida, sorveu-a, mas não lhe sentiu o gosto. — E quanto ao Quillan? O que aconteceu hoje? Infelizmente não soube de nada. O que fez com relação ao Quillan? Vi que fecharam a 30,01, mas... na verdade não notei muita coisa mais.

Dunross sentiu uma alegria íntima e repentina. Por causa da catástrofe da Kotewall, o governador ordenara que a Bolsa de Valores ficasse fechada na segunda-feira. E os bancos, em sinal de luto. Às dez daquela manhã, o dinheiro do Banco da China estava à disposição em todas as agências de todos os bancos, por toda a colônia. A corrida aos bancos terminara. Lá pelas três horas, muitos clientes estavam fazendo fila, voltando para depositar de novo o seu dinheiro.

Pouco antes da abertura da Bolsa às dez da manhã, Gornt lhe telefonara.

— Aceito — dissera.

— Não quer barganhar?

— Não quero clemência da sua parte, assim como você não pode esperá-la da minha parte. Os papéis estão a caminho.

O telefone emudeceu.

— E quanto ao Quillan? — perguntou ela novamente.

— Fizemos um acordo. Abrimos a 28, mas deixei que ele recomprasse a 18.

Ela o fitou, boquiaberta. Sem pensar, fez o cálculo rápido.

— Isso lhe custou cerca de dois milhões! Mas são os dois milhões do Linc. Então, o Quillan está salvo!

— Contei ao Linc a transação, e que isso lhe custaria os seus dois milhões, e ele achou graça. Ressaltei que, com os negócios da General Stores e da Par-Con, sua perda de capital de dois milhões ia ser superada por um ganho de capital de vinte ou mais. — Dunross fitou-a, avaliando-a. — Achei justo que os dois milhões fossem confiscados, digamos assim.

— Não está me dizendo que deixou o Gornt livrar a cara a troco de nada?

— Não. Recuperei a minha linha aérea. O controle da AH Ásia Airways.

— Ah! — Casey sentiu um arrepio, lembrando-se da história daquela noite de Natal em que Gornt e o pai foram inesperadamente até a Casa Grande. A tristeza dela estava quase extravasando. — Quer me fazer um favor?

— Claro. Desde que não seja para o Quillan.

Ia pedir a Dunross para deixar que o Gornt pudesse ser administrador, para que tivesse a sua tribuna. Mas não pediu. Sabia que teria sido uma perda de tempo.

— Que favor?

— Nada. Agora, nada. Já vou indo, Ian.

Exausta, muito exausta, pôs-se de pé. Seus joelhos tremiam. Ela inteira doía monstruosamente. Estendeu a mão. Ele a tomou e a beijou com o mesmo gesto gracioso de que ela se lembrava da noite da festa, da primeira noite na Galeria Longa, quando, assustada, vira a faca enterrada no coração do retrato. Subitamente, a sua agonia chegou ao auge e ela teve ganas de gritar o seu ódio por Hong Kong e pelo povo de Hong Kong, que, de alguma forma, haviam causado a morte do seu Linc. Mas não o fez.

Depois, ordenou a si mesma, apegando-se ao limite das suas forças: "Não se descontrole. Não ceda. Seja auto-suficiente. Precisa ser, agora. O Linc se foi para sempre".

— Até breve, Casey.

— Adeus, Ian — disse ela, e se retirou.

Ele ficou fitando a porta fechada por longo tempo, depois soltou um suspiro e apertou uma campainha. Dali a um momento, Claudia apareceu.

— Boa noite, tai-pan — cumprimentou, com o seu carinho imenso. — Há alguns telefonemas que precisam ser resolvidos. O mais importante é o do jovem Duncan, que quer pedir emprestados mil HK.

— Para que diabo quer o dinheiro?

— Parece que quer comprar um anel de diamantes para uma "senhora". Tentei arrancar-lhe o nome dela, mas ele não contou.

"Ah, Deus, a sheila", pensou Dunross, voltando-lhe à lembrança o que o filho dissera sobre a sua "garota", Sheila Scragger, a enfermeira da Inglaterra, de férias com Duncan no rancho australiano de Paldoon.

— Bem, ele não vai comprar grande coisa com mil. Diga-lhe que tem que me pedir. Não, espere! — Pensou um momento. — Dê-lhe mil da "caixinha"... ofereça-lhe juros de três por cento ao mês, contra a sua garantia por escrito de que você pode tirá-los da mesada dele, à proporção de cem por mês. Se ele cair nessa, aprenderá uma bela lição. Senão, eu lhe darei os mil, mas só na próxima Páscoa.

Ela concordou com um aceno de cabeça, depois acrescentou com tristeza:

— Pobre srta. Casey! Está morrendo por dentro.

— E.

— Eis os seus telefonemas, tai-pan. O jovem Linbar ligou de Sydney. Por favor, ligue para ele quando tiver um momento. Ele acha que já pôs a Woolara na linha de novo.

Dunross fitou-a.

— Puxa vida!

— O sr. Alastair ligou dando os parabéns, o seu pai, e a maioria dos membros da família. Por favor, ligue para o jovem Trussler em Johannesburg, é sobre os tórios. — Deu uma fungada. — A sra. Gresserhoff telefonou para se despedir.

— Quando vai partir? — perguntou Dunross, cautelosamente, já sabendo o vôo.

— Amanhã, no primeiro vôo da jal. Não foi horrível sobre o Travkin? Ah, como fiquei triste!