— Boatos. Vou pensar no que sugeriu. Mas que fique claro que agora sou o comandante da frota e o chefe dos Wu Marítimos. Minha decisão é definitiva. Vamos trocar idéias. Você será consigliere, com tudo o que isso implica, mas, se eu tomar uma decisão, será definitiva. Por exemplo, soube do golpe, o golpe da Bolsa, que você deu sem a permissão dele. Foi brilhante, sem dúvida, mas isso não pode mais acontecer... devo ser consultado, e saber com antecedência.
— De acordo. Mas, de agora em diante, também estou trabalhando por conta própria. Pedi demissão da Gornt. Poderei continuar quaisquer negócios particulares que tenha começado com Quatro Dedos.
— E quais são?
— Na sexta-feira ele me adiantou dois milhões para jogar na Bolsa. Meu trato com ele era 17,5 por cento dos lucros. Quero todos os lucros.
— Cinqüenta por cento.
— Noventa por cento. A partir de agora, não há nada que me prenda a Hong Kong. Mesmo a cinqüenta por cento, se vender as ações atuais, e, a propósito, só eu sei quais são, já estarei valendo uns três milhões de dólares americanos.
Haviam barganhado e concordado em setenta por cento, sendo que os trinta por cento de Dente de Ouro seriam depositados numa conta numerada num banco da Suíça.
— Calculo que o mercado ainda vá subir por mais dois dias, depois vendo tudo. Minha decisão, certo?
— Certo. Lucrativo cai bem em você, Irmão Mais Moço, melhor do que Paul. Gostaria de ficar com Lucrativo. O que mais estava fazendo com o Quatro Dedos?
— Havia uma última jogada. Ele me fez jurar segredo, para sempre. Para sempre, com juramentos de sangue. Tenho que cumprir a vontade dele.
Relutante, Wu Dente de Ouro concordara, e agora, esperando que o tai-pan lhe respondesse sobre o Japão, a confiança do jovem estava transbordando. "Sou rico. Tenho todo o poder de Dente de Ouro, se precisar dele, tenho um passaporte americano e vou para o Havaí. No Japão há uma chance de eu passar a perna em Dunross... não, passar-lhe a perna, não, ele é bom demais para isso, mas quem sabe ali poderei ter uma avaliação justa para provar, definitivamente, que a minha moeda é verdadeira."
— O Japão seria conveniente para o senhor, tai-pan?
— Ouvi dizer que ganhou uma nota preta na Bolsa.
O jovem abriu um amplo sorriso, sem esperar a mudança de assunto.
— Sim, senhor. Estou com uns cinco milhões e meio de dólares americanos de lucro.
Dunross soltou um assobio.
— Nada mal para duas semanas de trabalho, Choy Lucrativo. Com quinze por cento de impostos — acrescentou, inocentemente.
O jovem fez uma careta e caiu na armadilha.
— Que diabo, sou cidadão americano e estou sujeito aos impostos americanos, esteja onde estiver. — Hesitou. — Tenho umas boas idéias que... escute, tai-pan, podíamos fazer um negócio que seria bom para o senhor e bom para mim.
Dunross viu os olhos de Paul Choy se apertarem, e sua cautela aumentou.
— O meu Velho confiava no senhor — disse o jovem. — O senhor e ele eram Velhos Amigos. Talvez eu pudesse herdar isso... ser digno disso, algum dia.
— Devolva a moeda livremente, e eu lhe concederei todo tipo de favores.
— As primeiras coisas em primeiro lugar, tai-pan. Primeiro, vamos descobrir se a minha moeda é verdadeira. No Japão, certo?
— Não. Ou aqui, ou nada feito! — exclamou Dunross bruscamente, resolvendo arriscar.
Os olhos de Paul Choy se estreitaram ainda mais. Abruptamente, também tomou a sua decisão. Enfiou a mão sob a camisa, pegou a moeda e colocou-a sobre a mesa.
— Em nome de Jin-qua, peço um favor do tai-pan da Casa Nobre.
No silêncio, Dunross fitou a moeda.
— E então?
— Primeiro: quero status de Velho Amigo, igual ao do Quatro Dedos, com tudo o que isso implica. Segundo: quero ser nomeado diretor da Struan por um período de quatro anos, com um salário igual ao dos outros diretores... para manter as aparências comprarei um bloco de ações na Bolsa, fazendo as minhas ações chegarem a cem mil. — Sentiu uma gota de suor escorrer-lhe do queixo, no silêncio. — A seguir: quero uma joint venture, sociedade meio a meio, uma usina farmacêutica com a Struan, com um capital de seis milhões de dólares americanos... eu darei a metade dentro de trinta dias. Dunross fitou-o, perplexo.
— Para fazer o quê?
— O mercado para a farmacopéia em toda a Ásia é vasto. Poderíamos ganhar uma nota, com a sua experiência em fabricação, a minha em marketing. De acordo?
— Isso é tudo? Todo o favor?
— Três coisas mais. A...
— Só três? — perguntou Dunross, com sarcasmo evidente.
— Três. Primeiro, no ano que vem vou fundar outra Bolsa de Valores. Vou...
— Vai o quê? — perguntou Dunross, boquiaberto, realmente desconcertado.
Choy Lucrativo sorriu largamente e enxugou o suor do rosto.
— Claro. Uma Bolsa de Valores para os chineses, dirigida por chineses.
Subitamente, Dunross riu.
— Você tem colhões, Choy Lucrativo. Ora, se tem! A propósito, não é uma idéia nada má. O que tem a nova Bolsa a ver comigo?
— Só quero a sua benevolente assistência de Velho Amigo para começar, para impedir os graudões de me bloquearem.
— Por cinqüenta por cento.
— Por condições internas muito favoráveis. Muito favoráveis, garantidas. Depois — o jovem apegou-se à sua esperança —, quero que me apresente ao Lando Mata e diga-lhe que me está apoiando como parte do grupo do meu pai, para fazer um lance para o monopólio do sindicato de jogatina e ouro. Está certo?
— Você falou em três coisas. Qual a última?
— Daqui a três anos, um lugar de administrador no Turf Club. Durante esse período, garanto doar um milhão de dólares americanos para qualquer instituição ou instituições de caridade que o senhor indicar, apoiarei todas as causas dignas, e juro por Deus que tornarei a coisa o mais fácil possível para o senhor. — O rapaz enxugou o suor. — Acabei.
Dunross hesitou.
— Se a moeda for verdadeira, concordarei com tudo, exceto com a parte sobre Lando Mata.
— Não. Isso faz parte do acordo.
— Não concordo.
— Não pedi nada ilegal, nada que não possa conce...
— Menos o Lando Mata!
O rapaz soltou um suspiro. Tirou a moeda da mesa, olhou para ela.
— Se ele está fora, todo o acordo está cancelado, e vou fazer o pedido de Wu Quatro Dedos em seu lugar. Ainda é a mesma moeda — disse, preparando-se para a última cartada.
— É?
— E isso o tornará ligado a narcóticos, armas, e tudo o que o senhor detesta, mas que terá que respeitar. Desculpe, tai-pan, mas estou jogando para ser um ancestral. — Largou a moeda de volta sobre a mesa. — O senhor decide.
Dunross ficou subitamente perturbado. O favor fora expresso inteligentemente. Nada ilegal, nada extravagante. Paul Choy se saíra muito bem contra ele. Bem demais. Quatro Dedos ele conhecia direitinho. "Mas esse aí, esse rebento do demônio? Não posso me arriscar com narcóticos... ele sabe disso."
Para dar-se tempo, Dunross tirou do bolso a sacolinha de seda e pôs a sua moeda sobre a mesa. Juntou a sua metade à outra. Encaixaram-se perfeitamente.
Sem sentir, os dois homens soltaram a respiração, fitando a moeda agora unificada que os prenderia um ao outro para sempre. Dunross sabia que era perda de tempo, mas iria ao avaliador assim mesmo. Por um momento, segurou as duas metades na mão. "O que vou fazer com esse sacana atrevido?", perguntou-se. "Ah, uma boa idéia! Entregar o problema a Phillip Chen."
— Muito bem, Choy Lucrativo — disse, colocando-o no topo de sua lista particular de pessoas suspeitas. — Concordo em conceder-lhe o favor... se a sua metade for verdadeira... exceto que pedirei ao Lando, não posso ordenar-lhe nada. Está bem?
— Obrigado, tai-pan, não vai se arrepender. — Molhado de alívio, Choy Lucrativo apresentou uma lista de nomes. — Eis aqui todos os peritos avaliadores de Hong Kong. Quer escolher um? Eu... bem... verifiquei, e todos ficam abertos até as sete horas.