— Concordo — disse Alastair Struan.
— Não agirei. Desde que o meu banco coopere. — Dunross ficou vendo as manchas de chuva na janela, por um momento. — A propósito, convidei também Jason Plumm para a reunião.
— Mas que diabo, para quê? — indagou Struan, ficando de novo de pescoço vermelho.
— Os nossos grupos e as Propriedades Asiáticas dele, juntos, temos...
— Plumm está na lista negra de Dirk Struan, como você a chama, e opõe-se integralmente a nós.
— Nós quatro juntos temos o poder de decisão majoritário em Hong Kong...
Dunross parou de falar quando o telefone tocou ruidosamente. Todos olharam para o aparelho. Alastair Struan falou, com azedume:
— O telefone agora é seu, não meu. Dunross atendeu.
— Dunross! — Escutou por um momento, depois disse: — Não, o Sr. Alastair Struan se aposentou, agora eu sou o tai-pan da Struan. Sim. Ian Dunross. O que diz o telex? — Escutou novamente. — Sim, obrigado.
Largou o telefone. Finalmente, rompeu o silêncio.
— Era do nosso escritório em Taipé. O Lasting Cloud soçobrou perto da costa norte de Formosa. Acham que afundou com toda a tripulação...
Domingo 18 de agosto de 1963
1
20h45m
O policial estava apoiado a um canto do balcão de informações, observando o eurasiano alto disfarçadamente. Usava um terno de tropical claro e a gravata da polícia sobre uma camisa branca; fazia calor dentro do terminal fortemente iluminado, o ar estava úmido e pesado de odores, e um montão de chineses barulhentos se movimentavam pelo prédio, como sempre. Uma abundância de cantonenses, alguns asiáticos, uns poucos europeus.
— Superintendente? — Uma das moças do setor de informações estendia-lhe um telefone. — É para o senhor — disse, e deu um sorriso bonito, dentes brancos, cabelos escuros, olhos negros, linda pele dourada.
— Obrigado — disse ele, notando que ela era cantonense e jovem, e não se importou com a realidade do vazio do seu sorriso, sem nada por trás dele senão uma obscenidade cantonense. — Pronto — falou, ao aparelho.
— Superintendente Armstrong? Aqui fala a torre: o Yankee 2 acaba de pousar, no horário.
— Ainda é o portão 16?
— É. Estará lá dentro de seis minutos.
— Obrigado. — Robert Armstrong era um homem grande, e inclinou-se sobre o balcão para repor o fone no gancho. Notou as pernas longas da moça e a curva de seu traseiro no cheong-sam uniformizado, lustroso e um tantinho justo demais, e imaginou por um breve momento como seria ela na cama. — Como se chama? — perguntou, sabendo que qualquer chinês detestava dar o nome a um policial, especialmente se fosse europeu.
— Mona Leung, senhor.
— Obrigado, Mona Leung.
Fez-lhe um gesto de cabeça, com os olhos azul-claros fitos nela, e notou o leve arrepio de apreensão que a percorreu.
Ficou satisfeito. "Vá tomar no rabo você também", pensou, depois voltou a focalizar a atenção na sua presa.
O eurasiano, John Chen, estava no lado de uma das saídas, sozinho, e isso o surpreendeu, assim como o fato de estar nervoso. Geralmente, John Chen era imperturbável, mas agora, a curtos intervalos, olhava para o relógio de pulso, depois para o quadro de chegada, depois de novo para o relógio.
"Mais um minuto e então começaremos", pensou Armstrong.
Começou a procurar um cigarro no bolso, depois lembrou-se de que deixara de fumar há duas semanas, como presente de aniversário para a mulher. Então praguejou rapidamente e enfiou as mãos mais fundo nos bolsos.
À volta do balcão de informações, passageiros e pessoas à espera de passageiros, aborrecidos, chegavam, empurravam, iam embora e voltavam de novo, perguntando em altas vozes onde, quando, como e por quê, e onde novamente, numa infinidade de dialetos. O cantonense ele compreendia bem, compreendia um pouco do mandarim e do dialeto de Xangai. Algumas expressões chu-chow e a maioria dos seus palavrões. Um pouco do dialeto de Formosa.
Deixou então o balcão, mais alto uma cabeça do que a maioria da multidão, um homem grande, de ombros largos, com um caminhar descontraído e atlético, há dezessete anos na força policial de Hong Kong, agora chefe do DIC, Departamento de Investigações Criminais, de Kowloon.
— Boa noite, John — cumprimentou. — Como vão as coisas?
— Oh, alô, Robert — disse John Chen, pondo-se em guarda instantaneamente, no seu inglês com sotaque americano. — Tudo bem, obrigado. E você?
— Muito bem. Seu contato no aeroporto mencionou à Imigração que você veio receber um vôo especial, um avião fretado... o Yankee 2.
— É, mas não é avião fretado. É particular. Pertence a Lincoln Bartlett... o milionário americano.
— Ele está a bordo? — perguntou Armstrong, sabendo que estava.
— Está.
— Com comitiva?
— Só o seu vice-presidente-executivo... o destruidor da reputação dos seus oponentes.
— O Sr. Bartlett é um amigo? — perguntou, sabendo que não era.
— Um convidado. Esperamos fazer negócios com ele.
— É? Bem, o avião dele acaba de pousar. Por que não vem comigo? Deixaremos de lado toda a burocracia para você. É o mínimo que podemos fazer pela Casa Nobre, não é?
— Obrigado por se dar ao trabalho.
— Não é trabalho algum.
Armstrong foi na frente, e cruzaram uma porta lateral na barreira da alfândega. Os policiais uniformizados ergueram os olhos, batendo continência imediatamente para Armstrong, e observando, pensativos, a figura de John Chen, a quem reconheceram de pronto.
— O nome de Lincoln Bartlett — continuou Armstrong, com fingida cordialidade — não me diz nada. Será que deveria?
— Só se você estivesse no ramo empresarial — disse John Chen. Depois continuou, nervosamente: — O apelido dele é "O Incursor", por causa de suas bem-sucedidas incursões e compras de controle de outras companhias, freqüentemente bem maiores que a dele. Um homem interessante. Conheci-o em Nova York, no ano passado. O conglomerado dele tem uma renda bruta de quase meio bilhão de dólares por ano. Dizem que começou em 45, com dois mil dólares emprestados. Agora está metido com derivados do petróleo, engenharia pesada, eletrônica, mísseis, faz um bocado de trabalho para o governo americano, espuma, produtos de espuma de poliuretano, fertilizantes... tem até mesmo uma companhia que faz e vende esquis e artigos esportivos. O grupo dele chama-se Indústrias Par-Con. Basta pensar numa coisa, e ele a tem.
— Pensei que sua companhia já possuísse tudo. John Chen sorriu cortesmente.
— Não nos Estados Unidos, e não é minha companhia. Sou apenas um acionista minoritário da Struan, um empregado.
— Mas é diretor, e o filho mais velho da Casa Nobre Chen; portanto, será o próximo representante nativo junto à firma.
Segundo o costume histórico, o representante nativo era sempre um empresário chinês ou eurasiano que agia como intermediário exclusivo entre a firma comercial européia e os chineses. Todas as transações passavam pelas suas mãos, e um pouquinho de tudo grudava-se a elas.
"Tanto dinheiro e tanto poder", pensou Armstrong, "e no entanto, com um pouquinho de sorte, podemos fazê-lo em pedaços, e a Struan junto com você. Meu Deus", pensou, nauseado com a doçura da expectativa, "se isso acontecer, o escândalo vai explodir Hong Kong."
— Será o representante deles, como seu pai, seu avô e seu bisavô o foram, antes de você. Seu bisavô foi o primeiro, não foi? Sir Gordon Chen, o representante nativo do grande Dirk Struan, que fundou a Casa Nobre, e praticamente fundou Hong Kong.
— Não. O representante de Dirk foi um homem chamado Chen Sheng. Sir Gordon Chen foi o representante do filho de Dirk, Culum Struan.
— Eram meios irmãos, não é?
— É o que diz a lenda.
— Ah, lendas... delas nos alimentamos. Culum Struan, outra lenda de Hong Kong. Mas Sir Gordon também é uma lenda... você tem sorte.