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Depois vinha Lady Danvers no Número 3 e os Números 4 e 5 eram de um casal Du Pont, com jeito de rico, que poderia OH não ter um pouco do dinheiro dos verdadeiros Du Pont. Bond achou que eles ficariam até o fim. Tinham os dois um ar de gente de negócios e conversavam casual e alegremente, como se se sentissem muito à vontade no jogo alto. Bond estava contente de tê-los ao lado — a Sra. Du Pont estava sentada no Número 5 — e Ele se sentia preparado para juntar forças com

eles ou com Monsieur Sixte, à sua direita, caso tivessem de enfrentar uma banca muito alta.

No Número 8 estava o marajá de um pequeno Estado hindu, provavelmente com todas as libras que obtivera durante a guerra, para brincar. A experiência de Bond dizia que poucos jogadores de raça asiática são corajosos, mesmo os tão famosos chineses, que perdem a coragem assim que as coisas começam a andar mal. Mas o marajá provavelmente ficaria no jogo até bem tarde e agüentaria grandes perdas, se elas fossem gradativas.

O Número 10 era um jovem italiano de aspecto próspero, o signor Tomelli, que possivelmente tinha muito dinheiro ganho no aluguel dos cortiços de Milão e que provavelmente faria um jogo rápido e idiota.

No momento em que Bond terminou de analisar os jogadores, entrou Le Chiffre, que atravessou a corrente coberta de veludo e acercou-se da mesa com o silêncio e a economia de movimento dos grandes peixes, dando um frio sorriso de boas vindas aos ocupantes da mesa e sentando-se no lugar que ficava exatamente à frente de Bond. Com a mesma economia de movimentos, cortou o maço de cartas que o croupier colocara entre suas mãos pequenas e calmas. Então, quando o croupier colocou os seis maços de cartas dentro da caixa de metal e madeira com seis movimentos precisos, Le Chiffre lhe disse alguma coisa bem baixinho.

"Messieurs, Mesdames, les jeux sont faits. Un banco de cinq cent mille", e, enquanto o grego do Número 1 batia na mesa, na frente de sua pilha alta de fichas de cem miclass="underline" "Le banco est fait".

Le Chiffre inclinou-se sobre a caixa. Deu deliberadamente um tapa rápido para arrumar as cartas, a primeira das quais mostrou sua pálida língua rosada e semicircular na abertura da boca de alumínio da caixa. Daí, com um indicador grosso e branco, apertou levemente a língua cor de rosa e Fez escorregar a primeira carta a uns vinte centímetros na direção do grego à sua direita. Depois, tirou uma carta para ele mesmo, outra para o grego e novamente outra para si.

Ficou imóvel, sem mexer nem nas próprias cartas.

Olhava o rosto do grego.

Com sua espátula achatada de madeira, como uma longa colher de pedreiro, o croupier levantou delicadamente as duas cartas do grego e derrubou-as com um movimento rápido, um pouco para a direita, de modo que ficassem bem na frente das mãos pálidas e peludas do grego, que permaneciam inertes como dois caranguejos cor de rosa em cima da mesa.

Os dois caranguejos cor de rosa adiantaram-se ao mesmo tempo e o grego recolheu as cartas em sua larga mão esquerda, cautelosamente inclinando a cabeça para o lado a fim de poder ver, na sombra feita por sua mão em concha, o valor da carta de baixo. Então, com o indicador da mão direita, puxou a carta de baixo um pouco para o lado a fim de que o valor da carta de cima ficasse também levemente à mostra. Seu rosto estava impassível. Estendeu a mão esquerda na mesa e depois retirou-a, deixando as duas cartas cor de rosa viradas para baixo à sua frente, conservando o segredo que elas continham.

Então levantou a cabeça e fitou Le Chiffre nos olhos.

"Non", disse o grego simplesmente.

Pela decisão de ficar com as duas cartas e não pedir outra, ficou claro que o grego tinha um cinco, um seis ou um sete. Para ter certeza de ganhar, o banqueiro precisaria de um oito ou um nove. Se não conseguisse nenhum desses dois números, Ele também teria o direito de pedir mais uma carta, a qual poderia ou não melhorar seu jogo.

Le Chiffre estava com as mãos cruzadas, suas duas cartas a alguns centímetros à frente. Com a mão direita, pegou as duas cartas e virou-as sobre a mesa com uma ligeira batida.

Eram um quatro e um cinco, somando um invencível nove "natural".

Ganhara.

"Neuf à la banque", disse o croupier cm voz baixa. Com sua espátula, apanhou as duas cartas do grego. "Et le sept", disse sem a menor emoção, levantando gentilmente os cadáveres do sete e da rainha e enfiando-os através da larga abertura na mesa, ao lado de sua cadeira, que leva à grande caixa de metal para onde vão todas as cartas mortas. As duas cartas de Le Chiffre seguiram-nas, provocando ao cair um leve barulho semelhante ao de um chocalho que se ouve, vindo da lata, no começo de cada sessão antes que muitos descartes façam um acolchoado sobre o fundo de metal.

O grego empurrou cinco fichas de cem mil para a frente e o croupier juntou-as à ficha de meio milhão que Le Chiffre colocara no centro da mesa. De cada aposta, o Cassino tira uma pequena percentagem, o "barato"; mas num jogo alto é normal que o banqueiro subscreva esta quantia Ele mesmo, ou com uma soma total preestabelecida ou por contribuições no fim de cada mão, de maneira que o cacife da banca seja sempre uma quantia redonda. Le Chiffre escolhera a segunda modalidade .

O croupier separou algumas fichas para o "barato" e anunciou em voz baixa:

"Un banco d'un million".

"Suivi", murmurou o grego, o que significava que Ele estava exercendo seu direito de recuperar sua aposta perdida.

Bond acendeu um cigarro e ajeitou-se na cadeira. O jogo que poderia durar horas e horas estava apenas começando e a seqüência desses gestos e a reiteração dessa ladainha monótona continuariam até o fim, até que os jogadores se dispersassem. Então as enigmáticas cartas seriam queimadas ou desfiguradas, uma mortalha seria jogada sobre a mesa e o campo de batalha, coberto de feltro verde como grama, absorveria o sangue de suas vítimas e se refrescaria.

O grego, depois de pegar uma terceira carta, não conseguira nada melhor do que um quatro, contra o sete da banca.

"Un banco de deux millions", disse o croupier.

Os jogadores à esquerda de Bond ficaram em silêncio.

"Banco", disse Bond.

11- A HORA DA VERDADE

LE CHIFFRE olhou para ele sem demonstrar a menor curiosidade, o branco de seus olhos, que aparecia em toda a volta da íris, emprestando à sua expressão alguma coisa do olhar impassível das bonecas.

Lentamente, retirou uma de suas grossas mãos de cima da mesa e enfiou no bolso de seu "dinner-jacket". A mão voltou a aparecer segurando um pequeno cilindro de metal com uma tampinha, que Le Chiffre desatarraxou. Com uma deliberação quase obscena, inseriu a ponta do cilindro duas vezes em cada narina escura e gostosamente inalou o vapor da benzedrina.

Sem a menor pressa, guardou o tubinho no bolso; então, a mão voltou rapidamente para cima da mesa e deu na caixinha seu costumeiro tapa duro e seco.

Durante essa pantomima ofensiva. Bond sustentou friamente o olhar do banqueiro, analisando a larga extensão do rosto branco coroada por um tufo curto e abrupto de cabelos avermelhados, a boca vermelha, úmida e séria, e a impressionante largura dos ombros, vestidos folgadamente num "dinner-jacket" de corte másculo.

Se não fosse pelo brilho do cetim nas lapelas, Ele poderia estar diante do pesado busto de um minotauro de pêlo preto, surgindo de um campo verde de grama.

Bond colocou o pacote de notas sobre a mesa sem contá-las. Se perdesse, o croupier retiraria o necessário para cobrir a aposta; mas o gesto displicente indicava que Bond não esperava perder e que se tratava apenas de uma amostra dos grandes fundos que Bond tinha à sua disposição.