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Virou-se para Vésper. "Meu bem, Ele realmente me parece inocente. Tem certeza de que é o nosso homem? De qualquer maneira, não podemos pretender que este lugar seja só nosso".

O rosto de Vésper ainda era uma máscara branca. Suas mãos estavam fortemente agarradas à beirada da mesa. Bond pensou que ela fosse desmaiar e Fez menção de levantar-se para ajudá-la. Mas ela Fez um gesto para detê-lo. Tentou beber um gole de vinho, mas bateu com o copo nos dentes e teve de segurá-lo também com a outra mão para poder beber. Botou o copo de novo na mesa.

Olhou para Bond com uma expressão séria. "Eu sei que é o mesmo homem".

Bond tentou argumentar, mas ela não prestou atenção. Depois de olhar uma ou duas vezes na direção do homem com uma curiosa submissão, Vésper disse que ainda estava com muita dor de cabeça e que passaria a tarde inteira no quarto. Levantou-se e saiu da sala sem olhar para trás.

Bond pediu café, depois levantou-se e caminhou até o pátio. O Peugeot preto que lá estava poderia realmente ser o mesmo automóvel preto que os seguira na estrada, mas poderia também ser um dos milhares de Peugeots pretos que circulavam pelas estradas francesas. Bond examinou rapidamente o interior do carro, que estava vazio, tentou abrir a porta, mas estava trancada. Anotou o número da chapa, entrou no banheiro que ficava ao lado do salão de refeições, puxou a descarga e voltou ao terraço.

O homem estava comendo e nem se incomodou com o aparecimento de Bond, que se sentou na cadeira de Vésper, para vigiar a outra mesa melhor.

Minutos depois, o homem pediu a conta, pagou-a e saiu. Bond ouviu a partida do Peugeot e o ronco de seu escapamento desaparecer na direção de Royale.

Quando o proprietário do hotel veio até sua mesa, Bond explicou que Madame infelizmente tinha tomado um pouco da sol demais. O proprietário estimou as melhoras de Madame o enquanto enumerava os perigos de se expor a qualquer tipo da tempo, Bond perguntou casualmente pelo outro freguês. "Ele se parece muito com um amigo meu que também perdeu uma vista. Os dois usam aquele mesmo tipo de venda preta no olho".

O proprietário respondeu que se tratava de um estranho. Gostara muito da comida e até dissera que voltaria dentro de um ou dois dias. Aparentemente era suíço, pelo sotaque com que falava. Era caixeiro-viajante e vendia relógios.

Quando Bond se levantou, teve uma idéia: "A propósito. Madame falou pelo telefone com Paris e eu não quero esquecer de pagar. Acho que foi para um número nos Elysées", acrescentou, lembrando que Mathis morava naquele bairro.

"Muito obrigado, Monsieur, mas já está tudo resolvido. Eu estava falando hoje com a telefonista de Royale e ela contou que um de meus hóspedes tentara falar com Paris, mas que o telefone de lá não respondera. E ela queria saber se Madame queria tentar de novo. Acho que esqueci de perguntar a ela. Mas — espere um pouco — o número que a telefonista me disse era nos Invalides".

26- "DURMA BEM, MINHA QUERIDA"

OS DOIS dias que se seguiram foram iguais.

Quatro dias depois de terem chegado ao hotelzinho, Vésper foi a Royale bem cedinho. Um táxi veio buscá-la e a trouxe de volta. Ela alegou que precisava de uns remédios.

À noite, ela Fez um esforço especial para mostrar-se alegre. Bebeu muito e quando subiram ela o conduziu ao quarto e entregou-se apaixonadamente. O corpo de Bond respondeu com a mesma intensidade; mas depois ela chorou amargamente no travesseiro e Bond voltou para a sua cama desesperado.

Mal conseguiu dormir e bem cedinho ouviu que a porta do quarto dela se abria silenciosamente. Veio da escada o ruído de passos leves. Depois um barulho na cabine telefônica. E logo em seguida Ele ouviu que a porta do quarto dela se fechava silenciosamente de novo. Imaginou que outra vez ela não obtivera resposta de Paris.

Isso foi no sábado.

No domingo, o homem da venda preta estava de volta. Bond soube-o quando, ao levantar a vista do prato, viu o rosto dela. Contara a Vésper tudo o que soubera através de Monsieur Versoix, menos a declaração de que o homem voltaria. Tinha certeza de que ela ficaria preocupada.

Bond também telefonara para Paris, pedindo a Mathis para informar-se sobre a chapa do Peugeot. O carro fora alugado duas semanas antes a uma firma bastante respeitada. O cliente era um suíço. Chamava-se Adolph Gettler. O endereço de Zurique que fornecera à empresa alugadora do automóvel correspondia a um conhecido banco.

Mathis recorrera à polícia suíça. Sim, havia uma conta no banco com aquele nome. Mas era uma conta pouco usada. Herr Gettler, ao que se sabia, tinha ligações com a indústria relojoeira. Poder-se-ia fazer uma investigação mais apurada, se houvesse alguma queixa contra Ele.

Diante de todas essas notícias, Vésper simplesmente encolhera os ombros.

Desta segunda vez, quando o homem apareceu ela deixou o almoço pelo meio e foi diretamente para o quarto.

Quando terminou de almoçar, Bond seguiu-a. As duas portas estavam trancadas. Bond forçou Vésper a abrir uma porta e quando entrou percebeu que ela tinha estado no escuro junto à janela — espiando para baixo, presumiu Ele.

A moça estava com o rosto petrificado. Bond Fez com que ela se sentasse junto dele na cama. Estavam lado a lado, tensos, como duas pessoas viajando de trem.

"Vésper", disse Bond, segurando as mãos da moça. "Não podemos continuar assim. Temos de acabar com isso. Estamos nos torturando e só há um jeito de acabar com isso. Ou você me conta o que é que está acontecendo ou então vamos embora já".

Ela não respondeu.

"Meu amor", continuou Ele. "Por que você não me conta? Naquela manhã eu ia pedir a você que se casasse comigo. Será que não podemos começar tudo de novo? Que pesadelo terrível é esse que nos está matando?"

A princípio ela nada disse, depois uma lágrima rolou de seus olhos.

"Você quer dizer que se casaria comigo?"

Com a cabeça, Bond Fez que sim.

"Oh, meu Deus!", gritou Vésper. "Meu Deus!" Agarrou-se a Ele, enterrando o rosto no peito de Bond.

Ele a manteve fortemente apertada. "Conte-me, meu amor", disse Ele. "Conte-me qual é o problema".

Aos poucos, os soluços da môça diminuíram.

"Deixe-me um pouco" pediu ela. Sua voz ganhara um novo tom, um tom de resignação. "Deixe-me pensar um pouco". Segurou o rosto de Bond entre as mãos e beijou-o. "Meu querido, estou tentando resolver isto tudo da melhor maneira para nós dois. Acredite-me, por favor. Mas é terrível. Estou numa situação apavorante. . ."

Os soluços recomeçaram e ela agarrou-se a Ele como uma criança durante um pesadelo.

Beijando-a docemente e acariciando seus cabelos longos e pretos, Bond tentou acalmá-la.

"Agora saia", pediu ela. "Preciso pensar durante algum tempo. Precisamos fazer alguma coisa".

Pegou um lenço no bolso de Bond e enxugou os olhos.

Depois acompanhou-o até a porta, onde se abraçaram fortemente. Ele beijou-a, saiu e ela trancou a porta outra vez.

À noite, voltaram quase toda a alegria e a intimidade do primeiro dia. Vésper estava bastante animada, mas alguma coisa de forçado havia na maneira como ria; Bond, porém, estava disposto a acompanhar esse novo estado de espírito e só no fim do jantar é que disse algo que Fez com que ela parasse de falar.

Vésper segurou a mão de Bond.

"Não fale nisso agora", pediu. "Esqueça isso. Já passou tudo. Amanhã de manha eu lhe conto tudo".

Olhou bem para Ele e seus olhos encheram-se de lágrimas. Tirou um lenço da bolsa e enxugou-as.