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— Quer mais um cigarro?

— Não, obrigado. Yoshima hesitou.

— Sentir-me-ia honrado se aceitasse o maço.

Daven deu de ombros, aceitou-o, depois foi manquejando até o canto onde estava sua perna de ferro.

Yoshima bradou uma ordem, e um dos guardas coreanos pegou a perna e ajudou Daven a sentar-se.

Os dedos de Daven estavam firmes enquanto prendia a perna, depois levantou-se, pegou as muletas e fitou-as por um momento. A seguir, lançou-as no canto da choça. Depois, foi andando pesadamente até o beliche e olhou para o rádio.

— Tenlr muito orgulho disso — falou. Bateu continência para Smedly-Taylor e saiu da choça.

O pequeno cortejo cruzou o silêncio de Changi. Yoshima ia na frente e marcava o passo segundo a velocidade de Daven. A seu lado ia Smedly-Taylor. Logo depois, vinha Cox, com as lágrimas escorrendo, e indiferente a elas. Os outros dois guardas esperaram com os homens da Choça 16.

Esperaram 11 horas.

Smedly-Taylor voltou, e os seis homens voltaram. Daven e Cox não voltaram. Permaneceriam na casa da guarda, e no outro dia iriam para a Cadeia de Utram Road.

Os homens foram dispensados.

Peter Marlowe tinha uma dor de cabeça alucinante, devido ao Sol. Voltou aos tropeções para o bangalô e, depois de uma chuveirada, Larkin e Mac massagearam-lhe a cabeça e o alimentaram. Quando terminou, Larkin saiu e sentou-se ao lado da estrada de asfalto. Peter Marlowe ficou acocorado no vão da porta, de costas para o aposento.

A noite vinha chegando por trás do horizonte. Havia uma imensa solidão em Changi, e os homens que andavam para cima e para baixo pareciam mais perdidos do que nunca.

— Acho que vou recolher-me agora, meu rapaz — disse Mac, bocejando. — Durma cedo.

— Está bem, Mac.

Mac ajeitou o mosquiteiro sobre a cama e enfiou-o sob o colchão. Enrolou um trapo para absorver o suor da testa, depois tirou o cantil de Peter Marlowe do seu envoltório de feltro e soltou o fundo falso. Tirou os envoltórios e as bases dos cantis de Larkin e dele próprio, depois cuidadosamente empilhou-os uns sobre os outros. Dentro de cada cantil havia um emaranhado de fios, condensador e tubo.

Do cantil superior tirou cuidadosamente uma junta-macho de seis pinos com o seu complexo de fios, e encaixou-a habilmente na junta-fêmea do cantil do meio. A seguir, tirou uma junta-macho de quatro pinos e encaixou-a na tomada apropriada, no último cantil.

As mãos e os joelhos lhe tremiam, pois fazer aquilo à meia-luz, apoiado num dos cotovelos, ocultando os cantis com o corpo, era extremamente incômodo.

A noite cobriu o céu, aumentando a opressão. Os mosquitos começaram a atacar.

Quando todos os cantis estavam unidos, Mac esticou as costas para aliviar a dor e secou as mãos escorregadias. Depois, tirou o fone de ouvido do seu esconderijo no cantil superior e verificou as ligações, para se certificar de que estavam ajustadas. O fio isolado da fonte também estava no cantil superior. Desenrolou-o e verificou se as agulhas ainda estavam bem soldadas às extremidades do fio. Mais uma vez secou o suor e rapidamente reexaminou todas as conexões, achando, enquanto o fazia, que o rádio ainda parecia tão puro e limpo como quando ele o terminara secretamente em Java — enquanto Larkin e Peter Marlowe montavam guarda — há dois anos.

Levara seis meses para ser projetado e construído.

Apenas a metade inferior do cantil poderia ser usada — a parte de cima teria que conter água — portanto, não apenas ele teria que comprimir o rádio em três minúsculas unidades rígidas, como teria que botar as unidades em recipientes impermeáveis, depois soldar os recipientes dentro dos cantis.

Eles três haviam carregado os cantis durante 18 meses. Para o caso de haver um dia como este.

Mac se ajoelhou e enfiou duas agulhas no âmago dos fios que uniam a luz do teto à sua fonte. A seguir, pigarreou.

Peter Marlowe se levantou e verificou que não havia ninguém por perto. Desatarrachou rapidamente a lâmpada e ligou o interruptor. Depois, voltou para o vão da porta e ficou de guarda. Viu que Larkin ainda estava em posição, vigiando o outro lado e deu o sinal de tudo-em-paz.

Quando Mac o ouviu, aumentou o volume, pegou o fone de ouvido e prestou atenção.

Os segundos se transformaram em minutos. Peter Marlowe virou-se bruscamente, assustado ao ouvir Mac gemer.

— O que foi, Mac? — indagou.

Mac enfiou a cabeça pelo mosquiteiro, o rosto sem cor.

— Não funciona, cara — disse. — Esta bosta não funciona.

LIVRO DOIS9

Seis dias mais tarde, Max encurralou um rato. Na choça americana.

— Olhe só para este filho da puta! — exclamou o Rei. — É o maior rato que já vi!

— Meu Deus — disse Peter Marlowe. — Cuidado para que não morda fora o seu braço!

Estavam todos cercando o rato. Max com uma vassoura de bambu nas mãos, Tex com um bastão de beisebol, Peter Marlowe com outra vassoura. O resto brandia pedaços de pau e facas.

Somente o Rei estava desarmado, mas tinha os olhos no rato e estava pronto para sair do seu caminho. Estava no canto dele, batendo papo com

Peter Marlowe, quando Max dera o primeiro grito, e saltara juntamente com os outros. Tinham acabado de tomar café.

— Cuidado! — gritou, prevendo a súbita corrida do rato para a liberdade. Max atacou-o, selvagemente, e errou. Outra vassoura acertou-o de raspão, derrubando-o por um instante. Mas o rato se pôs de pé de novo, e correu de volta para o canto, e se virou, sibilando, cuspindo e deixando à mostra os dentes pontiagudos.

— Jesus! — exclamou o Rei. — Pensei que o sacana tinha escapado, desta vez.

O rato peludo tinha quase 30 centímetros de comprimento. O rabo media outros 30 centímetros, tendo a espessura do polegar de um homem, na base, e não tinha pêlos. Olhinhos redondos corriam de um lado para o outro, buscando o caminho da fuga. Castanhos e obscenos. A cabeça se afinava para um focinho pontudo, boca estreita, dentes incisivos grandes, muito grandes. Pesaria quase um quilo. Malévolo e muito perigoso.

Max estava respirando com dificuldade pelo esforço, e tinha os olhos fitos no rato.

— Porra, mas eu detesto ratos. Detesto até olhar para eles. Vamos matá-lo. Prontos?

— Espere aí, Max — falou o Rei. — Nâ”o há pressa. Ele não pode fugir, agora. Quero ver o que vai fazer.

— Vai tentar fugir de novo, é o que vai fazer — disse Max.

— E nós o deteremos. Qual é a pressa? — O Rei olhou de novo para o rato e abriu um sorriso. — Você está ferrado, seu filho da puta. Morto.

Quase como se tivesse entendido, o rato avançou para o Rei, de dentes à mostra. Somente os muitos golpes e gritos o fizeram recuar.

— O sacana faria a gente em pedaços, se pudesse meter os dentes na gente — disse o Rei. — Não sabia que podiam ser tão rápidos.

— Ei — intrometeu-se Tex. — Quem sabe deveríamos ficar com ele.

— Mas que conversa é essa?

— Poderíamos ficar com ele. Como mascote. Ou quando a gente não tivesse nada para fazer, soltava-o e corria atrás.

— Ei, Tex — falou Dino. — Podia ser uma boa. Quer dizer, como se fazia antigamente, com as raposas?

— É uma idéia horrorosa — disse o Rei. — Está certo matar o sacana. Mas não há necessidade de torturá-lo, mesmo sendo um rato. Nunca lhe fez mal.

— Pode ser. Mas os ratos são animais nocivos. Não têm o direito de viver.

— Claro que têm — disse o Rei. — Se não fosse por eles, bem, eles comem carniça, como os micróbios. Ora, se não fosse pelos ratos, o mundo todo seria um monte de lixo.

— Porra — interpôs Tex. — Os ratos arruinam as colheitas. Vai ver que foi este filho da mãe que roeu os fundos do saco de arroz, pelo tamanho da barriga dele.

— É — acrescentou Max, malevolamente. — Eles comeram quase quinze quilos, numa noite.

Mais uma vez, o rato avançou para a liberdade. Rompeu o círculo e correu cabana abaixo. Somente por sorte os homens puderam encurralá-lo de novo. Voltou a ficar cercado.