Выбрать главу

O Rei sacudiu a cabeça suavemente, depois disse para Peter Marlowe:

— Diga-lhe que não vou ficar barganhando merda nenhuma. O preço é trinta mil, cinco mil em dólares malaios a oito por um, em notas pequenas. Meu preço final.

— Precisa pechinchar um pouco mais — falou Peter Marlowe. — Que tal dizer trinta e três mil, depois...

— Não. — O Rei balançou a cabeça. — E quando traduzir, use uma palavra como “merda”.

Relutantemente, Peter Marlowe voltou-se para Cheng San.

— Meu amigo diz o seguinte: Não vai perder tempo pechinchando. Seu preço final é trinta mil, cinco mil em dólares malaios à taxa de oito por um. Tudo em notas de pouco valor.

Para sua surpresa, Cheng San disse imediatamente:

— Concordo. — Também ele não queria perder tempo pechinchando. O preço era justo e sentira que o Rei estava inabalável. Chega uma hora em todos os negócios em que um homem tem que decidir, sim ou não. O Rajá era um bom comerciante.

Apertaram-se as mãos. Sutra sorriu e trouxe uma garrafa de saque. Bebe-ram à saúde dos presentes até a garrafa ficar vazia. Depois, acertaram os detalhes.

Dali a 10 dias, Shagata viria à choça americana na hora da troca da guarda da noite. Traria o dinheiro, e veria o anel antes de entregá-lo. Três dias mais tarde, o Rei e Peter Marlowe se encontrariam com Cheng San na aldeia. Se, por algum motivo, Shagata não pudesse ir no dia marcado, iria no dia seguinte, ou no seguinte. Do mesmo modo, se o Rei não pudesse comparecer ao encontro marcado na aldeia, viriam no dia seguinte.

Depois de trocarem os cumprimentos de praxe, Cheng San disse que precisava aproveitar a maré. Inclinou-se cortesmente, e Sutra foi com ele, acom-panhando-o até a praia. Ao lado do barco, começaram uma discussão educada sobre o negócio dos peixes.

O Rei estava eufórico.

— Que maravilha, Peter! Estamos na jogada!

— Você é fantástico! Quando disse para dar o preço final para ele, sem mais conversa fiada, bem, meu velho, pensei que o tinha perdido. Não agem desse jeito.

— Tive um palpite — foi só o que o Rei disse. A seguir acrescentou, mordendo um pedaço de carne. — Você vai ganhar dez por cento... do lucro, é claro. Mas vai ter que suar por ele, seu filho da puta!

— Como um cavalo! Deus! Pense só em todo esse dinheiro. Trinta mil dólares fariam uma pilha de notas de uns trinta centímetros.

— Mais — disse o Rei, contagiado pelo entusiasmo.

— Meu Deus, mas você tem peito! Como foi que bolou esse preço? Ele concordou, bumba, sem mais aquela! Um papo de um momento, e bumba, você fica rico!

— Ainda tenho muito com que me preocupar até que o negócio esteja fechado. Muita coisa pode dar errado. Não é negócio fechado até o dinheiro ser entregue e estar no banco.

— Ah, nem pensei nisso.

— Um axioma comercial. Não se pode pôr conversa no banco. Só as notinhas.

— Ainda nem posso acreditar. Estamos fora do campo, com a barriga cheia como há semanas não estava. E as perspectivas são ótimas. Cara, você é um gênio.

— Vamos esperar para ver, Peter. — O Rei se levantou. — Espere aqui. Volto dentro de uma hora, mais ou menos. Tenho um outro negocinho a resolver. Contanto que a gente saia daqui dentro de umas duas horas, tudo bem. Aí chegaremos no campo pouco antes do amanhecer. É a melhor hora. É quando os guardas estão mais relaxados. Até já — falou, desaparecendo degraus abaixo.

Mesmo a contragosto, Peter Marlowe sentiu-se sozinho, e com bastante medo.

Santo Deus, o que ele está aprontando? Aonde vai? E se chegar atrasado? E se não voltar? E se um japonês chegar à aldeia? E se eu tiver que ficar por minha conta? Devo ir à procura dele? Se não voltarmos até o alvorecer, Jesus Cristo, vão dar por nossa falta, e teremos que fugir. Para onde? Será que Cheng San ajudará? Perigoso demais! Onde será que ele mora? Será que conseguiremos chegar às docas e arrumar um barco? Quem sabe entrar em contato com os guerrilheiros que dizem estar operando?

Controle-se, Marlowe, seu covarde de uma figa! Está parecendo uma criança de três anos. Dominando sua ansiedade, preparou-se para esperar. E foi então que se lembrou do condensador de acoplamento — 300 microfarádios.

— Tabe, Tuan — sorriu Kasseh, quando o Rei entrou em sua choça.

— Tabe. Kasseh.

— Quer comida?

Fez que não com a cabeça, e abraçou-a com força, as mãos percorrendo o corpo dela, que ficou na ponta dos pés para abraçar-lhe o pescoço, com os cabelos como plumas de ouro negro que caíam até a cintura.

— Muito tempo — disse ela, excitada pelo toque dele.

— Muito tempo — replicou. — Sentiu saudade?

— Hã-hã — fez ela, rindo, e imitando o sotaque dele.

— Ele já chegou?

A moça fez que não com a cabeça.

— Não gostar dessa coisa, tuan. Tem perigo.

— Tudo tem perigo.

Ouviram passos, e logo uma sombra manchou a porta. Ela se abriu, e entrou um chinês pequeno e escuro. Usava sarongue e tamancos indianos. Sorriu, mostrando dentes quebrados e manchados. Às costas, trazia um facão de guerra embainhado. O Rei notou que a bainha estava bem lubrificada. Muito fácil arrancar o facão da bainha e cortar fora a cabeça de um homem, sem mais aquela. E havia um revólver enfiado no cinto do homem.

O Rei pedira a Kasseh que entrasse em contato com os guerrilheiros que operavam em Johore, e este homem era o resultado. Como a maioria, eram bandidos convertidos lutando agora contra os japoneses sob a bandeira dos comunistas, que lhes forneciam armas.

— Tabe. Fala inglês? — perguntou o Rei, forçando um sorriso. Não estava gostando da cara do chinês.

— Por que quer falar conosco?

— Pensei que pudéssemos fazer um negócio.

O chinês lançou um olhar lascivo a Kasseh, que se encolheu, assustada.

— Dê o fora, Kasseh — mandou o Rei.

Ela se foi silenciosamente, atravessando a cortina de contas que dava para os fundos da casa.

O chinês ficou vendo a moça afastar-se.

— Tem sorte — disse para o Rei. — Muita sorte. Aposto que a mulher diverte dois, três homens numa noite. Não?

— Quer conversar sobre o negócio? Sim ou não?

— Cuidado, homem branco. Quem sabe conto japoneses você está aqui. Quem sabe conto aldeia segura para prisioneiros brancos. Então eles matam aldeia.

— Você vai acabar morto rapidamente, desse jeito.

O chinês resmungou, depois se acocorou. Mudou o facão de posição, leve e ameaçadoramente.

— Quem sabe fico com mulher, agora.

Jesus, pensou o Rei, será que cometi um engano.

— Tenho uma proposta para vocês. Se a guerra acabar de repente, ou os japoneses resolverem começar a cortar os prisioneiros de guerra em pedaços, quero vocês por perto para me proteger. Pagarei dois mil dólares americanos quando estiver a salvo.

— Como vamos saber se japoneses matam prisioneiros?

— Saberão. Sabem a maioria das coisas que acontecem.

— Como vamos saber você paga?

— O governo americano pagará. Todo mundo sabe que há uma recompensa.

— Dois mil! ‘Mahlu! Pegamos dois mil qualquer hora. Só assaltar banco. Fácil.

O Rei fez seu gambito.

— Tenho ordens do nosso oficial comandante para lhes garantir dois mil por cabeça para cada americano que for salvo. Se começar a carnificina.

— Não entendo.

— Se os japoneses começarem a acabar com nossa raça... a nos matar. Se os Aliados desembarcarem aqui, os japoneses vão ficar muito maus. Ou se os Aliados desembarcarem no Japão, a turma aqui vai vingar-se. Se o fizerem, vocês saberão, e quero que nos ajudem a escapar.

— Quantos homens?

— Trinta.

— Demais.

— Quantos pode garantir?

— Dez. Mas o preço vai ser cinco mil por homem.

— É demais.

O chinês deu de ombros.

— Está bem. Negócio fechado. Conhecem o campo. O chinês mostrou os dentes num sorriso retorcido.