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Peter Marlowe e Larkin juntaram-se ao fluxo de homens que se dirigiam para o teatro ao ar livre.

As luzes do palco já estavam acesas, e a Lua iluminava a noite. Totalmente lotado, o teatro abrigava 2.000 pessoas. As cadeiras, que partiam de junto do palco, abrindo-se em leque, eram tábuas sobre tocos de coqueiro. Cada espetáculo era repetido durante cinco noites, para que todos no campo pudessem assistir a ele ao menos uma vez. Os lugares eram sorteados, e sempre disputadíssimos.

A maior parte das filas já estava superlotada. Exceto pelas filas da frente, onde se sentavam os oficiais. Estes sempre se sentavam na frente dos soldados, e chegavam depois destes. Apenas os americanos não seguiam este costume.

— Ei, vocês dois — chamou o Rei. — Querem sentar com a gente? — Ele tinha um lugar privilegiado, junto ao corredor.

— Bem, eu gostaria, mas sabe como é... — disse Peter Marlowe, constrangido.

— Está legal. Até logo mais.

Peter Marlowe lançou um olhar para Larkin e soube que ele também estava achando que era errado não sentar junto dos amigos, se a gente estava com vontade... e, ao mesmo tempo, era errado sentar ali.

— Ha... quer sentar aqui, Coronel? — perguntou, jogando a responsabilidade da decisão sobre Larkin, e odiando-se por agir assim.

— Por que não? — disse Larkin.

Sentaram-se, profundamente encabulados, cônscios de sua deserção e dos olhares atônitos.

— Ei, Coronel! — Brough debruçou-se para ele, com um sorriso vincando o rosto. — Vão-lhe arrancar o couro. Mau para disciplina, e coisa e tal.

— Se quero sentar-me aqui, sento-me aqui. — Mas Larkin já estava desejando não ter concordado tão prontamente.

— Como vão as coisas, Peter? — perguntou o Rei.

— Bem, obrigado. — Peter Marlowe tentou superar o mal-estar que sentia. Achava que todo o mundo estava olhando para ele. Ainda não tinha contado ao Rei que vendera a caneta, por ter sido chamado à presença do Smedly-Taylor, nem que quase se atracara com Grey...

— Boa-noite, Marlowe.

Levantou os olhos e crispou-se todo ao ver o Coronel Smedly-Taylor passar, com olhar gélido.

— Boa-noite, senhor — respondeu, debilmente. Ó, meu Deus, pensou, agora estou ferrado.

Houve uma súbita aceleração do entusiasmo geral, quando o Comandante do Campo desceu o corredor e sentou-se na primeira fila. As luzes se apagaram. Abriu-se o pano. No palco achava-se a orquestra de cinco instrumentos do campo, e no centro do palco encontrava-se seu regente, Phil.

Aplausos.

— Boa-noite — começou Phil. — Hoje vamos apresentar uma nova peça de Frank Parrish chamada Triângulo, que se passa na Londres de antes da guerra, estrelada por Frank Parrish, Brod Rodrick, e o primeiro e único Sean Jennison...

Vivas alucinados. Assobios. Apupos. Gritos de “Cadê o Sean?” e “Que guerra?” e “Boa e velha Inglaterra!” e “Andem logo com isso” e “Queremos Sean!”

Phil fez um floreio com a batuta, e a abertura começou.

Agora que o espetáculo já tivera início, Peter Marlowe descontraiu-se um pouco.

E então, aconteceu. De repente, Dino apareceu ao lado do Rei, murmurando urgentemente ao seu ouvido.

— Onde? — disse o Rei. Peter Marlowe pôde ouvi-lo. Depois: — Certo, Dino. Volte logo para a choça.

O Rei inclinou-se para perto de Peter Marlowe.

— Temos que ir, Peter. — O rosto dele estava tenso, a voz não passava de um sussurro. — Um certo cara quer-nos ver.

— Ó, meu Deus! Shagata! E agora?

— Não podemos simplesmente levantar e ir embora — disse Peter Marlowe, contrafeito.

— Não podemos, uma ova. Estamos os dois com disenteria. Vamos. — O Rei já estava descendo o corredor.

Dolorosamente cônscio dos olhares espantados, Peter Marlowe saiu atrás dele.

Encontraram Shagata nas sombras, atrás do palco. Também estava nervoso.

— Suplico-vos que perdoeis a minha indelicadeza ao mandar chamar-vos tão repentinamente, mas temos encrenca. Um dos juncos do nosso amigo mútuo foi interceptado, e ele no momento está sendo interrogado pela polícia peçonhenta, acusado de contrabando. — Shagata sentia-se perdido sem seu fuzil, e sabia que, se fosse apanhado no campo sem estar de serviço, seria colocado na caixa sem janelas por três semanas. — Ocorreu-me que, se nosso amigo for interrogado brutalmente, poderá implicar-nos.

— Santo Deus! — exclamou o Rei. Com mãos trêmulas aceitou um Kooa, e os três se aprofundaram nas sombras.

— Pensei que, como sois um homem de experiência — continuou Shagata, falando de roldão — poderíeis ter um plano com o qual nós nos conseguiríamos salvar.

— Pode esperar sentado! — exclamou o Rei. Seus pensamentos fervilhavam, e a resposta era sempre a mesma: esperar e suar frio. — Peter. Pergunte a ele se Cheng San estava no junco, quando este foi apreendido.

— Ele diz que não. — O Rei suspirou.

— Então pode ser que Cheng San consiga safar-se. — Pensou de novo, depois falou: — Não podemos fazer porra nenhuma, só esperar. Diga-lhe para não entrar em pânico. Tem que dar um jeito de saber se Cheng San falou. Precisa avisar-nos se o raio do negócio foi descoberto.

Peter Marlowe traduziu.

Shagata aspirou o ar por entre os dentes.

— Estou impressionado ao vos ver tão calmos, enquanto tremo de medo, pois, se for apanhado, estarei com sorte se for logo fuzilado. Farei o que mandastes. Se fordes apanhados, suplico-vos que tenteis não me envolver. Tentarei fazer o mesmo. — Virou a cabeça bruscamente, ao ouvir um assobio baixo de alerta. — Tenho que vos deixar. Se tudo correr bem, continuaremos, com o plano. — Enfiou apressadamente o maço de Kooas na mão de Peter Marlowe.

— Não sei de vós e vossos deuses, mas eu certamente pedirei aos meus, longamente, pelo nosso bem comum. — E depois partiu.

— E se Cheng San der com a língua nos dentes? — perguntou Peter Marlowe, com um doloroso nó na boca do estômago. — O que podemos fazer?

— Tentar fugir. — O Rei acendeu outro cigano com mãos trêmulas, e encostou-se na parede lateral do teatro, metendo-se bem dentro das sombras.

— É melhor do que Utram Road.

Atrás deles, a abertura musical terminou sob uma chuva de aplausos, vivas e risadas. Mas eles não escutaram coisa alguma.

Rodrick estava nas coxias, fechando a cara para o pessoal que armava o cenário para a peça, correndo atrás deles, apressando-os.

— Major! — Mike veio correndo para junto dele. — Sean está tendo um chilique. Está-se acabando de chorar!

— Mas pelo amor de Deus! O que aconteceu? Estava tudo bem faz um minuto — explodiu Rodrick.

— Não sei ao certo — respondeu Mike, mal-humorado.

Rodrick praguejou de novo, saindo às pressas. Bateu, ansiosamente, à porta do camarim.

— Sean, sou eu. Posso entrar? Soluços abafados vinham lá de dentro.

— Não. Vá embora. Não vou entrar em cena. Não posso.

— Sean. Está tudo bem. Você está apenas esgotado, só isso. Olhe...

— Vá embora e me deixe em paz — berrava Sean, histericamente, através da porta. — Não vou entrar em cena!

Rodrick tentou abrir a porta, mas estava trancada. Voltou correndo para o palco.

— Frank!

— O que é? — Frank, coberto de suor, estava encarapitado numa escada, irritado, consertando uma luz que se recusava a funcionar.

— Desça daí! Preciso falar com...

— Ora, pela madrugada, não está vendo que estou ocupado? Faça você mesmo, seja lá o que for — explodiu. — Será que tenho que fazer tudo? Ainda tenho que me vestir, e nem me maquiei! — Ergueu os olhos novamente para a passagem estreita acima do palco. — Tente os outros grupos de chaves, Duncan. Vamos, homem, mexa-se.

Do outro lado do pano, Rodrick já podia ouvir o coro cada vez maior de assobios impacientes. O que faço agora?, perguntou-se, desesperadamente. Começou a voltar para o camarim.