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— Se você salvar o dinheiro, Peter — falou o Rei, desesperado — eu salvo seu braço.

— Você o quê?

— Você me ouviu! Ande logo!

— Mas como pode...

— Ande logo — interrompeu o Rei, com aspereza. — Se salvar a grana. Peter Marlowe fitou por um instante os olhos do Rei, depois esgueirou-se para fora da vala e correu na direção da cerca e passou por baixo dela, esperando a todo momento uma bala na cabeça. No exato segundo da corrida do amigo, o Rei saltou de dentro da vala, em direção à trilha. Tropeçou deliberadamente e se jogou na poeira com um grito de raiva. O guarda do outro lado da cerca lançou-lhe um olhar abrupto e riu alto, e quando se virou de novo para seu posto, viu apenas uma sombra que podia ser qualquer coisa, exceto um homem.

Peter Marlowe estava colado ao chão, e se arrastava como um animal da floresta na vegetação úmida, prendendo a respiração. Depois, ficou imóvel. O guarda se acercava cada vez mais, e então seu pé ficou a três centímetros da mão de Peter Marlowe, e então o outro pé deu um passo por cima dela, e quando o guarda estava a cinco passos dele, Peter Marlowe rastejou mais para dentro da vegetação rasteira, para a escuridão, cinco, dez, 20, 30, e quando estava a 40 passos de distância e em segurança, seu coração pareceu recomeçar a bater, e teve que parar, parar para respirar, parar por causa do coração, parar por causa da dor no braço, o braço que ia ser dele de novo. Se o Rei tinha dito... ia ser. E então ficou largado no chão, rezando para ter fôlego, rezando por sua vida, rezando para ter forças e rezando pelo Rei.

O Rei pôde respirar, agora que Peter Marlowe chegara à selva. Levantou-se e começou a tirar o pó do corpo, e logo Grey e um PM achavam-se a seu lado.

— Fique onde está.

— Quem, eu? — O Rei fingiu espiar para dentro da escuridão e reconhecer Grey. — Oh, é o senhor. Boa-noite, Capitão Grey. — Empurrou o braço do PM que o segurava. — Tire as mãos de mim!

— Está preso — falou Grey, suado e empoeirado pela perseguição.

— Por que motivo? Capitão.

— Reviste-o, Sargento.

O Rei se deixou revistar, calmamente. Agora que o dinheiro não estava com ele, não havia nada que Grey pudesse fazer. Nada.

— Está limpo, senhor — falou o PM.

— Revistem a vala. — E para o Rei: — Onde está Marlowe?

— Quem? — indagou o Rei, serenamente.

— Marlowe! — berrou Grey. Nada de dinheiro neste porco, e nada de Marlowe!

— Provavelmente está dando um passeio. Senhor. — O Rei falava educadamente, concentrado apenas em Grey e no perigo atual, pois pressentia que o perigo nâo havia passado totalmente, e que ao lado do muro da cadeia havia um grupo de fantasmas malévolos, observando-o por um instante, antes de desaparecerem.

— Onde botou o dinheiro? — dizia Grey.

— Que dinheiro?

— O dinheiro da venda do diamante.

— Que diamante? Senhor!

Grey sabia que estava derrotado, momentaneamente. Estava derrotado até poder achar Marlowe, de posse do dinheiro. Muito bem, seu filho da mãe, pensou Grey, alucinado de raiva, muito bem, vou deixá-lo ir, mas vou ficar de olho em você, e você me conduzirá a Marlowe.

— No momento é só — disse Grey. — Derrotou-nos, desta vez. Mas haverá outra.

O Rei voltou para sua choça, rindo consigo mesmo. Acha que vou levá-lo direto a Peter, não é, Grey? Mas você é tão esperto que chega a ser ingênuo. Dentro da choça, encontrou Max e Tex. Também eles estavam suando.

— O que aconteceu? — perguntou Max.

— Nada. Max, vá procurar o Timsen. Diga-lhe que espere debaixo da janela, falo com ele ali. Diga-lhe para não entrar na choça, pois Grey ainda nos está vigiando.

— Certo.

O Rei botou água para ferver para o café. Sua mente funcionava a todo o vapor. Como fazer a troca? Onde? O que fazer quanto a Timsen? Como afastar Grey de Peter?

— Queria falar comigo, meu chapa?

O Rei não se virou para a janela. Simplesmente correu o olhar pela choça. Os americanos entenderam e deixaram-no a sós. Ficou vendo Dino sair, e retribuiu o sorriso retorcido dele.

— Timsen? — falou, preparando o café.

— Sim, meu chapa?

— Devia cortar a porra de sua garganta.

— Não foi culpa minha, camarada. Alguma coisa saiu errada...

— É. Você queria o dinheiro e o diamante.

— Não faz mal tentar, camarada. — Timsen deu uma risadinha. — Não vai acontecer de novo.

— Pode apostar que nato. — O Rei gostava de Timsen. Um cara legal. E não fazia mal tentar, quando havia tanto em jogo. E ele precisava do Timsen. — Vamos fazer a transferência durante o dia. Assim, não haverá “deslizes”. Mando avisar a hora.

— Certo, camarada. Cadê o inglês?

— Que inglês?

— Até amanhã! — disse Timsen, dando uma risada.

O Rei tomou o café e chamou Max para ficar de guarda. A seguir, saltou cautelosamente pela janela, correu para dentro das sombras, e dirigiu-se para o muro da cadeia. Tomou cuidado para não ser observado, mas não cuidado demais, e riu sozinho ao sentir que Grey o seguia. Fingiu muito bem, andando para cima e para baixo, ou em ziguezague. Grey seguia-lhe os passos, implacavelmente, e o Rei fez com que o acompanhasse até o portão da cadeia, através do portão, e para dentro dos blocos de celas. Finalmente, o Rei se dirigiu para a cela do quarto andar, e fingiu aumentar sua preocupação ao entrar na cela e deixar a porta entreaberta. A cada quarto de hora, mais ou menos, abria bem a porta, olhava ansioso para todos os lados, agindo assim até a chegada de Tex.

— A barra está limpa — disse Tex.

— Ótimo. — Peter tinha voltado, em segurança, e não havia necessidade de continuar a fingir, e assim ele voltou para sua choça e piscou o olho para Peter Marlowe.

— Por onde andou?

— Vim ver como você estava passando.

— Quer café?

— Obrigado.

Grey chegou à porta. Não disse uma palavra, apenas olhou. Peter Marlowe vestia somente seu sarongue. Não há bolsos num sarongue. A braçadeira estava no lugar.

Peter Marlowe levou a xícara aos lábios, bebeu o café, com os olhos fitos nos de Grey. Então, este deu as costas e sumiu dentro da noite.

Peter Marlowe levantou-se, exausto.

— Acho que agora vou dormir.

— Estou orgulhoso de você, Peter.

— Falou aquilo a sério, não foi?

— Claro.

— Obrigado.

Naquela noite, o Rei tinha novo problema a preocupá-lo. Porra, como é que ia poder fazer o que tinha dito que faria?

20

Larkin estava profundamente perturbado, enquanto subia a trilha, na direção da choça australiana. Estava preocupado com Peter Marlowe... seu braço parecia incomodá-lo demais, doer demais para ser considerado um simples ferimento superficial. Também estava preocupado com o velho Mac. Na noite passada, Mac falara e gritara durante o sono. E estava preocupado com Betty. Ele próprio tivera sonhos ruins nas últimas noites, pesadíssimos, Betty e ele, com outros homens na cama com ela, e ele olhando, e ela rindo dele.

Larkin entrou na choça e foi direto ao Townsend, que estava deitado no beliche.

Os olhos de Townsend estavam inchados e fechados, seu rosto achava-se arranhado, e o peito e os braços, machucados e arranhados. Quando o rapaz abriu a boca para responder, Larkin viu o buraco sangrento onde devia haver dentes.

— Quem fez isso, Townsend?

— Não sei — choramingou Townsend. — Foi uma emboscada.

— Porquê?

As lágrimas brotaram, sujando os ferimentos.

— Eu tinha... tinha... um... nada... nada. Não... sei.

— Estamos sozinhos, Townsend. Quem foi?

— Não sei. — Um gemido soluçante escapou dos lábios do rapaz. — Ó, Cristo, eles me machucaram, me machucaram.

— Por que foi atacado?