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E então Peter Marlowe começou a rir histericamente e todo o pessoal da choça pensou que ele tinha ficado maluco. Só quando Mike deu-lhe umas sacudidelas foi que conseguiu parar de rir.

— Desculpem, foi uma piadinha particular.

Quando Drinkwater voltou, Peter Marlowe fingiu estar mortalmente preocupado com a perda de um pouco de comida, e Drinkwater também se mostrou preocupado, e disse, lambendo os beiços:

— Mas que sujeira!

Peter Marlowe teve novo ataque histérico de riso.

Finalmente, Peter Marlowe foi para seu beliche, deixando-se ficar ali largado, exausto de tanto rir. E rapidamente esta exaustão somou-se à exaustão dos dois últimos dias. Adormeceu, e sonhou com Drinkwater comendo montanhas de coxinhas, enquanto ele, Peter Marlowe, ficava olhando e Drinkwater não parava de dizer: “O que há? São deliciosas, deliciosas...”

Ewart sacudiu-o para acordá-lo.

— Há um americano aí fora, Peter. Quer falar com você.

Peter Marlowe ainda se sentia fraco e nauseado, mas saltou da cama.

— Onde está Drinkwater?

— Sei lá. Mandou-se depois que você teve aquele ataque.

— Ah. — Peter Marlowe riu de novo. — Estava com medo de que tivesse sido um sonho.

— Como? — Ewart fitava-o, atentamente.

— Nada.

— Não sei o que está dando em você, Peter. Tem andado muito estranho ultimamente.

Tex esperava por Peter Marlowe, junto à choça.

— Pete — murmurou. — O Rei me mandou. Você está atrasado.

— Droga! Peguei no sono, desculpe.

— É, foi o que ele imaginou. Mandou que eu lhe dissesse: “É melhor ir logo.” — Tex franziu a testa. — Você está bem?

— Estou. Só um pouquinho fraco. Tudo bem.

Tex acenou com a cabeça, depois se afastou rapidamente. Peter Marlowe esfregou o rosto, em seguida desceu a escada até a estrada asfaltada, e se meteu debaixo do chuveiro, com o corpo tirando forças da água fria. Depois, encheu seu cantil e caminhou pesadamente até as latrinas. Escolheu um buraco na base da elevação, o mais perto possível da cerca.

Havia apenas uma nesga de Lua. Esperou até a área das latrinas estar momentaneamente vazia, depois esgueirou-se pelo chão descoberto, meteu-se sob a cerca e entrou na selva. Rastejava enquanto acompanhava a cerca, evitando a sentinela que percorria a trilha entre a selva e a cerca. Levou uma hora para achar o lugar onde escondera o dinheiro. Sentou-se e pegou os maços de notas e amarrou-os nas coxas, dobrando o sarongue em volta da cintura. Agora, ao invés de tocar o chão, o sarongue ia só até os joelhos e, dobrado em dois, disfarçava um pouco a grossura desajeitada das pernas.

Teve que esperar mais uma hora em frente à área das latrinas, antes de poder passar sob a cerca. Agachou-se na fossa, na escuridão, para recuperar o fôlego e esperar até que seu coração estivesse mais calmo. Finalmente, apanhou o cantil e se afastou da área das latrinas.

— Alô, cupincha — disse Timsen com um sorriso, saindo de dentro das sombras. — Bela noite, não?

— É — respondeu Peter Marlowe.

— Noite gostosa para se dar um passeio, certo?

— É?

— Importa-se que eu o acompanhe?

— Não, venha comigo, Tim, até gosto que me acompanhe. Assim não encontraremos nenhum assaltante safado. Certo?

— Certo, meu chapa. Você é um grã-fino legal.

— Você também não é tão mau, seu velho sacana. — Peter Marlowe deu-lhe uma palmadinha nas costas. — Ainda não lhe agradeci.

— Esqueça, meu chapa. Puta que o pariu — disse Timsen, rindo baixinho. — Você quase me enganou. Pensei que só ia dar uma cagadinha.

O Rei ficou aborrecido quando viu Timsen, mas, ao mesmo tempo, não ficou aborrecido demais, pois o dinheiro estava de novo em suas mãos. Contou-o e botou-o na caixa preta.

— Agora, só precisamos da pedra.

— É; meu chapa. — Timsen pigarreou. — Se pegarmos o assaltante, antes de ele vir para cá, ou depois de ele sair daqui, então eu recebo o preço que combinamos, certo? Se você comprar o anel dele, e não o pegarmos... então você é o vencedor, certo? Acha justo?

— Acho — disse o Rei. — Negócio fechado.

— Ótimo! Deus o ajude, se o pegarmos! — Timsen fez um cumprimento de cabeça a Peter Marlowe, e foi embora.

— Peter, deite-se — falou o Rei, sentado na caixa preta. — Você está muito abatido.

— Pensei em voltar para minha choça.

— Fique aqui. Posso precisar de alguém em quem confie. — O Rei estava suando, e o calor do dinheiro na caixa preta parecia estar atravessando a madeira.

E, assim, Peter Marlowe ficou deitado na cama, o coração ainda doendo do esforço. Dormia, mas a mente estava alerta.

— Meu chapa!

— Agora? — disse o Rei, dando um salto para junto da janela.

— Depressa. — O homenzinho estava apavorado, e o branco dos olhos refletiam a luz, enquanto olhava de um lado para o outro. — Ande, depressa.

O Rei enfiou a chave na fechadura, abriu a tampa e tirou a pilha de 10.000 dólares que já havia separado, e voltou correndo para a janela.

— Pronto. Dez mil. Já contei. Cadê o diamante?

— Quando eu tiver o dinheiro.

— Quando eu tiver o diamante — falou o Rei, ainda segurando firme as notas.

O homenzinho fitou-o belicosamente, depois abriu o punho. O Rei olhou para o anel de diamante, examinando-o, sem fazer um gesto para pegá-lo. Preciso ter certeza, disse para si mesmo, com urgência. Preciso ter certeza. É ele, sim. Acho que é.

— Vamos, meu chapa — disse o homenzinho, irritado. — Pegue.

O Rei só soltou as notas quando segurou firme o anel, e o homenzinho escafedeu-se. O Rei prendeu a respiração e debruçou-se junto à luz e examinou atentamente o anel.

— Conseguimos, Peter, amigão — sussurrou, eufórico. — Conseguimos. Temos o diamante e o dinheiro.

Com a tensão dos últimos dias começando a fazer sentir seus efeitos, o Rei abriu um saquinho de grãos de café e fez menção de enterrar o anel lá dentro. Em vez disso, colocou-o habilmente na palma da mão. Até mesmo Peter Marlowe, o homem mais perto dele, foi enganado. Logo que fechou a caixa à chave, teve um acesso de tosse. Ninguém o viu passar o anel da mão para a boca. Tateou em busca da xícara de café frio e bebeu-a, engolindo o anel. Agora, o diamante estava seguro. Muito seguro.

Ficou sentado na cadeira, esperando a tensão passar. É, disse para si mesmo, exultante. Consegui.

Um assobio de alerta rasgou a quietude.

Max entrou porta adentro.

— Tiras — falou, e entrou rapidamente no jogo de pôquer.

— Merda!

O Rei forçou as pernas a se moverem e agarrou as pilhas de dinheiro. Jogou uns três centímetros de notas para Peter Marlowe, enfiou quase outros três nos bolsos, atravessou correndo o aposento, até a mesa de pôquer, e deu a cada homem uma pilha para enfiar no bolso. A seguir, dividiu o resto pela mesa, puxou outra cadeira e entrou no jogo.

— Vamos, pela madrugada, dê as cartas — falou o Rei.

— Está bem, está bem — falou Max. — Cinco cartas. — Empurrou para diante 100 dólares. — Cem para entrar.

— Que tal duzentos — disse Tex, abrindo um sorriso.

— Vou nessa!

Todos iam naquela, e estavam felizes e risonhos, e Max deu as duas primeiras cartas, e deu para si mesmo um ás, virado para cima.

— Aposto quatrocentos!

— Os seus quatrocentos, mais quatrocentos — disse Tex, que tinha um dois virado para cima, e nada no buraco.

— Vou nessa — falou o Rei, e então ergueu os olhos e viu Grey parado à porta. Entre Brough e Yoshima. E atrás de Yoshima estavam Shagata e outro guarda.

23

— Fiquem em pé ao lado de suas camas — ordenou Brough, fisionomia lívida e contraída.

O Rei lançou um olhar assassino a Max, que era o vigia da noite. Max falhara em sua tarefa. Dissera “Tiras”, sem notar os japoneses. Se tivesse dito “Japoneses”, um plano diferente teria sido usado.