Engulo em seco, rezando para não ficar da mesma cor que a pobre Leandra.
— Eu já disse, quero o que você quiser.
Falo com a voz doce, grave, e ele me olha sequioso. Minha deusa interior se derrete. Será que estou preparada para o jogo dele?
Leandra olha de mim para ele e dele para mim. Está praticamente da mesma cor do seu luzidio cabelo ruivo.
— Será que dou mais um tempinho para vocês decidirem?
— Não. Já sabemos o que queremos.
Christian dá um sorrisinho sensual.
— Vamos querer duas porções da panqueca tradicional de leite com maple syrup e bacon à parte, dois copos de suco de laranja, um café preto com leite desnatado e um chá preto, se você tiver — diz Christian, sem tirar os olhos de mim.
— Obrigada, senhor. Mais alguma coisa? — sussurra Leandra, olhando para tudo menos para nós dois.
Olhamos para ela, e ela fica de novo toda vermelha e vai saindo depressa.
— Sabe, isso realmente não é justo.
Olho a mesa de fórmica e sigo com o indicador o desenho, tentando soar displicente.
— O que não é justo?
— Como você desarma as pessoas. As mulheres. A mim.
— Desarmo você?
Sorrio com desdém.
— O tempo todo.
— É só impressão, Anastasia — diz ele afável.
— Não, Christian, é muito mais que isso.
Ele franze a testa.
— Você me desarma totalmente, Srta. Steele. A sua inocência. O fato de ir direto ao ponto.
— Foi por isso que você mudou de ideia?
— Mudei de ideia?
— É... sobre... hã... a gente?
Ele afaga o queixo pensativamente com aqueles dedos habilidosos.
— Acho que não mudei de ideia propriamente. Só precisamos redefinir nossos parâmetros, redesenhar nossas linhas de batalha, se quiser. Podemos fazer isso dar certo, tenho certeza. Quero você submissa no meu quarto de jogos. Vou punir você quando desobedecer às regras. Estas são as minhas exigências, Srta. Steele. O que diz disso?
— Então eu vou dormir com você? Na sua cama?
— É o que você quer?
— É.
— Então concordo. Além do mais, durmo muito bem quando você está na minha cama. Eu não sabia.
Ele fica sério e sua voz some.
— Achei que você me deixaria se eu não concordasse com tudo isso — sussurro.
— Eu não vou a lugar nenhum, Anastasia. Além do mais... — ele deixa a frase inacabada e, depois de pensar um pouco, acrescenta: — estamos seguindo o seu conselho, a sua definição: compromisso. Você me mandou essa definição num e-mail. E, até agora, está dando certo para mim.
— Adoro que você queira mais — murmuro timidamente.
— Eu sei.
— Como sabe?
— Pode confiar em mim. Eu simplesmente sei.
Ele dá um sorrisinho. Está escondendo alguma coisa. O quê?
Nesse momento, Leandra chega com os pratos e nossa conversa termina. Minha barriga ronca, lembrando-me de quão faminta estou. Christian observa com um olhar de aprovação irritante eu devorar a comida toda do prato.
— Posso fazer um convite? — pergunto a Christian.
— Um convite?
— Para esse café da manhã. Deixe que seja por minha conta.
Christian bufa.
— Acho que não — debocha.
— Por favor. Eu quero.
Ele amarra a cara.
— Está tentando me emascular completamente?
— Este talvez seja o único restaurante que vou poder pagar.
— Anastasia, agradeço a intenção. Mesmo. Mas, não.
Contraio os lábios.
— Não fique emburrada — ameaça ele, com um brilho sinistro nos olhos.
* * *
CLARO QUE ELE não me pergunta o endereço de minha mãe. Ele já sabe, perseguidor que é. Quando estaciona em frente à casa, não comento. Para quê?
— Quer entrar? — pergunto timidamente.
— Preciso trabalhar, Anastasia, mas estarei de volta à noite. A que horas?
Não faço caso da inoportuna pontada de decepção. Por que quero passar cada minuto com esse deus do sexo controlador? Ah, sim, eu me apaixonei por ele, e ele sabe voar.
— Obrigada... pelo mais.
— De nada, Anastasia.
Ele me beija, e aspiro aquele seu cheiro sensual.
— Até logo.
— Tente me deter — murmura ele.
Dou adeus enquanto ele sai com o carro para encarar o sol forte da Geórgia. Ainda estou usando o moletom e a cueca dele, e estou muito agasalhada.
Na cozinha, minha mãe está histérica. Não é todo dia que tem que receber um multiziliardário, e está estressada com isso.
— Como você está, querida? — pergunta, e coro porque ela sabe o que eu fiz ontem à noite.
— Tudo bem. Christian me levou para voar de planador hoje de manhã.
Espero que a informação nova a distraia.
— Voar de planador? Tipo num aviãozinho sem motor? É isso?
Faço que sim com a cabeça.
— Nossa.
Ela está sem fala — um conceito novo para minha mãe. Olha para mim boquiaberta, mas acaba se recuperando e retoma a linha de interrogatório original.
— Como foi ontem à noite? Vocês conversaram?
Putz. Fico vermelha como um pimentão.
— A gente conversou, ontem à noite e hoje. Está melhorando.
— Ótimo.
Ela volta a atenção de novo para os quatro livros de culinária que tem abertos na mesa da cozinha.
— Mãe... se quiser, eu faço o jantar.
— Ah, querida, é muita gentileza sua, mas eu quero fazer.
— Tudo bem.
Faço uma careta, sabendo muito bem que a comida de minha mãe nem sempre presta. Talvez ela tenha melhorado desde que se mudou para Savannah com Bob. Houve uma época em que eu não sujeitaria ninguém ao que ela cozinha... nem — quem eu odeio? Ah, sim — a Mrs. Robinson, Elena. Bem, talvez ela. Será que algum dia vou conhecer essa mulher desprezível?
Decido mandar um agradecimento rápido a Christian.
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De: Anastasia Steele
Assunto: Planar, e não pagar
Data: 2 de junho de 2011 10:20 LESTE
Para: Christian Grey
Às vezes você sabe fazer uma moça se divertir.
Obrigada.
Bj, Ana
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De: Christian Grey
Assunto: Planar versus pagar
Data: 2 de junho de 2011 10:24 LESTE
Para: Anastasia Steele
Prefiro fazer as duas coisas a ouvir seu ronco. Também me diverti muito.
Eu sempre me divirto com você.
Christian Grey
CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.
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De: Anastasia Steele
Assunto: Roncar
Data: 2 de junho de 2011 10:26 LESTE
Para: Christian Grey
EU NÃO RONCO. E se roncasse, seria muito grosseiro de sua parte assinalar isso.
Você não é nada cavalheiro, Sr. Grey! E está no Extremo Sul, também!
Ana
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De: Christian Grey
Assunto: Sonilóquio
Data: 2 de junho de 2011 10:28 LESTE
Para: Anastasia Steele
Nunca pretendi ser cavalheiro, Anastasia, e acho que já lhe demonstrei este ponto em várias ocasiões. Não me intimido com suas maiúsculas GRITANTES. Mas confesso uma mentirinha: não, você não ronca, mas fala. E isso é fascinante.
O que aconteceu com meu beijo?
Christian Grey
CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.
Puta merda. Sei que falo dormindo. Kate já me disse isso várias vezes. O que eu disse? Ah, não.