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De: Anastasia Steele
Assunto: Indo para casa
Data: 3 de junho de 2011 12:53 LESTE
Para: Christian Grey
Prezado Sr. Grey,
Mais uma vez, estou acomodada na primeira classe, e lhe agradeço por isso. Estou contando os minutos para vê-lo hoje à noite e talvez conseguir extrair de você sob tortura as minhas confissões noturnas.
Bj,
Sua Ana
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De: Christian Grey
Assunto: Indo para casa
Data: 3 de junho de 2011 9:58
Para: Anastasia Steele
Anastasia, estou ansioso para ver você.
Christian Grey
CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.
Acho estranha a resposta dele. Soa cortada e formal, não aquele seu estilo espirituoso e conciso.
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De: Anastasia Steele
Assunto: Indo para casa
Data: 3 de junho de 2011 13:01 LESTE
Para: Christian Grey
Caríssimo Sr. Grey,
Espero que tudo esteja bem em relação ao “problema”. O tom de seu e-mail é preocupante.
Bj,
Ana
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De: Christian Grey
Assunto: Indo para casa
Data: 3 de junho de 2011 10:04
Para: Anastasia Steele
Anastasia,
O problema poderia estar mais bem encaminhado. Já decolou? Nesse caso, não devia enviar e-mails. Está se arriscando, infringindo a regra que diz respeito à sua segurança pessoal. Falei sério quanto aos castigos.
Christian Grey
CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.
Merda. Tudo bem. O que o está preocupando? Talvez “o problema”? Talvez Taylor tenha se ausentado sem licença, talvez ele tenha perdido alguns milhões na bolsa — pode ser qualquer coisa.
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De: Anastasia Steele
Assunto: Reação exagerada
Data: 3 de junho de 2011 13:06 LESTE
Para: Christian Grey
Caro Sr. Grey,
As portas da aeronave ainda estão abertas. O voo está atrasado, mas apenas dez minutos. Meu bem-estar e o dos passageiros à minha volta estão assegurados. Talvez, por ora, você queira recolher a mão que coça.
Srta. Steele
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De: Christian Grey
Assunto: Desculpas — recolhida a mão que coça
Data: 3 de junho de 2011 10:08
Para: Anastasia Steele
Sinto sua falta e das suas gracinhas, Srta. Steele.
Quero você em segurança em casa.
Christian Grey
CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.
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De: Anastasia Steele
Assunto: Desculpas aceitas
Data: 3 de junho de 2011 13:10 LESTE
Para: Christian Grey
Estão fechando as portas. Você não vai ouvir mais nenhum pio meu, especialmente se considerarmos sua surdez.
Tchau.
Bj,
Ana
Desligo o BlackBerry, sem conseguir me livrar da ansiedade. Há alguma coisa com Christian. Talvez “o problema” tenha fugido ao controle. Recosto-me na poltrona olhando para o bagageiro onde estão guardadas minhas malas. Hoje de manhã consegui, com a ajuda de minha mãe, comprar um presentinho para Christian para agradecer pela primeira classe e pelo voo de planador. Sorrio ao lembrar do voo — foi incrível. Ainda não sei se lhe darei meu presente bobo. Talvez ele o considere infantil. E se ele estiver de mau humor, talvez eu não dê. Estou ansiosa para voltar e ao mesmo tempo apreensiva com o que me espera no fim da viagem. Imaginando todos os cenários que poderiam constituir “o problema”, percebo que, mais uma vez, o único lugar vazio é ao meu lado. Balanço a cabeça quando me ocorre que Christian poderia ter comprado o lugar adjacente para eu não poder falar com ninguém. Rejeito a ideia por achá-la absurda — ninguém poderia ser tão controlador, tão ciumento, com certeza. Fecho os olhos enquanto o avião taxia em direção à pista.
* * *
EMERJO NO TERMINAL de chegadas do Sea-Tac oito horas depois para encontrar Taylor à minha espera segurando um cartaz onde se lê SRTA. A. STEELE. Francamente! Mas é bom vê-lo ali.
— Olá, Taylor.
— Srta. Steele — ele me cumprimenta formalmente, mas vejo o esboço de um sorriso em seus olhos castanhos perspicazes. Está impecável como sempre: terno preto elegante, camisa branca e gravata preta.
— Eu o conheço, Taylor, você não precisa de cartaz, e quero, sim, que me chame de Ana.
— Ana. Posso pegar suas malas, por favor?
— Não. Eu aguento. Obrigada.
Sua boca se contrai de modo perceptível.
— M-mas, você se sentiria melhor se pegasse — gaguejo.
— Obrigado. — Ele pega minha mochila e minha recém-comprada mala de rodinhas para as roupas que minha mãe comprou para mim. — Por aqui, madame.
Suspiro. Ele é muito educado. Eu me lembro, embora queira apagar isso da memória, que este homem comprou lingerie para mim. Na verdade — e a ideia me inquieta —, ele é o único homem que já comprou lingerie para mim. Nem Ray teve de se submeter a esse martírio. Caminhamos em silêncio para o Audi SUV preto no estacionamento do aeroporto, e ele abre a porta. Entro no carro, perguntando-me se escolher uma saia tão curta para usar na viagem de volta à Seattle foi boa ideia. Saia curta era legal e ficava bem na Geórgia. Aqui eu me sinto exposta. Depois que Taylor guarda minha bagagem no porta-malas, partimos para o Escala.
A viagem é lenta no tráfego da hora do rush. Taylor mantém os olhos na estrada à sua frente. Taciturno é um termo que nem começa a descrevê-lo.
Não consigo mais suportar o silêncio.
— Como vai Christian, Taylor?
— O Sr. Grey está preocupado, Srta. Steele.
Ah, deve ser o “problema”. Estou explorando um filão de ouro.
— Preocupado?
— É, madame.
Olho intrigada para Taylor, e ele olha para mim pelo retrovisor, nossos olhos se encontrando. Ele não fala mais. Putz, consegue ser tão fechado quanto o maníaco por controle.
— Ele está bem?
— Acho que sim, madame.
— Você se sente mais à vontade me chamando de Srta. Steele?
— Sim, madame.
— Ah, tudo bem.
Bem, isso limita nossa conversa, e continuamos em silêncio. Começo a pensar que o lapso recente de Taylor, quando me disse que Christian estava infernal, foi uma anomalia. Talvez esteja sem jeito por causa disso, receando ter sido desleal. O silêncio é sufocante.
— Poderia pôr uma música, por favor?
— Claro, madame. O que gostaria de ouvir?
— Algo relaxante.
Vejo um sorriso brincar nos lábios de Taylor quando nossos olhos tornam a se encontrar rapidamente no espelho.
— Sim, madame.
Ele aperta uns botões no volante, e os acordes suaves do Cânon de Pachelbel preenchem o espaço entre nós. Ah, sim... é disso que preciso.
— Obrigada. — Recosto-me enquanto seguimos em uma velocidade constante pela Interestadual 5 até Seattle.
* * *