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— Foi... um assombro.

— Eu sempre quis foder ao som dessa música.

— Outra primeira vez, Sr. Grey?

— Com certeza, Srta. Steele.

Gemo de novo quando seus dedos fazem sua mágica em meus ombros.

— Bem, também é a primeira vez que fodo ao som dessa música — murmuro sonolenta.

— Humm... você e eu estamos sempre tendo primeiras vezes juntos.

Sua voz é sem emoção.

— O que eu disse dormindo, Chris, hã, senhor?

Suas mãos interrompem por um instante o trabalho.

— Você disse um monte de coisas, Anastasia. Falou em jaulas e morangos... que queria mais... e que sentia minha falta.

Ah, graças a Deus por isso.

— Só? — Meu tom de alívio é evidente.

Christian para aquela massagem divina e se deita a meu lado, a cabeça apoiada no cotovelo. Está franzindo as sobrancelhas.

— O que achou que tivesse dito?

Ah, merda.

Que eu achava você feio, presunçoso, e que era um caso perdido na cama.

Ele franze mais as sobrancelhas.

— Bem, naturalmente, sou isso tudo, e agora você me deixou muito intrigado. O que está escondendo de mim, Srta. Steele?

Pisco para ele com inocência.

— Não estou escondendo nada.

— Anastasia, você é uma negação para mentir.

— Pensei que você fosse me fazer rir depois do sexo. Isso não está funcionando.

Ele sorri.

— Não sei contar piada.

— Sr. Grey! Uma coisa que você não sabe fazer?

Rio para ele, e ele ri para mim.

— Não, sou uma negação para contar piada.

Ele parece tão orgulhoso de si que começo a rir.

— Eu também sou uma negação para contar piada.

— Como é bom ouvir isso — murmura ele, e me dá um beijo. — Está me escondendo alguma coisa, Anastasia. Talvez eu tenha que arrancar isso de você sob tortura.

CAPÍTULO VINTE E SEIS

_________________________________________

Acordo com um sobressalto. Penso que acabei de cair escada abaixo num sonho, e me sento depressa, momentaneamente desorientada. Está escuro, e estou sozinha na cama de Christian. Algo me despertou, um pensamento ruim. Olho para o despertador na mesa de cabeceira dele. São cinco da manhã, mas me sinto descansada. Por quê? Ah — é a diferença de fuso horário — são oito da manhã na Geórgia. Puta merda... preciso tomar a pílula. Levanto-me da cama, agradecida por seja lá o que tenha me despertado. Ouço notas ao longe no piano. Christian está tocando. Isso eu preciso ver. Adoro vê-lo tocar. Nua, pego o roupão de banho na cadeira e o visto andando pelo corredor ao som mágico do lamento melódico que vem da sala.

Envolto na escuridão, Christian toca sentado numa bolha de luz, e seu cabelo brilha com reflexos acobreados. Parece nu, embora eu saiba que está com a calça do pijama. Está concentrado, tocando lindamente, absorto na melancolia da música. Hesito, observando-o da penumbra, sem querer interrompê-lo. Quero abraçá-lo. Ele parece perdido, triste até, e dolorosamente só — ou talvez seja apenas a música, impregnada de uma tristeza muito pungente. Ele termina a peça, para por uma fração de segundo, depois repete-a. Vou me encaminhando com cautela para ele, como a mariposa atraída pela chama... a ideia me faz sorrir. Ele ergue os olhos para mim e franze a testa antes de tornar a olhar para as mãos.

Ah, merda, será que ele está puto pelo fato de eu o estar perturbando?

— Você devia estar dormindo — censura num tom afável.

Dá para ver que ele está preocupado com alguma coisa.

— Você também — retruco num tom não tão afável.

Ele torna a erguer os olhos, esboçando um sorriso.

— Está me repreendendo, Srta. Steele?

— Estou sim, Sr. Grey.

— Bem, não consigo dormir.

Ele torna a franzir a testa e vejo em seu rosto um sinal de irritação ou raiva. De mim? Com certeza, não.

Ignoro sua expressão e, numa atitude muito corajosa, sento-me a seu lado no banco do piano, encostando a cabeça em seus ombros nus para observar seus dedos ágeis e habilidosos acariciarem as teclas. Ele faz uma pausa quase imperceptível e depois continua a peça até o fim.

— O que estava tocando? — pergunto baixinho.

— Chopin. “Prelúdio opus vinte e oito, número quatro em mi menor”, se lhe interessar — murmura ele.

— Sempre me interesso pelo que você faz.

Ele se vira e pressiona docemente os lábios em meus cabelos.

— Eu não tinha intenção de acordá-la.

— Não acordou. Toque aquela outra.

— Outra?

— A peça de Bach que tocou na primeira noite em que estive aqui.

— Ah, “Marcello”.

Ele começa a tocar lentamente e com determinação. Sinto o movimento de suas mãos e seus ombros ali encostada nele de olhos fechados. As notas tristes e sentidas se irradiam num compasso lento e melancólico à nossa volta, ecoando nas paredes. É uma peça de uma beleza assombrosa, mais triste ainda que a de Chopin, e me perco na beleza do lamento. Até certo ponto, ela reflete como me sinto. O desejo pungente que tenho de conhecer melhor esse homem, de tentar entender a tristeza dele. Antes do que eu gostaria, a peça termina.

— Por que só toca essas músicas tristes?

Endireito-me no banco e vejo-o encolher os ombros em resposta à minha pergunta com uma expressão desconfiada.

— Então você só tinha seis anos quando começou a tocar? — provoco.

Ele balança a cabeça, com uma expressão mais desconfiada ainda. Passado um instante, fala.

— Eu me dediquei a aprender piano para agradar minha mãe.

— Para se encaixar na família perfeita?

— Sim, por assim dizer — responde evasivo. — Por que está acordada? Não precisa se recuperar dos esforços de ontem?

— São oito da manhã para mim. E preciso tomar a pílula.

Ele ergue as sobrancelhas, surpreso.

— Bem lembrado — murmura, e dá para ver que está impressionado. — Só você começaria a usar uma pílula que tenha hora certa para ser tomada numa região de fuso horário diferente. Talvez deva esperar meia hora e depois mais meia hora amanhã de manhã. Aí, acabará chegando a um horário razoável.

— Ótimo plano — suspiro. — Então o que faremos em meia hora? — pisco inocentemente para ele.

— Posso pensar em algumas coisas.

Ele sorri lascivamente. Olho impassível para ele, com as entranhas derretendo sob seu olhar cúmplice.

— Poderíamos conversar — sugiro calmamente.

Ele fica amuado.

— Prefiro o que tenho em mente.

Ele me põe no colo.

— Você sempre prefere fazer sexo a conversar.

Rio, e me seguro nele para me equilibrar.

— É verdade. Especialmente com você. — Ele esfrega o nariz em meu cabelo e começa a deixar uma trilha de beijos do meu ouvido até meu pescoço. — Talvez no piano — sussurra.

Ai, nossa. Meu corpo todo se contrai diante dessa ideia. Piano. Nossa.

— Quero esclarecer uma coisa — sussurro, enquanto minha pulsação começa a acelerar, e minha deusa interior fecha os olhos, deleitando-se com a sensação dos lábios dele nos meus.

Ele para um pouco antes de prosseguir com aquele ataque sensual.

— Sempre muito ansiosa por informações, Srta. Steele. O que precisa de esclarecimento? — suspira colado em minha nuca, continuando a trilha de beijos doces.

— Nós — sussurro fechando os olhos.

— Hum. O que tem nós?

Ele interrompe os beijos em meu ombro.

— O contrato.

Ele levanta a cabeça para me olhar, a expressão divertida, e suspira, acariciando minha bochecha com a ponta dos dedos.

— Bem, acho que o contrato é irrelevante, você não acha? — Sua voz é grave e rouca, seus olhos, meigos.