— Irrelevante?
— Irrelevante.
Ele sorri. Olho para ele curiosa.
— Mas você estava tão entusiasmado.
— Bem, isso foi antes. Enfim, as Regras não são irrelevantes, ainda estão de pé.
Sua expressão fica ligeiramente mais dura.
— Antes? Antes de quê?
— Antes do... — Ele para, e a expressão desconfiada volta. — Mais. — Encolhe os ombros.
— Ah.
— Além disso, já estivemos duas vezes no quarto de jogos, e você não fugiu gritando.
— Esperava que eu fugisse?
— Nada que você faz é esperado, Anastasia — diz ele secamente.
— Então vou ser clara. Você só quer que eu siga a parte das Regras do contrato o tempo todo mas não o restante do contrato?
— Menos no quarto de jogos. Quero que siga o espírito do contrato no quarto de jogos, e sim, quero que você siga as Regras, o tempo todo. Então saberei que estará segura, e eu poderei ter você sempre que quiser.
— E se eu infringir uma das Regras?
— Aí eu vou puni-la.
— Mas não vai precisar da minha permissão?
— Vou, sim.
— E se eu não der?
Ele me olha um instante, com uma expressão confusa.
— Se você não der, vou ter que encontrar um jeito de persuadi-la.
Eu me afasto dele e me levanto. Preciso me distanciar. Ele fecha a cara e olha para mim. Parece intrigado e desconfiado de novo.
— Então o lado da punição permanece.
— Sim, mas só se você infringir as Regras.
— Vou precisar relê-las — digo, tentando recordar o detalhe.
— Vou buscá-las para você.
O tom dele de repente fica profissional.
Puxa. O assunto ficou sério muito depressa. Ele se levanta do piano e vai num passo ágil até o escritório. Meu couro cabeludo comicha. Preciso de um chá. O futuro de nossa assim chamada relação está sendo discutido às cinco e quarenta e cinco da manhã quando ele está preocupado com outra coisa — será que isso é prudente? Vou para a cozinha, que continua às escuras. Cadê os interruptores de luz? Encontro-os, acendo-os, e ponho água na chaleira. Minha pílula! Procuro dentro da bolsa, que deixei no balcão da cozinha, e logo encontro a caixa. Um gole e pronto. Quando termino, Christian está de volta, sentado num dos bancos, observando-me com atenção.
— Aqui está.
Ele empurra uma folha impressa na minha direção, e vejo que riscou umas coisas.
REGRAS
Obediência:
A Submissa obedecerá a quaisquer instruções dadas pelo Dominador imediatamente, sem hesitação ou reserva, e com presteza. A Submissa concordará com qualquer atividade sexual que o Dominador julgar adequada e prazerosa salvo aquelas atividades que estão resumidas em limites rígidos (Apêndice 2). Ela fará isso avidamente e sem hesitação.
Sono:
A Submissa assegurará alcançar um mínimo de sete horas de sono por noite quando não estiver com o Dominador.
Alimentação:
Roupas:
Durante a Vigência, a Submissa só usará roupas aprovadas pelo Dominador. O Dominador fornecerá à Submissa um orçamento para o vestuário, que a Submissa deverá usar. O Dominador acompanhará ad hoc a Submissa nas compras de vestuário. Se o Dominador solicitar, a Submissa usará, durante a Vigência deste contrato, quaisquer adornos solicitados pelo Dominador, na presença do Dominador e em qualquer outra hora que o Dominador julgar adequado.
Exercícios:
O Dominador fornecerá à Submissa um personal trainer para sessões de uma hora de exercícios,
Higiene pessoal/Beleza:
A Submissa se manterá sempre limpa e com os pelos raspados e/ou depilados. A Submissa visitará um salão de beleza à escolha do Dominador com frequência a ser decidida pelo Dominador e se submeterá a tratamentos que o Dominador julgar adequados.
Segurança pessoaclass="underline"
A Submissa não se excederá na bebida, não fumará, não fará uso de drogas recreativas nem se colocará desnecessariamente em qualquer situação de risco.
Qualidades pessoais:
A Submissa não se envolverá em quaisquer relações sexuais com qualquer outra pessoa senão o Dominador. A Submissa se conduzirá sempre de forma respeitosa e recatada. Ela deve reconhecer que seu comportamento se reflete diretamente no Dominador. Ela será responsabilizada por quaisquer crimes, delitos e má conduta incorridos quando não na presença do Dominador.
O não cumprimento de quaisquer das regras acima resultará em punição imediata, cuja natureza será determinada pelo Dominador.
— Então o negócio da obediência continua de pé?
— Sim. — Ele sorri.
Balanço a cabeça, achando graça, e, antes que eu me dê conta, reviro os olhos para ele.
— Você revirou os olhos para mim, Anastasia? — sussurra ele.
Ai, porra.
— É possível, depende de qual seja sua reação.
— A mesma de sempre — diz ele, balançando a cabeça, os olhos acesos.
Engulo em seco instintivamente e um estremecimento de excitação me percorre.
— Então... — Puta merda. O que vou fazer?
— Sim? — Ele passa a língua no lábio inferior.
— Quer me bater agora?
— Quero. E vou.
— Ah, é mesmo, Sr. Grey? — desafio, rindo para ele. É um jogo a dois.
— Vai me impedir?
— Primeiro você vai ter que me pegar.
Ele arregala os olhos um pouquinho e sorri, levantando-se devagar.
— Ah, é mesmo, Srta. Steele?
O balcão da cozinha está entre nós. Nunca agradeci tanto a sua existência quanto neste momento.
— E você está mordendo o lábio — suspira ele, chegando devagarinho para a sua esquerda enquanto chego para a minha.
— Você não faria isso — provoco. — Afinal, você revira os olhos.
Tento raciocinar com ele. Ele continua a chegar para sua esquerda, como eu.
— Sim, mas você acaba de estabelecer um padrão de excitação mais alto com esse jogo. — Seus olhos ardem, sôfregos.
— Sou muito ágil, você sabe. — Experimento demonstrar displicência.
— Eu também.
Ele está me perseguindo em sua própria cozinha.
— Você vem caladinha? — pergunta ele.
— Vou?
— Srta. Steele, como assim? — Ele dá uma risadinha. — Vai ser pior para você se eu tiver que ir pegá-la.
— Só se você me pegar, Christian. E, no momento, não pretendo deixar você fazer isso.
— Anastasia, você pode cair e se machucar. E com isso vai estar infringindo a regra número sete, agora, seis.
— Ando em perigo desde que conheci você, Sr. Grey, com ou sem regras.
— Sim, é verdade.
Ele para, e fecha a cara.
De repente, avança sobre mim, fazendo-me gritar e correr para a mesa da sala de jantar. Consigo fugir, colocando a mesa entre nós. Meu coração está disparado e já senti uma descarga de adrenalina... puxa... isso é emocionante. Voltei a ser criança, embora isso não esteja certo. Observo-o com cautela vir andando decidido para mim. Vou me afastando aos poucos.
— Você sabe mesmo distrair um homem, Anastasia.
— Nosso objetivo é satisfazer, Sr. Grey. Distraí-lo de quê?
— Da vida. Do universo. — Ele faz um gesto vago com uma das mãos.