— Você pareceu, sim, muito preocupado quando estava brincando.
Ele para e cruza os braços, a expressão divertida.
— Podemos passar o dia inteiro fazendo isso, baby, mas eu vou pegá-la, e simplesmente vai ser pior para você quando isso acontecer.
— Você não me pega, não.
Não posso ser excessivamente confiante. Repito isso como um mantra. Meu inconsciente achou os tênis, e está em posição de largada.
— Qualquer pessoa acharia que você não quer que eu te pegue.
— Eu não quero. A questão é essa. Sinto-me em relação à punição do mesmo jeito que se sente ao ser tocado por mim.
A atitude dele muda numa fração de segundo. O Christian brincalhão desaparece, e ele fica olhando para mim como se eu o tivesse esbofeteado. Está lívido.
— É esse o seu sentimento? — sussurra ele.
Essas cinco palavras, e a forma como ele as pronuncia, dizem muito.
Ah, não. Elas me dizem muito mais sobre ele e sobre como ele se sente. Falam do seu medo e de sua aversão. Franzo as sobrancelhas. Não, o que eu sinto não é tão forte. De jeito nenhum. É?
— Não. Isso não me afeta tanto, mas dá uma ideia — murmuro, fitando-o com ansiedade.
— Ah — diz ele.
Merda. Ele parece completa e absolutamente perdido, como se eu tivesse puxado o tapete de debaixo dos pés.
Respirando fundo, dou a volta na mesa até estar parada na frente dele, fitando seus olhos apreensivos.
— Você odeia tanto isso? — suspira ele, horrorizado.
— Bem... não — tranquilizo-o. Nossa, é isso que ele sente em relação a ser tocado? — Não. Tenho um sentimento ambivalente em relação a isso. Não gosto, mas não odeio.
— Mas ontem à noite, no quarto de jogos, você...
— Faço isso por você, Christian, porque você precisa. Eu não. Você não me machucou ontem à noite. Aquilo foi num contexto diferente, e consigo racionalizar isso internamente, e confio em você. Mas quando você quer me punir, fico com medo de que me machuque.
Seus olhos escurecem como uma tempestade turbulenta. Passa um bom tempo até ele responder docemente.
— Quero machucar você. Mas não além do que você é capaz de aguentar.
Porra!
— Por quê?
Ele passa a mão pelo cabelo, e dá de ombros.
— Eu simplesmente preciso disso. — Faz uma pausa, olhando angustiado para mim, fecha os olhos e balança a cabeça. — Não sei dizer.
— Não sabe ou não quer?
— Não quero.
— Então sabe por quê.
— Sei.
— Mas não quer me dizer.
— Se eu disser, você vai sair correndo dessa sala para nunca mais voltar. — Ele me olha desconfiado. — Não posso correr esse risco, Anastasia.
— Quer que eu fique?
— Mais do que você pensa. Eu não suportaria perdê-la.
Nossa.
Ele me olha, e, de repente, me puxa para seus braços e está me beijando, beijando-me com paixão. Isso me pega completamente desprevenida, e sinto seu pânico e sua carência desesperada naquele beijo.
— Não me deixe. Dormindo, você disse que não me deixaria, e me implorou para que eu não a deixasse — murmura ele em meus lábios.
Ah... as minhas confissões noturnas.
— Eu não quero ir embora.
E fico com o coração apertado, virado pelo avesso.
Este é um homem carente. Seu medo é óbvio, mas ele está perdido... em algum lugar em sua escuridão. Seus olhos estão arregalados, tristes e torturados. Posso tranquilizá-lo, juntando-me a ele por um instante na escuridão e trazê-lo para a luz.
— Mostre — sussurro.
— Mostrar?
— Mostre o quanto isso pode doer.
— O quê?
— A punição. Quero saber até que ponto pode ser doloroso.
Christian recua, completamente confuso.
— Você experimentaria?
— Sim. Eu disse que experimentaria.
Mas tenho outro motivo. Se eu fizer isso por ele, talvez ele me deixe tocá-lo.
Ele pisca.
— Ana, você é muito confusa.
— Eu estou confusa. Estou tentando entender. E você vai saber, de uma vez por todas, se eu consigo fazer isso. Se eu conseguir lidar com isso, então talvez você...
As palavras me faltam, e seus olhos tornam a se arregalar. Ele sabe que estou me referindo à questão do toque. Por um momento, ele parece dilacerado, mas depois uma determinação ferrenha se instala em suas feições, e ele aperta os olhos, olhando-me com curiosidade, como se estivesse ponderando alternativas.
Bruscamente, ele me segura firme pelo braço, e sobe comigo para o quarto de jogos. Prazer e dor, recompensa e punição — suas palavras de muito tempo atrás ecoam em minha mente.
— Vou mostrar o quanto pode machucar — e você pode tomar sua decisão. — Ele para ao lado da porta. — Está preparada?
Balanço a cabeça, já decidida, e fico vagamente atordoada, sentindo o sangue me fugir do rosto.
Ele abre a porta e, ainda segurando meu braço, pega o que parece um cinto da estante ao lado da porta, depois me leva para o banco de couro vermelho na outra ponta do quarto.
— Debruce no banco — murmura com doçura.
Tudo bem, dá para eu fazer isso. Debruço-me no couro liso e macio. Ele me deixou de roupão. Numa parte sossegada do meu cérebro, estou vagamente surpresa por ele não ter me obrigado a despi-lo. Puta merda, isso vai doer... eu sei.
— Estamos aqui porque você disse sim, Anastasia. E fugiu de mim. Vou bater seis vezes, e você vai contar comigo.
Por que ele simplesmente não bate logo? Ele sempre complica tanto a ação de me punir. Reviro os olhos, sabendo perfeitamente bem que ele não me vê.
Ele levanta a barra do meu roupão, e, por alguma razão, isso dá uma sensação de intimidade maior do que a nudez. Acaricia delicadamente minha bunda, passando as mãos quentes nas duas nádegas e descendo até o alto das coxas.
— Estou fazendo isso para você se lembrar de não fugir de mim, e, por mais excitante que isso seja, eu não quero nunca que você fuja de mim — sussurra ele.
E não deixo de perceber a ironia. Eu estava fugindo para evitar isso. Se ele tivesse aberto os braços, eu teria corrido para ele, não dele.
— E você revirou os olhos para mim. Você sabe o que eu acho disso.
De repente, aquele tom aflito e assustado em sua voz desaparece. Ele voltou de onde quer que tenha estado. Ouço isso em sua voz, no jeito que ele põe os dedos nas minhas costas, me segurando — e o clima no quarto muda.
Fecho os olhos, preparando-me para o golpe. Ele vem com força, batendo no meu traseiro, e o impacto da correada é tudo que eu temia. Grito automaticamente e aspiro uma enorme tragada de ar.
— Conte, Anastasia — ordena ele.
— Um! — grito para ele, e a palavra soa como um expletivo.
Ele torna a me bater, e a dor lateja e ecoa ao longo da correada. Puta merda... isso arde.
— Dois! — grito.
A sensação de gritar é muito boa.
A respiração dele está ofegante e áspera, e a minha é quase inexistente enquanto tento me concentrar para encontrar um pouco de força mental. Levo mais uma correada.
— Três!
As lágrimas brotam em meus olhos, inoportunas. Isso é pior do que eu pensava, muito pior do que espancamento. Ele não está pegando leve.
— Quatro! — grito, e a correia torna a estalar, e agora as lágrimas me escorrem pelo rosto.
Não quero chorar. Fico com raiva de estar chorando. Ele me bate de novo.
— Cinco!
Minha voz é mais um soluço engasgado, estrangulado, e, neste momento, penso que o odeio. Mais uma, não aguento mais. Meu traseiro está pegando fogo.
— Seis — sussurro, sentindo de novo na pele a dor abrasadora, e escuto-o largar a correia atrás de mim, e ele está me puxando para seus braços, todo ofegante e compassivo... e eu não quero nada com ele.