— Solte-me... não...
E me dou conta de que estou me debatendo para me desvencilhar dele, empurrando-o. Lutando com ele.
— Não me toque! — sibilo.
Endireito-me e olho para ele, e ele está me observando como se eu pudesse sair correndo, olhos arregalados, desconcertado. Limpo as lágrimas com as costas da mão, irritada, fuzilando-o com os olhos.
— É disso que você realmente gosta? De mim, assim? — Uso a manga do roupão para secar o nariz.
Ele me olha desconfiado.
— Bem, você é um filho da puta.
— Ana — apela ele, chocado.
— Não se atreva a apelar para mim! Você precisa se resolver, Grey!
E, com isso, dou meia-volta com firmeza e saio do quarto de jogos, fechando a porta calmamente ao passar.
Segurando a maçaneta, fico um instante encostada na porta atrás de mim. Aonde ir? Será que fujo? Será que fico? Estou muito furiosa, lágrimas escaldantes me escorrem pelo rosto, e eu as afasto com um gesto violento. Só quero ficar encolhida. Ficar encolhida e me recuperar de algum modo. Recompor minha fé abalada. Como pude ser tão idiota? Claro que isso dói.
Timidamente, esfrego minha bunda. Aah! Está doendo. Aonde ir? Não para o quarto dele. Para o meu quarto, ou para o quarto que será meu, não, é meu... era meu. Era por isso que ele queria que eu ficasse com esse quarto. Ele sabia que eu precisaria ficar longe dele.
Corro para lá toda rígida, consciente de que Christian pode me seguir. Ainda está escuro no quarto, a aurora é apenas um fiapo no horizonte. Ajeito-me desajeitada na cama, tomando cuidado para não me sentar sobre a parte dolorida. Não tiro o roupão e me enrolo nele, encolhida, e desabo — soluçando violentamente no travesseiro.
O que eu estava pensando? Por que deixei que ele fizesse isso comigo? Eu queria o lado escuro, explorar quão ruim poderia ser — mas é muito escuro para mim. Não posso fazer isso. No entanto, é o que ele faz. É assim que ele tem prazer.
Que toque monumental para me acordar. E, para ser justa com ele, ele me avisou várias vezes. Ele não é normal. Tem carências que não posso satisfazer. Vejo isso agora. Não quero que torne a me bater assim, jamais. Penso nas duas vezes em que me bateu, e em quão afável foi comigo em comparação a hoje. Será que isso lhe basta? Soluço com mais força no travesseiro. Vou perdê-lo. Ele não vai querer estar comigo se eu não lhe der isso. Por que, por que, por que me apaixonei por ele? Por quê? Por que não posso amar José, ou Paul Clayton, ou alguém feito eu?
Ah, o olhar desconsolado dele quando fui embora. Fui muito cruel, chocada com a selvageria... será que ele vai me perdoar?... será que eu vou perdoá-lo? Meus pensamentos estão todos malucos e confusos, ecoando e ricocheteando no interior do meu crânio. Meu inconsciente balança a cabeça, e minha deusa interior sumiu. Ah, esta é uma manhã de alma negra para mim. Estou só. Quero minha mãe. Eu me lembro de suas palavras de despedida no aeroporto.
Faça o que seu coração mandar, querida, e, por favor, por favor, tente não pensar demais. Relaxe e aproveite a vida. Você é muito jovem, querida. Ainda tem muito que viver, simplesmente deixe rolar. Você merece o melhor de tudo.
Fiz, sim, o que meu coração mandou, e fiquei com a bunda doendo e o espírito abatido por causa disso. Tenho que ir. Chega... Tenho que ir embora. Ele não serve para mim, e eu não sirvo para ele. Como podemos fazer isso dar certo? E a ideia de não tornar a vê-lo praticamente me sufoca... meu Cinquenta Tons.
Ouço a porta abrir. Ah não — ele está aqui. Ele põe uma coisa na mesa de cabeceira, e sinto a cama mexer com seu peso quando ele se deita atrás de mim.
— Quieta — suspira, e quero me afastar dele, chegar para o outro lado da cama, mas estou paralisada. Não consigo me mexer e fico ali, rígida, inflexível. — Não brigue comigo, Ana, por favor — diz docemente, puxando-me para seus braços, enterrando o nariz no meu cabelo, beijando-me o pescoço. — Não me odeie — diz baixinho, colado em mim, a voz tristíssima. Sinto outra vez um aperto no coração e desabafo com uma onda de soluços mudos. Ele continua me dando beijos ternos, mas eu continuo alheia e ressabiada.
Ficamos séculos deitados assim sem dizer palavra. Ele se limita a me abraçar, e, aos pouquinhos, vou relaxando e paro de chorar. A aurora chega e vai embora, e a luminosidade suave vai aumentando à medida que amanhece, e continuamos ali calados.
— Trouxe um Advil e um creme de arnica para você — diz ele muito tempo depois.
Viro-me muito devagar para ficar de frente para ele. Estou com a cabeça deitada em seu braço. Seu olhar duro é cauteloso.
Olho para aquele rosto lindo. Ele não está revelando nada, mas continua me fitando, sem piscar. Ah, ele é tão impressionantemente lindo... Em pouquíssimo tempo, tornou-se uma pessoa tão querida para mim. Levanto o braço para afagar seu rosto, passando as pontas dos dedos naquela barba por fazer. Ele fecha os olhos e solta a respiração.
— Eu sinto muito — murmuro.
Ele abre os olhos e me olha intrigado.
— Por quê?
— Pelo que eu disse.
— Você não me disse nada que eu não soubesse. — E seu olhar aliviado fica mais suave. — Sinto muito por ter machucado você.
Encolho os ombros.
— Eu pedi.
E agora sei. Engulo em seco. Lá vai. Preciso dizer a minha parte.
— Acho que não posso ser tudo que você quer que eu seja.
Ele arregala os olhos e pisca, de novo com aquele olhar ressabiado.
— Você é tudo que eu quero que seja.
O quê?
— Não entendo. Eu não sou obediente e você pode ter certeza que não vou deixar você fazer aquilo comigo de novo. E é disso que você precisa, você disse.
Ele torna a fechar os olhos, e vejo milhares de emoções passando pelo seu rosto. Quando os abre, sua expressão é de desalento. Ah, não.
— Tem razão. Eu devo deixar você ir embora. Não sirvo para você.
Meu couro cabeludo comicha e fico toda arrepiada, e o mundo me foge, deixando um abismo imenso à minha frente para eu cair. Ah, não.
— Não quero ir — sussurro.
Porra, é isso aí. Dá ou desce. Mais uma vez, meus olhos ficam marejados.
— Também não quero que vá — sussurra ele, a voz rouca. Afaga meu rosto com doçura e limpa uma lágrima com o polegar. — Fiquei cheio de vida desde que conheci você.
Seu polegar traça o contorno do meu lábio inferior.
— Eu também — sussurro. — Eu me apaixonei por você, Christian.
Ele torna a arregalar os olhos, mas, agora, de puro e autêntico medo.
— Não — sussurra ele como se eu tivesse lhe dado um soco.
Ah, não.
— Você não pode me amar, Ana. Não... é um erro.
Ele está apavorado.
— Errado? Errado por quê?
— Bem, olha só pra você. Não posso fazer você feliz.
A voz dele é angustiada.
— Mas você me faz feliz.
Fico séria.
— Não no momento, não fazendo o que quero fazer.
Puta merda. É isso aí mesmo. Tudo se resume a isso — incompatibilidade — e penso em todas aquelas pobres submissas.
— A gente nunca vai superar isso, não é? — pergunto, apavorada.
Ele balança a cabeça, desanimado. Fecho os olhos. Não aguento olhar para ele.
— Bem... é melhor eu ir, então — murmuro, fazendo uma careta ao me sentar na cama.
— Não, não vá.
Ele parece em pânico.
— Não adianta eu ficar.
De repente, sinto-me cansada, cansadíssima mesmo, e quero ir embora já. Levanto da cama, e Christian me acompanha.
— Vou me vestir. Gostaria de um pouco de privacidade — digo, num tom monótono e vazio ao deixá-lo em pé ali no quarto.