Caio na cama, de sapato e tudo, e dou um grito de tristeza. A dor é indescritível... física, mental... metafísica... está em tudo, vai se entranhando em minha medula. Tristeza. Isso é tristeza — e fui eu mesma que busquei. Lá bem no meu íntimo, um pensamento desagradável vem da minha deusa interior, com aquele seu sorrisinho debochado... a dor física provocada por uma correada não é nada comparada a essa desolação. Fico encolhida ali, segurando com desespero o balão murcho e o lenço de Taylor, e me entrego à minha dor.
Sobre a autora
© Michael Lionstar
E L JAMES é ex-executiva de TV e mora em Londres. Casada e com dois filhos, desde pequena sonhava em escrever histórias pelas quais os leitores se apaixonassem, mas adiou esse sonho para se concentrar na família e na carreira. Quando finalmente arranjou coragem para escrever, pôs no papel seu primeiro romance, Cinquenta tons de cinza. Na sequência, publicou os outros dois livros da série, Cinquenta tons mais escuros e Cinquenta tons de liberdade, completando a trilogia que se tornou o maior fenômeno editorial dos últimos anos.
Conheça os livros da autora
Cinquenta tons
de cinza
Cinquenta tons
mais escuros
Cinquenta tons
de liberdade
NÃO PERCA A IRRESISTÍVEL SEQUÊNCIA
DE CINQUENTA TONS DE CINZA
Cinquenta
tons mais
escuros
CAPÍTULO UM
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Sobrevivi ao terceiro dia pós-Christian, e ao primeiro dia de trabalho. Tem sido uma distração bem-vinda. O tempo voou numa névoa de rostos novos, trabalho a fazer e a presença do Sr. Jack Hyde. O Sr. Jack Hyde... ele sorri para mim, os olhos azuis cintilantes, e se recosta contra minha mesa.
— Bom trabalho, Ana. Acho que vamos formar um belo time.
De alguma forma, dou um jeito de curvar os lábios para cima num arremedo de sorriso.
— Acho que já vou indo, se estiver tudo bem por você — murmuro.
— Claro, são cinco e meia. Vejo você amanhã.
— Boa noite, Jack.
— Boa noite, Ana.
Pego minha bolsa, enfio-me no casaco e caminho até a porta. Lá fora, no ar do início de noite de Seattle, respiro fundo. Ele não chega nem perto de encher o vazio em meu peito, um vazio que tem estado ali desde a manhã de sábado, um lembrete oco e doloroso de minha perda. Caminho de cabeça baixa em direção ao ponto de ônibus, olhando os pés e contemplando a vida sem meu amado Wanda, meu Fusca antigo... ou sem o Audi.
Imediatamente bloqueio esses pensamentos. Não. Não pense nele. É claro que posso comprar um carro — um belo carro novo. Suspeito que ele tenha sido generoso demais no pagamento, e a ideia deixa um gosto amargo em minha boca, mas eu a afasto e tento manter a cabeça tão vazia e entorpecida quanto possível. Não posso pensar nele. Não quero começar a chorar de novo, não na rua.
O apartamento está vazio. Tenho saudade de Kate, e a imagino deitada numa praia em Barbados, tomando um coquetel. Ligo a tevê de tela plana para que o ruído preencha o vazio e proporcione uma sensação de companhia, mas não a escuto, nem olho para ela. Sento e encaro a parede de tijolos com um olhar vazio. Estou apática. Não sinto nada além de dor. Por quanto tempo vou suportar isso?
A campainha me acorda da prostração, e meu coração dispara. Quem será? Atendo o interfone.
— Entrega para a Srta. Steele — responde uma voz entediada e distante, e a decepção me atinge em cheio.
Entorpecida, desço até o térreo e vejo um jovem recostado contra a porta da frente, mascando ruidosamente um chiclete e segurando uma grande caixa de papelão. Assino para receber o pacote e subo com ele. A caixa é enorme e surpreendentemente leve. Dentro dela, duas dúzias de rosas brancas de caule comprido e um cartão.
Parabéns pelo primeiro dia no novo trabalho.
Espero que tudo tenha corrido bem.
E obrigado pelo planador. Foi muito gentil da sua parte.
Reservei um lugar especial para ele em minha mesa.
Christian
Encaro o cartão digitado, o buraco em meu peito se expandindo. Sem dúvida foi enviado pelo assistente. Christian provavelmente não tem nada a ver com isso. É doloroso demais pensar a respeito. Examino as rosas — são lindas, não consigo jogá-las no lixo. Obediente, vou até a cozinha procurar um vaso.
* * *
E ASSIM UM PADRÃO se estabelece: acordar, trabalhar, chorar, dormir. Bem, tentar dormir. Não consigo fugir dele nem em meus sonhos. Os olhos ardentes de Grey, seu olhar perdido, o cabelo e brilhoso me perseguem. E a música... tanta música. Não suporto ouvir música alguma. Tenho o cuidado de evitar a todo custo. Mesmo os jingles em comerciais de tevê me deixam trêmula.
Não falei com ninguém, nem mesmo minha mãe ou Ray. Não estou com cabeça para conversa fiada agora. Não, não quero nada disso. Eu me tornei minha própria ilha. Uma terra destruída e devastada onde nada cresce e os horizontes são sombrios. Sim, essa sou eu. Sou capaz de interagir no trabalho, mas é só. Se eu conversar com minha mãe, sei que vou me machucar ainda mais e não tenho mais onde me machucar.
* * *
TENHO TIDO DIFICULDADE de comer. No almoço de quarta, consegui tomar um copo de iogurte, a primeira coisa que comi desde sexta-feira. Estou sobrevivendo numa recém-descoberta tolerância a café com leite e Coca Diet. É a cafeína que me faz seguir em frente, mas isso está me deixando ansiosa.
Jack começou a pairar sobre mim, ele me irrita, fazendo perguntas pessoais. O que ele quer? Sou educada, mas preciso mantê-lo a distância.
Eu me sento lá e fico vasculhando a pilha de cartas endereçadas a ele, a distração do trabalho servil me satisfaz. Meu e-mail pisca, e rapidamente verifico quem é.
Puta merda. Um e-mail de Christian. Ah não, aqui não... não no trabalho.
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De: Christian Grey
Assunto: Amanhã
Data: 8 de junho de 2011 14:05
Para: Anastasia Steele
Querida Anastasia,
Desculpe essa intromissão em seu trabalho. Espero que ele esteja correndo bem. Você recebeu minhas flores?
Queria lembrar que amanhã é a noite de estreia da exposição do seu amigo. Tenho certeza de que você não teve tempo de comprar um carro, e a viagem é longa. Eu ficaria mais que feliz em levá-la — se você quiser.
Avise-me.
Christian Grey
CEO, Grey Enterprises Holdings Inc.
Lágrimas enchem meus olhos. Deixo minha mesa apressada e corro até uma das cabines do banheiro. A exposição do José. Merda. Eu tinha esquecido completamente. E eu prometi a ele que iria. Merda, Christian tem razão; como vou chegar lá?
Pressiono minhas têmporas. Por que o José não me ligou? Agora que penso no assunto, por que ninguém me ligou? Tenho andado tão distraída, nem reparei que meu celular não tem tocado.
Merda! Que idiota! As ligações ainda estão sendo desviadas para o BlackBerry. Que inferno. Christian está recebendo todas as minhas chamadas — a menos que tenha jogado o BlackBerry fora. Como ele conseguiu meu e-mail?