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Minha boca fica seca. Ele está lindo, só que está fazendo cara feia para mim. Por quê?

— Quando foi a última vez que você comeu? — pergunta, assim que Taylor fecha a porta atrás de mim.

Merda.

— Oi, Christian. Bom ver você também.

— Nada de bancar a espertinha. Responda.

Seus olhos estão em chamas.

Puta merda.

— Hum... Comi um iogurte na hora do almoço. Ah, e uma banana.

— Quando foi a última vez que você fez uma refeição de verdade? — pergunta ele friamente.

Taylor se senta no banco do motorista, liga o carro e começa a dirigir.

Olho para fora e Jack está acenando para mim, embora eu não tenha ideia de como ele consegue me ver através dos vidros escuros. Aceno de volta.

— Quem é? — pergunta Christian.

— Meu chefe. — Dou uma olhada de relance no belo homem a meu lado, e seus lábios estão sérios, pressionados numa linha rígida.

— E então? Sua última refeição?

— Christian, isso não é da sua conta — murmuro, sentindo-me surpreendentemente corajosa.

— O que quer que você faça é da minha conta. Fale logo.

Não, não é. Solto um gemido de frustração, revirando os olhos para cima. Christian faz uma cara feia. E pela primeira vez em muito tempo, tenho vontade de rir. Esforço-me para sufocar o riso que ameaça brotar em mim. Christian suaviza o rosto, e tento manter uma expressão séria; vejo um esboço de um sorriso roçar de leve os lábios maravilhosamente esculpidos.

— E então? — pergunta ele num tom mais suave.

Pasta alla vongole, sexta passada — sussurro.

Ele fecha os olhos; raiva e arrependimento, quem sabe, tomam conta de seu rosto.

— Entendo — diz ele, a voz inexpressiva. — Parece que, desde então, você perdeu pelo menos uns dois quilos, talvez mais. Por favor, Anastasia, volte a comer — ele me repreende.

Olho para baixo, para os dedos entrelaçados em meu colo. Por que ele sempre me faz me sentir feito uma criança insolente?

Ele se ajeita no banco do carro, virando-se para mim.

— Como você está? — pergunta, a voz ainda suave.

Bem, eu estou uma merda... Engulo em seco.

— Se dissesse que estou bem, estaria mentindo.

Ele respira fundo.

— Eu também — ele murmura e segura a minha mão. — Sinto sua falta.

Ah, não. Pele contra pele.

— Christian, eu...

— Ana, por favor. Nós precisamos conversar.

Eu vou chorar. Não.

— Christian, eu... por favor... Eu chorei muito — sussurro, tentando manter minhas emoções sob controle.

— Ah, baby, não — ele puxa minha mão, e antes que eu me dê conta, estou em seu colo. Ele passa os braços ao meu redor, seu nariz está em meu cabelo. — Tenho sentido tanto a sua falta, Anastasia — ele suspira.

Quero me soltar de seu abraço, manter a distância, mas os braços dele me envolvem. Ele me aperta contra o peito. Eu me derreto. Ah, é aqui que quero estar.

Descanso a cabeça nele, e ele beija meus cabelos várias vezes. Sinto-me em casa. Ele cheira a amaciante de roupas, loção de banho e, meu cheiro favorito, Christian. Por um momento, deixo-me iludir que tudo vai ficar bem, e isso alivia minha alma devastada.

Alguns minutos depois, Taylor encosta o carro no meio-fio, embora ainda estejamos dentro da cidade.

— Vamos — Christian me tira de seu colo —, chegamos.

O quê?

— Heliporto, no alto deste edifício — Christian lança um olhar de explicação em direção ao prédio.

Claro. Charlie Tango. Taylor abre a porta e eu salto do carro. Ele me lança um sorriso acolhedor e paternal que me transmite segurança. Sorrio de volta.

— Eu precisava devolver seu lenço.

— Fique com ele, Srta. Steele, com meus melhores cumprimentos.

Fico vermelha à medida que Christian dá a volta no carro e pega minha mão. Ele olha curioso para Taylor, que o olha de volta impassível, sem revelar nada.

— Nove? — pergunta Christian.

— Sim, senhor.

Christian acena com a cabeça, vira-se e me conduz pelas portas duplas até o suntuoso saguão. Eu me deleito ao sentir a mão grande e os dedos longos e habilidosos entrelaçados aos meus. Sinto o puxão familiar — sou atraída como Ícaro é atraído por seu Sol. Eu já me queimei antes, e ainda assim aqui estou de novo.

Chegamos aos elevadores, e ele aperta o botão. Dou uma olhada nele, que está exibindo seu meio-sorriso enigmático. Quando as portas se abrem, solta minha mão e me conduz para dentro.

As portas se fecham, e arrisco uma segunda olhadela. Ele me olha de volta, os olhos cinzentos vivos, e lá está de novo, no ar entre nós, aquela mesma eletricidade. Chega a ser palpável. Quase posso senti-la, pulsando entre nós, nos atraindo um para o outro.

— Meu Deus... — arquejo, deleitando-me na intensidade dessa atração visceral e primitiva.

— Também posso sentir — diz ele, o olhar soturno e intenso.

O desejo se concentra, sombrio e mortal, em minha virilha. Ele aperta minha mão, roça meus dedos com o polegar, e, dentro de mim, todos os músculos se enrijecem deliciosamente.

Como ele ainda pode fazer isso comigo?

— Por favor, Anastasia, não morda o lábio — sussurra.

Levanto o olhar para ele, soltando o lábio. Eu o quero. Aqui, agora, no elevador. Como não poderia?

— Você sabe como me deixa quando faz isso — murmura.

Ah, então ainda posso afetá-lo. Minha deusa interior desperta de sua letargia de cinco dias.

De repente, as portas se abrem, quebrando o feitiço, e estamos no telhado. Está ventando, e, apesar do casaco preto, sinto frio. Christian passa o braço em volta de mim, puxando-me para junto de si, e nós nos apressamos até Charlie Tango, que está no centro do heliporto, as hélices girando lentamente.

Um homem alto, louro, de queixo quadrado e usando um terno escuro salta do helicóptero, abaixa-se e corre em nossa direção. Ele aperta as mãos de Christian e grita por sobre o ruído do motor.

— Tudo pronto, senhor. Ele é todo seu!

— Já fez todas as verificações?

— Sim, senhor.

— Você pode pegá-lo lá pelas oito e meia?

— Sim, senhor.

— Taylor está esperando por você lá embaixo.

— Obrigado, Sr. Grey. Tenha um bom voo até Portland. Senhora — ele me cumprimenta.

Sem soltar minha mão, Christian acena, abaixa-se e me leva até a porta do helicóptero. Uma vez lá dentro, ele prende meu cinto, apertando bem as tiras, e me lança um olhar cúmplice, além de seu sorriso misterioso.

— Isso deve mantê-la segura — murmura. — Tenho que admitir que gosto de ver você presa assim. Não toque em nada.

Fico profundamente vermelha, e ele corre o indicador ao longo de minha bochecha antes de me entregar os fones de ouvido. Eu também queria tocar você, mas você não me deixaria. Faço uma cara feia pra ele. Além do mais, ele apertou tanto as tiras que mal posso me mover.

Ele se senta e afivela o próprio cinto, em seguida, começa a executar as checagens de segurança. É tão competente. Isso é muito sedutor. Ele coloca os fones de ouvido e liga um interruptor, os motores se aceleraram, ensurdecendo-me.

Ele se vira para mim:

— Pronta? — sua voz ecoa pelos fones.

— Pronta.

Ele sorri seu sorriso de menino. Nossa, há quanto tempo não vejo esse sorriso.

— Torre, aqui é Charlie Tango G-GEH, pronto para decolagem, destino Portland, via Aeroporto Internacional de Portland. Por favor, confirme, câmbio.

O controlador de tráfego aéreo responde, emitindo instruções numa voz distante.

— Aqui é a torre, Roger falando; Charlie Tango está liberado.

Christian vira dois botões, segura o manche, e o helicóptero sobe lentamente pelo anoitecer. Seattle e meu estômago caem lá embaixo; há tanto para ver.