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— Ana!

Abrindo caminho entre as pessoas, José vem em minha direção.

Caramba! Ele está de terno. Está bonito, além de radiante. Abraça-me com força. E faço tudo o que posso para não irromper em lágrimas. Meu amigo, meu único amigo agora que Kate não está aqui. Meus olhos se enchem d’água.

— Ana, que bom que você veio — sussurra ele em meu ouvido, em seguida, faz uma pausa e me segura à distância de um braço, encarando-me.

— O que foi?

— Ei, você está bem? Você parece, não sei, estranha. Dios mío, você emagreceu?

Pisco com força, para espantar as lágrimas — merda, ele também.

— Estou bem, José. Estou tão feliz por você. Parabéns pela exposição — minha voz oscila à medida que percebo a preocupação em seu rosto tão familiar, mas tenho que segurar a onda.

— Como você chegou aqui? — pergunta ele.

— Christian me trouxe — digo, apreensiva de uma hora para outra.

— Ah — a expressão no rosto dele desmorona, e ele me solta. — Cadê ele? — seu olhar escurece.

— Foi buscar as bebidas — aponto na direção de Christian com a cabeça e vejo que está conversando com alguém na fila. Ele se vira na minha direção e nossos olhares se cruzam. E naquele breve instante, fico paralisada, encarando o homem absurdamente lindo que me olha de volta com alguma emoção insondável. Seu olhar é quente e me queima por dentro, e ficamos ali, perdidos por um momento, olhando um para o outro.

Deus meu... Esse homem maravilhoso me quer de volta, e, lá no fundo, uma alegria gostosa lentamente se desenrola como uma linda manhã ensolarada.

— Ana! — José me distrai, e sou arrastada de volta para o presente. — Estou muito feliz que você tenha vindo. Mas, ouça, preciso avisar você...

De repente, a Srta. Cabelinho Curto e Batom Vermelho o interrompe.

— José, a jornalista do Portland Printz chegou. Vamos lá? — ela me dá um sorriso educado.

— Isso não é tão legal? Ah, a fama! — Ele sorri, e eu sorrio de volta. Ele está tão feliz. — Falo com você mais tarde, Ana. — Ele beija minha bochecha, e eu o vejo caminhar na direção de uma jovem que está de pé, ao lado de um fotógrafo alto e magro.

As fotografias de José estão por toda parte, e, em alguns casos, ampliadas em telas enormes. Umas em preto e branco, outras a cores. Muitas das paisagens transmitem uma beleza etérea. Uma delas é a foto do entardecer no lago de Vancouver, as nuvens cor-de-rosa se refletem no espelho d’água. De repente, sou transportada pela paz e pela tranquilidade da imagem. É impressionante.

Christian se aproxima, e respiro fundo e engulo em seco, tentando recuperar um pouco do equilíbrio de antes. Ele me entrega a taça de vinho branco.

— Presta? — minha voz soa mais normal.

Ele me olha intrigado.

— O vinho.

— Não. Raramente presta neste tipo de evento. O garoto é bom, não é? — Christian está admirando a foto do lago.

— Por que outro motivo você acha que pedi a ele para fotografar você? — não consigo esconder o orgulho em minha voz. Seus olhos deslizam impassíveis da fotografia para mim.

— Christian Grey? — o fotógrafo do Portland Printz aproxima-se de Christian. — Posso tirar uma foto, senhor?

— Claro — Christian disfarça o mau humor. Dou um passo para trás, mas ele segura minha mão e me puxa para junto de si. O fotógrafo olha para nós dois e não consegue esconder a surpresa.

— Obrigado, Sr. Grey — ele tira duas fotos. — Senhorita...? — pergunta.

— Ana Steele — respondo.

— Obrigado, Srta. Steele. — E desaparece.

— Procurei na internet por fotos suas com outras mulheres, e não existe nenhuma. É por isso que Kate achava que você era gay.

Christian contrai a boca num sorriso.

— Isso explica a pergunta indecorosa. Não, eu não saio com qualquer uma, Anastasia, só com você. Mas você sabe disso. — Seus olhos ardem de sinceridade.

— Então, você nunca saiu com as suas... — olho nervosa ao redor, para me certificar de que ninguém pode nos ouvir — submissas?

— Às vezes. Mas nunca para um encontro. Pra fazer compras, você sabe — ele dá de ombros, os olhos fixos nos meus.

Ah, então é tudo restrito ao seu quarto de jogos — o Quarto Vermelho da Dor — e ao apartamento dele. Não sei o que pensar a respeito disso.

— Só você, Anastasia — sussurra ele.

Eu coro e encaro meus próprios dedos. À sua maneira, ele se preocupa comigo.

— Seu amigo parece mais um cara de paisagens do que de retratos. Vamos dar uma olhada. — Ele estende a mão, e eu a seguro.

Caminhamos diante de mais algumas fotos, e percebo um casal acenando para mim, com um largo sorriso de quem acaba de me reconhecer. Deve ser porque estou com Christian. Um rapaz, no entanto, encara-me descaradamente. Que estranho.

Entramos na sala seguinte, e eu entendo o porquê dos olhares esquisitos. Na parede oposta a nós vejo sete retratos enormes. Meus.

Encaro as imagens, estupefata, o sangue descendo todo do meu rosto até o pé. Lá estou: fazendo beicinho, rindo, fazendo cara feia, séria, compenetrada. Tudo em super close-up, tudo em preto e branco.

Puta merda! Lembro-me de José brincando com a câmera em algumas das vezes em que me visitou e quando trabalhei com ele como motorista e assistente de fotógrafo. Ele tirou umas fotos, ou assim eu pensava. Não estes retratos invasivos.

Arrisco uma olhadela para Christian, que está encarando, paralisado, as imagens, uma de cada vez.

— Parece que não sou o único — resmunga, enigmático, a boca franzindo-se rispidamente.

Acho que está com raiva.

— Com licença — diz ele, fitando-me por um momento com seu olhar cinzento e reluzente. Ele se vira e segue até a recepção.

Qual é o problema agora? Hipnotizada, eu o observo conversar animadamente com a Srta. Cabelinho Curto e Batom Vermelho. Ele abre a carteira e puxa o cartão de crédito.

Merda. Deve ter comprado um dos quadros.

— Oi? Você é a musa. Estas fotos estão fantásticas. — Levo um susto ao ser abordada por um rapaz com uma mecha de cabelo louro e brilhoso. Sinto um toque em meu cotovelo e percebo que Christian está de volta. — Você é um cara de sorte. — O Sr. Cabelo Louro dá uma risadinha para Christian, que lhe devolve um olhar gelado.

— É o que sou — resmunga ele, sombrio, ao me puxar para um canto.

— Você acabou de comprar uma das fotos?

— Uma das fotos? — bufa ele, sem tirar os olhos das imagens.

— Você comprou mais de uma?

Ele revira os olhos.

— Comprei todas, Anastasia. Não quero estranho nenhum cobiçando você na privacidade de sua casa.

Minha primeira reação é rir.

— E você prefere que seja você? — zombo.

Ele me encara, surpreendido por minha ousadia, acho, mas contendo o riso.

— Pra falar a verdade, sim.

— Pervertido — gesticulo com a boca para ele e mordo o lábio inferior para conter um sorriso.

Ele fica boquiaberto, e, agora, seu divertimento é óbvio. Então, acaricia o queixo, pensativo.

— Taí algo que não posso negar, Anastasia. — Ele balança a cabeça, e seu olhar se suaviza com um toque de humor.

— Eu poderia desenvolver mais o assunto, mas assinei um termo de confidencialidade.

Ele suspira, olhando para mim com seus olhos escuros.

— As coisas que eu gostaria de fazer com essa sua boca atrevida... — murmura.

Suspiro, sei muito bem o que ele quer dizer.

— Que grosseria. — Tento parecer chocada, e consigo. Será que ele não tem limites?

Ele ri para mim, divertindo-se, e, em seguida, franze a testa.

— Você parece muito descontraída nessas fotografias, Anastasia. Normalmente não vejo você assim.