O quê? Uau! Isso é o que eu chamo de desviar o foco da conversa — de brincalhão a sério num instante.
Fico vermelha e olho minhas mãos. Ele inclina a cabeça para trás, e eu inspiro profundamente ao sentir o contato de seus longos dedos.
— Queria que você se sentisse descontraída desse jeito quando está comigo — sussurra. Todo resquício de humor se foi.
Dentro de mim aquela sensação de alegria se agita novamente. Como pode? Temos tantos problemas.
— Você precisa parar de me intimidar se é isso que quer — rebato.
— E você precisa aprender a se comunicar e a me dizer como se sente — revida ele, os olhos brilhando.
Respiro fundo.
— Christian, você queria que eu fosse uma das suas submissas. É aí que está o problema. Na própria definição de submissa, que você chegou até a me mandar por e-mail uma vez — fiz uma pausa, tentando lembrar as palavras exatas —, acho que os sinônimos eram, abre aspas: dócil, agradável, passiva, dominável, paciente, amável, inofensiva, subjugada. Eu não podia olhar pra você. Não podia falar, a menos que você me desse permissão. O que você espera? — resmungo para ele.
Ele pisca e franze ainda mais a testa à medida que continuo.
— É muito confuso estar com você. Você não aceita que eu o desafie, mas você gosta do meu atrevimento. Você quer obediência, exceto quando não quer, para que possa me punir. Eu simplesmente não sei como me portar quando estou com você.
Ele aperta os olhos.
— Boa resposta, como sempre, Srta. Steele — sua voz está gélida. — Venha, vamos comer.
— Mas nós chegamos há meia hora.
— Você já viu as fotos e já falou com seu amiguinho.
— O nome dele é José.
— Você já falou com José, o sujeito que, na última vez em que o vi, estava tentando enfiar a língua em sua boca hesitante enquanto você caía de bêbada e passava mal — rosna ele.
— Ele nunca me bateu — revido.
Christian fecha a cara para mim, a fúria emanando de cada poro.
— Golpe baixo, Anastasia — sussurra, ameaçadoramente.
Fico pálida, Christian passa as mãos pelos cabelos, arrepiando-se de raiva mal contida. Fito seus olhos.
— Vou levar você para comer alguma coisa. Você está prestes a desaparecer na minha frente. Ande, vá se despedir daquele garoto.
— Por favor, não podemos ficar um pouco mais?
— Não. Vá se despedir dele. Agora.
Eu o encaro, o sangue fervendo. Maldito Senhor Maníaco por Controle. Raiva é bom. Raiva é melhor do que lágrimas.
Afasto os olhos dele e dou uma olhada ao redor, à procura de José. Ele está conversando com um grupo de jovens mulheres. Saio pisando duro, aproximando-me dele e afastando-me do meu Cinquenta Tons. Só porque me trouxe aqui, sou obrigada a fazer o que ele quer? Quem ele pensa que é?
As meninas estão atentas a cada palavra de José. Uma delas se assusta ao me ver. Sem dúvida, me reconheceu dos retratos.
— José.
— Ana. Com licença, meninas — ele sorri para elas e passa o braço ao meu redor. De certa forma, fico feliz: o José dando uma de galã, impressionando as mulheres.
— Você parece nervosa — diz ele.
— Tenho que ir — murmuro, obstinada.
— Mas você acabou de chegar.
— Eu sei, mas Christian precisa voltar. As fotos estão lindas, José. Você é muito bom.
Ele sorri.
— Foi muito bom ver você.
José vira meu corpo e me aperta num longo abraço, de forma que consigo ver Christian do outro lado da galeria. Está de cara feia, e percebo que é porque estou nos braços de José. Então, num movimento bastante calculista, passo as mãos ao redor de sua nuca. Acho que Christian está prestes a ter um ataque. Seu olhar torna-se tenebroso, e, lentamente, ele caminha até nós.
— Obrigada por me falar das fotos — murmuro.
— Merda. Foi mal, Ana. Eu devia ter avisado. Você gostou?
— Hum... Não sei — respondo com sinceridade, momentaneamente surpreendida pela pergunta.
— Bem, foram todas vendidas, então alguém gostou. Não é legal? Você é praticamente uma modelo — ele me aperta ainda mais à medida que Christian chega, de cara feia, embora, por sorte, José não possa vê-lo.
Ele me solta.
— Vê se não desaparece, Ana. Ah, Sr. Grey, boa noite.
— Sr. Rodriguez, muito impressionante — Christian soa friamente educado. — Uma pena que nós precisemos voltar para Seattle. Anastasia? — ele salienta sutilmente o nós ao pegar na minha mão.
— Tchau, José. Parabéns de novo. — Dou-lhe um beijo rápido na bochecha, e, antes que eu perceba, Christian me arrasta para fora do prédio. Sei que ele está fervendo de raiva silenciosa, mas eu também.
Ele olha rapidamente para um lado e para o outro da rua, então vai para a esquerda e, de repente, puxa-me para um beco, empurrando-me com força contra a parede. Segura meu rosto entre as mãos, forçando-me a encarar seus determinados olhos em chamas.
Eu suspiro, sua boca investe rapidamente contra a minha. Está me beijando, violentamente. Nossos dentes se batem por um instante, em seguida, sua língua está dentro de minha boca.
O desejo explode dentro de mim feito fogos de artifício, e eu o beijo de volta com o mesmo fervor, passando as mãos por entre seus cabelos, puxando-os com força. Ele geme, um som baixo e sexy que vem do fundo de sua garganta e reverbera em mim. As mãos dele movem-se por meu corpo até o alto de minha coxa, os dedos cravando a carne através do vestido ameixa.
Derramo toda a angústia e todo o sofrimento dos últimos dias nesse beijo, atando-o a mim, até que me dou conta — no meio daquele momento de paixão cega — que ele está fazendo o mesmo, ele sente o mesmo que eu.
Ele interrompe o beijo, ofegante. Seus olhos estão inundados de desejo, o que desperta o já aquecido sangue que corre em meu corpo. Minha boca está entreaberta, e tento levar um pouco de ar para meus pulmões.
— Você. É. Minha — rosna, enfatizando cada palavra. Ele se afasta de mim e se agacha, mantendo as mãos nos joelhos como se tivesse acabado de correr uma maratona. — Pelo amor de Deus, Ana.
Eu me recosto contra a parede, ofegante, tentando controlar a desordem que toma conta de meu corpo, tentando encontrar meu ponto de equilíbrio de novo.
— Sinto muito — sussurro assim que recupero o fôlego.
— Acho bom. Eu sei o que você estava fazendo. Você quer aquele fotógrafo, Anastasia? Ele obviamente sente algo por você.
Fico vermelha e nego com a cabeça.
— Não. Ele é só um amigo.
— Passei toda a minha vida adulta tentando evitar emoções extremas. Mas você... você desperta sentimentos em mim que me são completamente desconhecidos. É muito... — ele franze a testa, procurando a palavra certa. — Perturbador.
Ele se levanta.
— Eu gosto de ter controle, Ana, mas com você isso... — seu olhar é intenso — desaparece... — Ele acena vagamente com a mão, passa os dedos por entre os cabelos e respira fundo.
Por fim, ele segura minha mão:
— Venha, nós precisamos conversar, e você precisa comer.