— Eu, hã... vejo você lá dentro — murmura José, mas ambos o ignoramos, e ele volta para o bar com o rabo entre as pernas. Estou sozinha com Grey. Puta que pariu. O que devo dizer a ele? Pedir desculpas pelo telefonema.
— Desculpe — digo baixinho, olhando para o lenço, que torço furiosamente entre os dedos.
É muito macio.
— Por que está pedindo desculpas, Anastasia?
Droga! Ele quer a porra de um reconhecimento.
— Pelo telefonema, principalmente. Por vomitar. Ah, a lista não tem fim — murmuro, sentindo que estou corando.
Por favor, por favor, posso morrer agora?
— Todos já passamos por isso. Talvez não de forma tão dramática quanto você — diz ele secamente. — Tem a ver com conhecer os seus limites, Anastasia. Na verdade, sou favorável a ultrapassar os limites, mas realmente isso é intolerável. Você tem esse tipo de comportamento habitualmente?
Minha cabeça zumbe com o excesso de álcool e de irritação. Que diabo isso tem a ver com ele? Eu não o convidei para vir aqui. Ele parece um homem de meia-idade me repreendendo como se eu fosse uma criança insolente. Parte de mim quer dizer que se eu quiser tomar um porre assim toda noite, a decisão é minha e ele não tem nada a ver com isso. Mas não sou corajosa o bastante. Não agora que vomitei na frente dele. Por que ele continua parado ali?
— Não — digo arrependida. — Eu nunca tinha tomado um porre antes, e não tenho a mínima vontade de fazer isso de novo.
Simplesmente não entendo por que ele está aqui. Começo a me sentir fraca. Ele percebe a minha tonteira e me agarra antes que eu caia, e me abraça para me levantar, segurando-me junto ao peito como se eu fosse uma criança.
— Vamos, vou levar você para casa — murmura ele.
— Preciso avisar a Kate. — Estou nos braços dele de novo.
— Meu irmão pode avisar a ela.
— O quê?
— Meu irmão, Elliot, está falando com a Srta. Kavanagh.
— Hã? — Não entendo.
— Ele estava comigo quando você ligou.
— Em Seattle? — Estou confusa.
— Não, estou hospedado no Heathman.
Ainda? Por quê?
— Como me encontrou?
— Rastreei o seu telefone celular, Anastasia.
Ah, claro que rastreou. Como isso é possível? É legal? Espião, murmura meu inconsciente através da nuvem de tequila que ainda flutua no meu cérebro, mas, de alguma forma, por ser ele, eu não me importo.
— Você veio com jaqueta ou bolsa?
— Hã... sim. Vim com as duas coisas. Christian, por favor, preciso avisar a Kate. Ela vai ficar preocupada.
Sua boca se contrai e ele suspira forte.
— Se é necessário.
Ele me solta e, pegando a minha mão, me conduz para dentro do bar. Sinto-me fraca, ainda bêbada, envergonhada, exausta, mortificada, e, em algum nível estranho, absolutamente elétrica. Ele está apertando a minha mão — que leque confuso de emoções. Vou precisar de pelo menos uma semana para assimilar tudo isso.
O bar está barulhento, lotado e, como a música começou a tocar, tem uma multidão na pista de dança. Kate não está na mesa, e José desapareceu. Levi parece perdido e abandonado.
— Cadê a Kate? — grito para Levi mais alto que a barulheira. Minha cabeça começa a latejar no ritmo das batidas da música.
— Dançando — grita Levi, e posso dizer que ele está furioso.
Ele olha desconfiado para Christian. Visto a jaqueta preta e passo a alça da minha bolsinha a tiracolo pela cabeça, e ela fica na altura dos meus quadris. Estou pronta para ir, depois que encontrar Kate.
Encosto no braço de Christian e me estico para gritar em seu ouvido:
— Ela está na pista de dança — meu nariz roça o cabelo dele, e sinto o seu cheiro de limpeza. Todos os sentimentos proibidos e desconhecidos que tentei afastar vêm à tona e correm desordenadamente pelo meu corpo esgotado. Enrubesço e bem, bem lá no fundo de mim, meus músculos se contraem deliciosamente.
Ele revira os olhos, torna a pegar minha mão e me conduz para o bar. Imediatamente é atendido. Ninguém deixa o Sr. Maníaco por Controle Grey esperando. Será que tudo é sempre tão fácil para ele? Não consigo ouvir o que ele pede. Ele me entrega um copo bem grande de água com gelo.
— Beba. — Ele grita essa ordem para mim.
O movimento das luzes segue o ritmo da música, lançando no bar e na clientela uma iluminação colorida estranha, alternada com sombras. Christian está ora verde, ora azul, ora branco, ora num tom vermelho demoníaco. Ele me observa atentamente. Dou um gole hesitante.
— Beba tudo — grita.
Ele é muito autoritário. Passa a mão pelo cabelo revolto. Parece frustrado, irritado. Qual é o problema desse cara? Além do fato de uma garota boba de porre ligar para ele no meio da noite e ele achar que ela precisa ser acudida. E no fim ainda precisa se livrar do amigo excessivamente amoroso dela. Depois, vê-la passar muito mal aos seus pés. Ah, Ana... você algum dia vai esquecer isso? Meu inconsciente me encara furioso por cima dos óculos de leitura. Cambaleio um pouco, e Grey põe a mão no meu ombro para me equilibrar. Obedeço e bebo tudo, o que faz meu estômago embrulhar. Pegando o copo da minha mão, ele o coloca no bar. Reparo nebulosamente em como está vestido: camisa de linho branca folgada, calça jeans justa, tênis All Star preto e um paletó escuro de risca de giz. A camisa está desabotoada no colarinho, e dá para ver uns pelos esparsos na abertura. Em meu estado de espírito meio grogue, Christian Grey parece apetitoso.
Ele torna a pegar minha mão. Que droga, está me levando para a pista de dança. Merda. Eu não danço. Ele pode sentir minha relutância, e, embaixo das luzes coloridas, vejo seu sorriso divertido e sarcástico. Ele dá um puxão firme na minha mão, e estou de novo em seus braços, e ele começa a se movimentar, conduzindo-me. Caramba, ele sabe dançar, e eu não consigo acreditar que o estou seguindo passo a passo. Talvez seja pelo fato de estar bêbada que eu consiga acompanhar. Ele está me segurando colada a si, o corpo contra o meu... se não estivesse me apertando tanto, tenho certeza de que eu iria desmaiar a seus pés. Lá do meu íntimo, lembro o aviso que minha mãe sempre me dá: Nunca confie em um homem que saiba dançar.
Ele avança comigo até o outro extremo da pista de dança repleta de gente, e nos aproximamos de Kate e Elliot, o irmão de Christian. A música está martelando, barulhenta, retumbando fora e dentro da minha cabeça. Ah, não. Kate está dançando daquele jeito. Está se rebolando toda, e só faz isso quando está a fim de alguém. Isso significa que amanhã seremos três no café da manhã. Kate!
Christian se estica e grita no ouvido de Elliot. Não consigo ouvir o que ele diz. Elliot é alto e tem ombros largos, cabelo louro encaracolado e olhos claros com um brilho malicioso. Não dá para ver a cor deles naquele calor pulsante das luzes piscando. Elliot ri e puxa Kate para seus braços, onde ela parece felicíssima de estar... Kate! Mesmo com a minha embriaguez fico chocada. Ela acabou de conhecê-lo. Confirma com a cabeça o que quer que Elliot tenha dito, ri para mim e acena. Christian nos leva para fora da pista de dança num passo rápido.