— Srta. Steele, poderia aguardar aqui, por favor? — diz, apontando para uma área de espera com cadeiras de couro brancas.
Atrás das cadeiras brancas, há uma ampla sala de reuniões com paredes de vidro e uma mesa igualmente ampla de madeira escura que tem ao redor pelo menos vinte cadeiras iguais. Além da mesa, há uma janela que vai do piso ao teto com vista para a cidade de Seattle. É uma paisagem incrível, e fico momentaneamente paralisada com a visão. Uau!
Sento-me, pesco as perguntas na mochila e as leio, xingando Kate mentalmente por não ter me fornecido uma breve biografia. Não sei nada sobre o homem que estou prestes a entrevistar. Ele poderia ter noventa anos ou trinta. A incerteza é mortificante, e fico de novo com os nervos à flor da pele, o que me deixa agitada. Nunca me senti à vontade com entrevistas cara a cara, prefiro o anonimato de uma discussão em grupo onde posso me sentar sem ser notada no fundo da sala. Para ser franca, gosto mesmo é de ficar sozinha, lendo um romance inglês clássico, encolhida numa cadeira na biblioteca do campus. Não toda contraída de nervoso sentada num prédio colossal de vidro e pedra.
Reviro os olhos para mim mesma. Controle-se, Steele. A julgar pelo prédio, que é asséptico e moderno demais, acho que Grey está na faixa dos quarenta anos: forte, bronzeado e com cabelo claro, para combinar com seus funcionários.
Outra loura elegante e bem-vestida sai de uma grande porta à direita. Qual é a de todas essas louras impecáveis? Parece a reunião das mulheres perfeitas. Respiro fundo e me levanto.
— Srta. Steele? — a última loura me chama.
— Sim — grasno, e pigarreio. — Sim. — Pronto, esse soa mais seguro.
— O Sr. Grey já vai receber a senhorita. Posso guardar sua jaqueta?
— Ah, por favor. — Tiro a jaqueta com dificuldade.
— Já lhe ofereceram algo para beber?
— Hum, não. — Ai meu Deus, será que a Loura Número Dois está ferrada?
A Loura Número Três fecha a cara e olha para a jovem à mesa.
— Gostaria de chá, café, água? — pergunta, voltando novamente a atenção para mim.
— Um copo d’água. Obrigada — murmuro.
— Olivia, vá buscar um copo d’água para a Srta. Steele, por favor.
Sua voz é severa. Olivia se levanta depressa e corre para uma porta do outro lado do saguão.
— Peço desculpas, Srta. Steele, Olivia é nossa nova estagiária. Sente-se, por favor. O Sr. Grey a atenderá em cinco minutos.
Olivia volta com um copo de água com gelo.
— Aqui está, Srta. Steele.
— Obrigada.
A Loura Número Três marcha até a grande mesa, o clique dos saltos no chão de arenito ecoando no ambiente. Ela se senta e ambas continuam seu trabalho.
Vai ver o Sr. Grey insiste em só ter funcionárias louras. Estou me perguntando se isso não é ilegal quando a porta do escritório se abre e um negro alto, bem-vestido e atraente, com dreads curtos, sai lá de dentro. Definitivamente, escolhi a roupa errada.
Ele se volta para a porta e diz para o lado de dentro:
— Golfe esta semana, Grey?
Não escuto a resposta. Ele se vira, me vê e sorri, os olhos escuros franzindo nos cantos. Olivia já se levantou e chamou o elevador. Ela parece ser especialista em se levantar de um pulo. Está mais nervosa que eu!
— Boa tarde, senhoras — diz ele ao entrar no elevador.
— O Sr. Grey vai recebê-la agora, Srta. Steele. Pode entrar — diz a Loura Número Três.
Estou imóvel e bastante trêmula, tentando controlar os nervos. Pego a mochila, abandono o copo d’água e me encaminho para a porta entreaberta.
— Não precisa bater, basta entrar. — Ela sorri com simpatia.
Empurro a porta, tropeço em meus próprios pés e caio estatelada no escritório.
Merda: eu e meus dois pés esquerdos! Caio de quatro no vão da porta da sala do Sr. Grey e mãos delicadas me envolvem, ajudando-me a levantar. Que vergonha, maldita falta de jeito! Tenho que me armar de coragem para erguer os olhos. Caramba... ele é muito jovem.
— Srta. Kavanagh. — Ele estende uma mão de dedos longos quando já estou de pé. — Sou Christian Grey. A senhorita está bem? Gostaria de se sentar?
Muito jovem. E atraente, muito atraente. É alto, está vestindo um belo terno cinza, camisa branca e gravata preta, tem o cabelo revolto acobreado e olhos cinzentos vivos que me olham com astúcia. Custo um pouco a conseguir falar.
— Hum. Na verdade... — murmuro.
Se esse cara tiver mais de trinta anos, eu sou um mico de circo. Aturdida, coloco minha mão na dele e nos cumprimentamos. Quando nossos dedos se tocam, sinto um arrepio excitante me percorrer. Retiro a mão rapidamente, envergonhada. Deve ser eletricidade estática. Pisco depressa, no ritmo da minha pulsação.
— A Srta. Kavanagh está indisposta, e me mandou no lugar dela. Espero que não se importe, Sr. Grey.
— E seu nome é?
A voz dele é quente, possivelmente está achando divertido, mas é difícil dizer por sua expressão impassível. Ele parece um pouco interessado, mas acima de tudo educado.
— Anastasia Steele. Estudo Literatura Inglesa com Kate, hum, Katherine... hum... a Srta. Kavanagh, na WSU em Vancouver.
— Entendi — diz ele simplesmente.
Acho que vejo a sombra de um sorriso em sua expressão, mas não tenho certeza.
— Quer se sentar?
Ele me indica um sofá em L de couro branco.
A sala é grande demais para uma pessoa só. Na frente dos janelões que vão do piso ao teto, há uma enorme mesa moderna de madeira escura, ao redor da qual seis pessoas poderiam comer confortavelmente. Ela combina com a mesinha de apoio ao lado do sofá. Todo o resto é branco — teto, chão e paredes —, a não ser a parede ao lado da porta, onde há um mosaico formado por pequenas pinturas, trinta e seis quadrinhos compondo um quadrado. São excepcionais: uma série de objetos corriqueiros pintados com detalhes tão precisos que parecem fotografias. Dispostos juntos, são de tirar o fôlego.
— Um artista local. Trouton — diz Grey ao cruzar com o meu olhar.
— São lindos. Tornam extraordinário um objeto comum — murmuro, distraída com ele e com os quadros. Ele inclina a cabeça e me olha com atenção.
— Concordo plenamente, Srta. Steele — retruca em voz baixa e, por alguma razão inexplicável, me flagro corando.
À parte os quadros, o restante da sala é frio, limpo e asséptico. Pergunto-me se reflete a personalidade do Adônis que afunda graciosamente numa das poltronas brancas de couro à minha frente. Balanço a cabeça, perturbada com o rumo dos meus pensamentos, e retiro as perguntas de Kate da mochila. Em seguida, configuro o gravador digital canhestramente, deixando-o cair duas vezes na mesa de centro diante de mim. O Sr. Grey não diz nada, aguardando com paciência — espero — enquanto fico cada vez mais sem jeito e nervosa. Quando arranjo coragem para olhar para ele, ele está me observando, uma das mãos relaxadas no colo e a outra segurando o queixo, passando o esguio dedo médio nos lábios. Acho que está tentando conter um sorriso.
— Desculpe — gaguejo. — Não estou acostumada com isso.
— Não tenha pressa, Srta. Steele — diz ele.
— O senhor se incomoda se eu gravar a entrevista?
— Depois de todo esse esforço para configurar o gravador, é agora que me pergunta?
Enrubesço. Ele está me provocando? Acho que sim. Pisco para ele, sem saber bem o que dizer, e acho que ele fica com pena de mim, porque cede.
— Não, não me importo.
— Kate, quer dizer, a Srta. Kavanagh, explicou-lhe para o que era a entrevista?
— Sim. Para sair na edição de formatura do jornal da faculdade, já que eu vou entregar os diplomas na cerimônia de graduação deste ano.
Ah! Isso é novidade para mim, e fico temporariamente preocupada com a ideia de que uma pessoa não muito mais velha que eu — ok, talvez mais ou menos uns seis anos mais velha, e ok, muitíssimo bem-sucedida, mas mesmo assim — vai entregar meu diploma. Franzo a testa, direcionando a minha atenção rebelde para a tarefa em questão.