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— Ótimo. — Engulo em seco. — Tenho algumas perguntas, Sr. Grey. — Coloco uma mecha de cabelo desgarrada atrás da orelha.

— Achei que poderia ter — diz ele, inexpressivo.

Está debochando de mim. Minhas bochechas ficam vermelhas e eu me empertigo na cadeira, esticando as costas para parecer mais alta e mais intimidadora. Apertando o botão do gravador, tento parecer profissional.

— O senhor é muito jovem para ter construído um império deste porte. A que deve seu sucesso?

Olho para ele. Seu sorriso é enternecedor, mas ele parece vagamente desapontado.

— Os negócios têm a ver com pessoas, Srta. Steele, e sou muito bom em avaliar pessoas. Sei como elas funcionam, o que as faz florescer, o que não faz, o que as inspira e como incentivá-las. Emprego uma equipe excepcional, e recompenso-a bem. — Ele faz uma pausa e me fita com aqueles olhos cinzentos. — Acredito que, para alcançar o sucesso em qualquer projeto, é preciso dominá-lo, entendê-lo por completo, conhecer cada detalhe. Trabalho muito para isso. Tomo decisões com base na lógica e nos fatos. Tenho um instinto natural capaz de detectar e promover uma boa ideia, e boas pessoas. No fim, o fator preponderante sempre se resume a pessoas competentes.

— Quem sabe o senhor simplesmente tenha sorte.

Isso não está na lista de Kate, mas ele é muito arrogante. Uma expressão de surpresa brilha rapidamente em seus olhos.

— Não acredito em sorte ou acaso, Srta. Steele. Quanto mais eu trabalho, mais sorte pareço ter. A questão é realmente contar com as pessoas certas em sua equipe e saber direcionar a energia delas. Acho que foi Harvey Firestone que disse: “O crescimento e o desenvolvimento das pessoas é a maior ambição da liderança.”

— O senhor fala como um maníaco por controle. — As palavras saem de minha boca antes que eu possa impedi-las.

— Ah, eu controlo tudo, Srta. Steele — diz ele sem nenhum vestígio de humor no sorriso.

Olho para ele, e ele sustenta meu olhar, impassível. Meu coração bate mais depressa, e meu rosto torna a corar.

Por que ele me deixa tão nervosa? Será pela impressionante aparência física? Pelo olhar inflamado que dirige a mim? Pelo jeito de passar o dedo no lábio inferior? Queria que ele parasse de fazer isso.

— Além do mais, é possível conquistar um imenso poder quando nos convencemos, em nossos devaneios mais secretos, de que nascemos para controlar — prossegue ele, com a voz macia.

— Acha que possui um imenso poder? — Maníaco por controle.

— Emprego mais de quarenta mil pessoas, Srta. Steele. Isso me dá certo senso de responsabilidade, ou poder, se quiser chamar assim. Se eu resolvesse não me interessar mais por telecomunicações e vendesse minha empresa, em um mês, mais ou menos, vinte mil pessoas teriam dificuldade para pagar suas hipotecas.

Meu queixo cai. Estou estarrecida com sua falta de humildade.

— O senhor não tem uma diretoria à qual precise responder? — pergunto, enojada.

— A empresa é minha. Não tenho que responder a uma diretoria. — Ele ergue uma sobrancelha para mim.

É claro que eu saberia disso se tivesse feito alguma pesquisa. Mas, cacete, ele é muito arrogante. Mudo de enfoque.

— E tem algum interesse fora o trabalho?

— Tenho interesses variados, Srta. Steele. — A sombra de um sorriso toca seus lábios. — Muito variados.

E, por alguma razão, fico confusa e excitada com seu olhar constante. Seus olhos estão iluminados com algum pensamento perverso.

— Mas se trabalha tanto, o que faz para relaxar?

— Relaxar? — Ele sorri, revelando dentes brancos perfeitos. Prendo a respiração. Ele é mesmo bonito. Ninguém devia ser tão atraente. — Bem, para “relaxar” como você diz, eu velejo, voo, me entrego a várias atividades físicas. — Ele se mexe na cadeira. — Sou um homem muito rico, Srta. Steele, e tenho hobbies caros e apaixonantes.

Dou uma rápida olhada nas perguntas de Kate, desejando mudar de assunto.

— O senhor investe no setor manufatureiro. Por que, especificamente? — pergunto. Por que ele me deixa tão desconfortável?

— Gosto de construir coisas. Gosto de saber como funcionam: o que faz com que funcionem, como construí-las e desconstruí-las. E tenho adoração por navios. O que mais posso dizer?

— Parece que é o seu coração falando e não a lógica e os fatos.

Ele repuxa o canto da boca, e me avalia com o olhar.

— É possível. Embora muitas pessoas digam que eu não tenho coração.

— Por que diriam isso?

— Porque me conhecem bem. — Ele dá um sorriso irônico.

— Seus amigos diriam que é fácil conhecê-lo? — Arrependo-me da pergunta tão logo a faço. Não está na lista de Kate.

— Sou uma pessoa muito fechada, Srta. Steele. Esforço-me muito para proteger minha privacidade. Não dou muitas entrevistas...

— Por que aceitou dar esta?

— Porque sou benemérito da universidade e, em termos práticos, não consegui me livrar da Srta. Kavanagh. Ela não parou de importunar meu pessoal de relações públicas, e eu admiro esse tipo de tenacidade.

Eu sei quão tenaz Kate pode ser. Por isso estou sentada aqui me contorcendo embaraçosamente sob o olhar penetrante deste homem, quando deveria estar estudando para as provas.

— O senhor também investe em tecnologias agrícolas. Por que se interessa por essa área?

— Não podemos comer dinheiro, Srta. Steele, e há muita gente neste planeta que não tem o que comer.

— Essa justificativa soa muito filantrópica. É algo que o torna passional? Alimentar os pobres do mundo?

Ele dá de ombros, muito evasivo.

— É um negócio inteligente — murmura, embora eu ache que está sendo pouco sincero.

Não faz sentido. Alimentar os pobres do mundo? Não vejo os benefícios financeiros disso, só a virtude do ideal. Dou uma olhada na pergunta seguinte, confusa com a atitude dele.

— O senhor tem uma filosofia? Caso tenha, qual é?

— Não tenho uma filosofia propriamente dita. Talvez alguns princípios orientadores. Como diz Carnegie: “O homem que adquire a habilidade de tomar posse completa da própria mente, pode tomar posse de qualquer coisa a que tenha direito.” Sou muito singular, ambicioso. Gosto de controlar, a mim e a quem me cerca.

— Então gosta de possuir coisas? — Você é um maníaco por controle.

— Quero merecer possuí-las, mas sim, em resumo, eu gosto.

— O senhor parece ser um consumidor voraz.

— Eu sou. — Ele sorri, mas o sorriso não alcança seus olhos.

De novo, isso não bate com alguém que quer alimentar o mundo, então não posso deixar de pensar que estamos falando de outra coisa, mas não faço a menor ideia do que seja. Engulo em seco. A temperatura da sala está subindo, ou talvez seja só a minha. Quero que a entrevista acabe. Com certeza Kate já tem material suficiente. Olho a pergunta seguinte.

— O senhor foi adotado. Até que ponto acha que isso moldou sua maneira de ser? — Nossa, isso é muito pessoal. Olho para ele, torcendo para que não tenha se ofendido. Ele tem o olhar sombrio.

— Não tenho como saber.

Meu interesse aumenta.

— Quantos anos tinha quando foi adotado?

— Isso é assunto de domínio público, Srta. Steele. — Seu tom é severo.

Droga. Sim, claro, se eu soubesse que iria fazer esta entrevista, teria pesquisado um pouco. Perturbada, prossigo depressa.

— O senhor teve que sacrificar a vida familiar por causa do trabalho.

— Isso não é uma pergunta — afirma ele, contido.

— Peço desculpas — digo, esquiva. Ele me faz parecer uma criança idiota. Tento de novo: — O senhor teve que sacrificar a vida familiar por causa do trabalho?